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The Walking Dead: O que o fim da HQ significa para a série de TV

Com 193 edições, os quadrinhos de The Walking Dead chegaram a um inesperado fim nesse dia 3 de julho de 2019. Robert Kirkman pegou todos de surpresa com o desfecho, ao trazer o final da mesma forma que retratou todas as mortes da HQ: sem aviso.

Inevitavelmente, ao nos depararmos com o fim de The Walking Dead, acabamos pensando na série de televisão da AMC: como esse final vai afetar o seriado? Não há uma resposta neste momento, é claro. De fato, é possível – até provável, sejamos honestos – que nem mesmo a emissora saiba como a franquia vai acabar.

Estamos falando, afinal, de duas obras bem diferentes. Embora a adaptação puxe diversos elementos dos quadrinhos originais, há mudanças o suficiente para garantir um rumo completamente distinto para a série de TV.

Mas antes de olhar para algumas dessas mudanças que a AMC fez, vamos dar uma olhada na versão “resumida” do fim dos quadrinhos de The Walking Dead.

SPOILERS a seguir, obviamente.

O fim dos quadrinhos

A edição final começa com um salto no tempo . Carl e Sophia estão vivendo em uma fazenda. Os dois criam uma menina de 6 anos, chamada Andrea.

Parece que se passaram 10 anos desde a morte de Rick em The Walking Dead #192 e que não existe uma cura para os zumbis. Mesmo assim, eles não parecem ser uma grande ameaça. A civilização parece restaurada.

O principal conflito da edição começa quando Carl mata um zumbi que pertence a Hershel, filho de Maggie e Glenn. O personagem viaja pelo país usando os mortos-vivos como atração de entretenimento. Ao mesmo tempo, Maggie se tornou a presidente.

Carl acaba tendo problemas com a justiça, uma vez que o zumbi de Hershel é “propriedade privada”. Após matar outros mortos-vivos do personagem, o filho de Rick Grimes se justifica, lembrando o que todos passaram para sobreviverem.

A juíza, que é Michonne, concorda. Ela ainda afirma que as pessoas devem parar de usar zumbis como um meio de lucro.

A série em quadrinhos termina com Carl contando um história para a filha sobre Rick. Nela, o personagem explica como o seu pai salvou o mundo e restaurou a civilização.

Dito isso, vamos mergulhar nas mudanças realizadas pela série de televisão.

Universo paralelo

Logo para começo de conversa, The Walking Dead introduziu um elemento completamente inédito na série de televisão: Daryl Dixon. O personagem favorito de uma legião de fãs não existe nos quadrinhos, o que invariavelmente já muda a história completamente, afinal, qual papel Daryl terá em um futuro utópico? Ele conseguirá sobreviver em uma ‘sociedade’ novamente? Ou será como aqueles soldados que retornam da guerra e acabam sentindo falta dela?

Há quem argumente que Daryl pode preencher o lugar de Rick na série de televisão. Afinal, o xerife saiu da série na nona temporada e vai protagonizar uma trilogia de filmes produzidos pela AMC. Mas Daryl simplesmente não é um líder como Rick. Ele não inspira as pessoas ao seu redor e trabalha melhor sozinho. Não há como enxergar um desfecho em que ele seja o grande herói por trás da nova Era da civilização.

Carl é outro que não pode cumprir esse papel na série, visto que o personagem foi morto de forma bastante controversa na oitava temporada de The Walking Dead, o que, obviamente, já muda completamente o final da série em relação aos quadrinhos. Não há um futuro em que Carl conta a história de seu pai para sua filha com Sofia (que também morreu no seriado, lá na longínqua segunda temporada). Ele pode ser substituído por Judith, claro, mas não há como dizer o rumo que a garota vai tomar, afinal, a conhecemos há muito pouco tempo.

Na série também provavelmente não veremos Michonne como juíza, pelo simples fato de já ter sido anunciado que Danai Gurira sairá da série na décima temporada. Não bastasse isso, estamos falando de duas personagens essencialmente diferentes nos quadrinhos e na televisão, o que inclui, claro, seus relacionamentos amorosos em ambas as histórias.

Negan é outro que deve ter um destino diferente. Ele sobreviveu nos quadrinhos, como Robert Kirkman deixou claro em suas considerações finais: “Negan vive”, escreveu o roteirista. O que Negan dos quadrinhos não tem em comum com a versão vivida por Jeffrey Dean Morgan é o luto pela morte de Carl. Já na oitava temporada da série vimos algo mudar no personagem e essa mudança vai se tornando mais evidente na nona.

Com Rick fora do cenário, é bem possível que Negan assuma o papel de liderança, embora isso possa demorar um bom tempo – afinal, ele foi o grande vilão há não muito tempo. É preciso de um certo tempo até que todos o aceitem novamente. Assim sendo, dificilmente veremos um fim similar com Negan em comando. Ele pode não ser o sádico vilão que conhecemos há alguns anos, mas ele também não é Rick.

O show deve continuar

Mas há inúmeros fatores externos à trama da série principal de The Walking Dead que apontam um desfecho diferente dos quadrinhos.

Como já deixou bem claro, a AMC investe pesado na franquia. Fear The Walking Dead está aí, uma história completamente original, que ainda deve render algumas temporadas. Além disso, um novo spin-off em forma de seriado está a caminho. Esse acompanha a ‘nova geração’ de sobreviventes, portanto, é de se esperar que o mundo não seja um lugar melhor em apenas dez anos, como foi o caso dos quadrinhos.

Os próprios filmes de Rick devem se distanciar consideravelmente das HQs de Robert Kirkman. É provável que eles mostrem a comunidade conhecida como Commonwealth, mas é improvável que Grimes morra da mesma forma que nos quadrinhos – afinal, seu trágico fim teve o propósito claro de acabar com a história, dando início a um mundo melhor e isso não deve ocorrer na versão da AMC.

Por fim, há um elemento importante a ser considerado: o dinheiro. Embora muitos já estejam cansados da série, dizendo que ela “já deu o que tinha que dar”, The Walking Dead continua sendo uma das maiores audiências da televisão à cabo americana (falando de séries de drama). Ela é uma fonte de renda considerável para o canal e é responsável por pagar por outras produções menores ou mais arriscadas da emissora.

Mad Men é um bom exemplo disso, a série basicamente se manteve no ar em razão de sua aclamação crítica e por ser bastante premiada. Ainda é uma das melhores séries já feitas, mas não justificava sua existência se olharmos exclusivamente para sua audiência. São produções populares, como The Walking Dead (que veio pouco depois, mas existiu paralelamente a Mad Men por um tempo) que permitem o canal a investir em obras de cunho mais autoral.

Assim sendo, não só é provável que vejamos The Walking Dead no ar por mais anos e anos, como é bom que isso aconteça. Por mais que alguns estejam cansados da série e suas derivadas, ela traz lucro para a AMC, que pode, então, lançar programas como a excelente Better Call Saul, ou The Terror. Não quer dizer que TWD vai salvar tudo do cancelamento, mas dá uma folga maior para algumas queridas produções.

O jeito agora é aguardar para saber o que Angela Kang, atual showrunner da série, tem em mente para o futuro de The Walking Dead.

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