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Bingo - O Rei das Manhãs | Daniel Rezende e Vladimir Brichta falam sobre o filme inspirado em intérprete do Bozo

O ator Vladimir Brichta e o diretor Daniel Rezende falaram à impressa sobre o filme Bingo – O Rei das Manhãs, que estreia dia 24 de agosto. Foram abordados temas como: o que mais lhes fascina no filme, o que os motivou a terem feito aquela história, a inspiração na vida de Arlindo Barreto (ex-intérprete do Bozo) e a participação de Domingos Montagner.

Brichta interpreta o papel protagonista de Augusto Mendes, uma referência ao ator Arlindo Barreto. No filme, ele é filho de uma famosa ex-atriz de TV. Depois de seu personagem, Mendes, acumular sucessivos papéis em filmes B e pornochanchadas, ele agora viverá o palhaço Bingo – óbvia referência ao Bozo – e terá, no canal de televisão TVP – sempre abaixo, na disputa por audiência, da Rede Mundial -, sua primeira grande chance de ser reconhecido e ter fama pelo trabalho de ator. O filme narra sua trajetória visionária como Bingo, mas também seus erros pessoais que lhe prejudicaram carreira e vida íntima – em uma estrutura trágica e romântica, mas com uma aguda dose de comicidade.

Em sua fala, Brichta disse que três coisas o levaram a viver o papel de Mendes/Bingo: o arco da relação entre pai e filho do qual seu personagem é parte, a busca de Mendes pelo reconhecimento em seu trabalho e, por último, a aparente contradição de uma pessoa que leva a tantos felicidade e alegria – e vive mostrando-se como bem-humorada nas suas atuações, sempre – viver, em seu âmago pessoal, entre a tragédia e a depressão. “Ele também pode se afundar na tristeza, na amargura, na incompreensão de seus dilemas humanos (…) isso é humano, é de todo mundo”, citando exemplos de comediantes famosos como Robin Williams e Jim Carrey.

Outro fator que, segundo Brichta, lhe motivou a fazer Bingo – O Rei das Manhãs foi a abrangência do roteiro ao transitar entre o cômico e o trágico. O diretor Daniel Rezende tocou em algo próximo ao assunto: falou sobre fazer uma história de cunho assumidamente trágico mas cujo epicentro é a vida de um personagem cujo trabalho é dedicado à comédia e ao gênero infantil. Sobre essa dicotomia, disse que foi sempre pensado assim – como uma tragicomédia. “O paradoxo que é criar um personagem que apresenta um programa infantil, que representa pureza, alegria e ingenuidade, mas que no fundo é um ser humano – e um ser humano não é só pureza, alegria e ingenuidade (…) Você poder olhar essa na essência do ser humano essa tragédia, aquilo somos todos, representada por uma máscara de palhaço é o que torna esse filme tão especial”. Ao mesmo tempo, para Brichta este papel foi um dos que mais lhe deixou exausto, chegando a compará-lo com o ritmo ininterrupto do teatro. Contudo, segundo ele, nao era um desgate físico, mas sim “emocional”. A cabeça cansa, diz ele, com a dinâmica do set de filmagem.

Para Rezende, havia o grande desafio de sair do papel de montador (pelo qual é consagrado, tendo editado já Cidade de Deus e sido indicado ao Oscar por isso) e ir, pela primeira vez em um longa-metragem, para o papel de diretor. “Desde que comecei a sair daquele quarto escuro, com ar condicionado, quando você pode assistir ao material e xingar o diretor; para sentar naquela cadeira quente, no set de filmagem, com um monte de gente fazendo pergunta para depois ser xingado pelo montador… de cara eu decidi que eu não ia montar nenhum trabalho que eu fizesse”.

Rezende justificou isso dizendo que, por sua experiência como montador, precisava daquele olhar fresco e crítico, que pode contestar o diretor e acrescentar coisas frutíferas ao resultado final. E disse também que escolheu a história de Arlindo para fazer seu primeiro filme por muitos motivos: “primeiro, o cara que viveu muitas vidas em uma só. Segundo, você tentar entender quem é esse cara por trás da máscara. Depois, o cara que trabalha em um programa infantil, trabalha com crianças e começa a se desconectar justamente do filho. É interessante notar que o ator e o diretor, ambos, afirmaram que o fato de por vezes terem de ficar fora de casa por algum tempo devido a projetos que assinam e, assim, ficarem longe de seus filhos fez com que se comovessem com a história entre Arlindo e seu filho.

Por fim, ambos falaram sobre a participação de Domingos Montagner, que faz uma pequena ponta no filme. Ele vive um palhaço que serviria como um mentor de Mendes – já que este nunca antes de Bingo havia sido um. Nada mais justo, até porque o próprio Montagner havia começado sua carreira no picadeiro, como palhaço. Rezende disse que depois que soube da fatal notícia ficou por um mês sem conseguir assistir ao filme. Segundo ele, Domingos foi fundamental ao filme pois foi consultor e participou da sua concepção, e toda a preparação de Brichta para viver um palhaço foi feita por ele, Domingos, e seu paceiro de circo Fernando Sampaio. Brichta também nao conseguia ver o filme após a morte de Montagner, e lembrou, a exemplo de Rezende, como Domingos foi crucial para o papel de Bingo: “eu tinha um certo pudor de dizer que era um palhaço, por mais que eu pagasse as contas da vida com o humor”. Para ele, a preparação com Sampaio e Montagner foi fundamental para que desmistificasse o que era preciso para que pudesse assumir ser um palhaço. E ao final da entrevista, quando Vladimir Brichta foi perguntado se já se considerava um palhaço, não titubeou: “sou!”.

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