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Crítica | Altered Carbon - 1ª Temporada

Neste dia 02 de fevereiro, Altered Carbon estreia na Netflix trazendo consigo, um estabelecimento de conceitos já anteriormente predefinidos e contados, mas sob óticas distintas, com uma finalidade também diferente, visando atender certas prospecções em torno de sua narrativa própria e se alinhar com as prerrogativas inerentes ao escopo da série.

Baseada em algumas linhas do tempo, mas centralizada em um futuro distópico, a nova produção original da Netflix possui Joe Kinnaman como protagonista, mas eu poderia dizer que ele divide esse protagonismo com outro ator, Byron Mann. Ambos são Takeshi Kovacs. Kinnaman faz a capa do ex-emissário, que fazia parte do grupo paramilitar rebelde, muito antes do tempo presente da série. Nos flashbacks, quem o faz a maior parte do tempo é Mann.

Sei que é um pouco confuso, mas isso é só na hora da identificação, pois quando a série inicia seu protocolo de abordagem ao passado e explicações sobre quem era Takeshi antes e após o surgimento dos Matusa, um grupo de pessoas ricas e poderosas que descobriram a tecnologia da imortalidade (o nome faz referência à Matusalém, personagem bíblico que viveu por 969 anos), criando uma gigantesca desigualdade social, representada pela ambientação.

Ambientação essa que, desde os primeiros materiais de marketing que a evidenciava, faz referências a uma série de obras que difundiram visualmente o aspecto do cyberpunk, como Blade Runner, Akira, Ghost in the Shell e Matrix. O que é em comum sobre estas obras citadas e Altered Carbon também não está somente nas referências estéticas. A série da Netflix busca em seus 10 episódios fazer uma costura sobre como os sensos de moralidade e filosofia humana se transecionam perante o avanço incontrolável da tecnologia e também como o homem se adapta a ela, produzindo e criando cada vez mais ferramentas e serviços, mas seguindo claramente os ônus próprios, fazendo um recorte geral sobre a sociedade e sua disfunção enquanto igualitária.

A consciência humana pode ser transferida dentro de dispositivos, para poderem sem transplantados em novos corpos (chamados de capa), ou até mesmo em outras capas de si mesmo. A memória e idade são acompanhadas nessas mudanças, ao não ser que a pessoa, que faz um backup de segurança antes de cada mudança. A partir desse impositivo arco de tecnologia e inteligência artificial, Altered Carbon se dispõe a refletir sobre como é na verdade é essa consciência; Como de fato, a desigualdade estabelecida dita certos padrões que devem ser seguidos, gerando influências políticas, manifestando poder absoluto sobre castas inferiores, onde os sintomas podem se reverberar sem trazer consequências. Tenha  como exemplo o conflito principal da série.

Laurens Branscroft contrata a capa de Kovacs para investigar uma suposta tentativa de assassinato que sofreu. Enquanto isso, se afunila sobre como o mesmo analisa os comportamentos dos ditos grupos ricos, das oriundas insatisfações do mesmo perante à banalidade, já que a mesma é escalada por causa da imortalidade. Em paralelo, se relaciona com a policial mexicana Khristy Ortega, uma destemida oficial que se vê, logo de inicio envolvida com Takeshi de uma maneira na qual não esperava. A relevância do personagem, ou melhor, da capa que está usando para Ortega é exposta aos poucos dentro da série, que segue uma fluidez narrativa muito interessante.

E justamente os personagens que devem ser os pontos de maior esmerilho dentro de produções que retratam sociedades em beiras de colapso econômico/social. Investigar cada característica singular dá, e deu à Altered Carbon, sentido dentro do seguimento da narrativa. Quando questiona coadjuvantes e suas posições perante a cidade, parte em busca de suas agruras e sentimentos, dando coerência às razões pelo que estão ali, enfrentando seus traumas e problemas próprios, que o transformam em indivíduos singulares.

Quando o passado se forma na série, principalmente explorando a relação de Takeshi com sua irmã mais nova, que desde muito cedo enfrentam problemas, ficando sozinhos e se separando, para em algumas situações, se encontrando. E em cada encontro, percebendo que a irmandade pode ser muito forte como também apresenta fraquezas, fundadas em uma cegueira individual ou dúvidas que fazem um ou outro se sentirem presos. Kovacs possui uma continuidade em seu desenvolvimento às vezes fascinante, às vezes incubada em situações de interesse amoroso, mas nada que debite a importância de mostrar que, por mais que a capa na qual traja lhe confunda, ainda é o mesmo que sempre foi.

Não é tão simples – e Altered Carbon denota isso -, fazer julgamentos sobre o Estado atual. Sobre o precipício que separam as castas sociais da série. Primeiro se fez entender o que aconteceu para chegar até aquele resultado. Os fatores, as consequências do ininterrupto e contínuo estudo e evolução da tecnologia, principalmente em segmento militar e biológico. Afinal, representar e abordar um tema da imortalidade, sem tantos apelos religiosos e fanáticos, exige uma certa concepção do que fez com que determinada classe, detentora da tecnologia, conseguisse dominá-la, se perpetuando como dominante também de serviços, as fazendo extremamente influentes e com um poder totalizado.

Altered Carbon permite se guiar em sua primeira temporada como um vernáculo próprio; personagens e histórias, conseguindo usufruir de referências e caracterizações estéticas, se valendo por elementos técnicos sobressaltados, impondo um cauteloso e bem estruturado estudo sobre os participantes da atual sociedade, seus conflitos, contradições e oposições.

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