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Crítica | Everything Sucks! - 1ª Temporada

Uma cidade chamada Boring (entediante, na tradução direta), pode geralmente não disponibilizar de imediato sensações interessantes aos seus moradores. Um pequeno município na cidade de Oregon, principalmente com uma alta quantidade de adolescentes, pode provocar na verdade um comodismo e uma certa inércia. Mas claro que adolescentes sempre sabem como conseguirem sair do tédio e se divertirem.

Everything Sucks!, nova produção original da Netflix que estreou nessa sexta-feira (16) na plataforma de streaming, foca em um núcleo de jovens estudantes, praticantes de grupos da escola como Teatro e Cinema. O centro da história narra Luke e Kate. Luke é um jovem negro que descobre estar apaixonado por Kate. Já Kate, demonstra certa reclusão e distanciamento. Ambos possuem algo em comum: o pai de Luke deixou a família por iniciativa própria, enquanto a mãe de Kate faleceu não muito tempo, deixando um peso que, vez sim vez não, coloca a jovem moça em uma situação de pressão. Kate é filha do diretor da Escola, um homem divertido e simpático, mas que também demonstra manifestações de luto pelo falecimento de sua esposa, principalmente ao carregar a aliança dourada no dedo, como forma de manter respeito e a memória dela intacta.

No início, tudo indicaria que fosse ser somente uma produção adolescente sem adornos narrativos que exprimem um valor maior, até que a série entra em uma questão: a descoberta da sexualidade por parte de Kate, que percebe ter atração física por mulheres. É uma prorrogativa que demanda tanto uma perspectiva mais progressista quanto serve para dialogar sobre o tabu de se abrir e entender que a homossexualidade, principalmente à época que a série narra (os anos 90), ainda é tida como uma espécie de doença e contravenção moral. Esse conflito interno entre expôr sua orientação sexual ou guardá-lo para não sofrer represálias possui fatores intensificadores, especialmente após a quebra de personagem que ocorre em Emaline, uma garota mais velha, com autonomia e auto-segurança, o que acaba atraindo Kate. O contato que ocorre entre Luke, Kate e os amigos do rapaz, McQuaid e Tyler é quando um incidente ocorre no anfiteatro da escola, frustrando os estudantes mais velhos, que decidem zombar e humilhar os jovens calouros. Tudo muda quando Luke põe uma ideia de fazer um filme com eles à mesa, garantindo assim, um pouco mais de paz.

A relação de Luke com o cinema os filmes é gerada a partir de sua indireta construção narrativa com seu pai, que deixou diversas fitas cassetes na casa com discursos, em uma espécie de diário. Portanto, a inspiração de realizar um longa é nutrida a partir desse ponto, mesmo que seja um ponto ainda frágil, até porque quando Luke é surpreendido em uma ação por Kate a encontrar novamente seu pai, que o não lembra, tudo é ruído, colocando um vazio e toda uma relatividade para com as coisas no garoto. Kate e Luke possuem uma interação e diálogos interessantes, onde eles são posicionados a ponto de não somente nutrir uma amizade (paixão, para Luke), mas por se permitirem a expressar seus valores e perspectivas sobre o caso. Quando a mãe de Luke se apaixona pelo pai de Kate, isso acaba servindo não somente para trazer uma felicidade e uma sensação de harmonia para o casal mais velho, como também coloca Luke em uma situação mais problemática, se vendo como alguém usado e traído.

Os gatilhos que ascendem sobre os jovens que após a concepção do filme, se unem, são típicos da fase que atravessam, mas nada que soe convencional e facilitado por um maniqueísmo narrativo, apesar de algumas soluções previsíveis como a de McQuaid e a falta de consideração por outros, como Tyler e Leslie. Seguramente, o foco narrativo é sobre Kate e Luke e como permitem se libertar de pesos e opressões carregadas por si mesmos, dando a entender que estão mais dispostos a compreender os problemas inertes às idades respectivas.

Os espaços em branco deixados pelo roteiro em alguns momentos, especialmente o do clímax do encontro entre Luke e o pai, por mais que tenha uma motivação subjetiva e complexa, apresentou incoerência contra à atitude tomada por Luke. Everything Sucks! é um manifestou e concepção sobre a visão dos adolescentes para com tudo vivem, ainda mais pelas dificuldades em não conseguir ter uma interpretação mais sensata, sendo movidos pela inexperiência e inocência sutil. McQuaid, por exemplo, é o típico nerd esquecido que, motivado por uma atenção maior dada à Emaline, se apaixona pela mesma. Tyler, tido como alguém esquisito e puramente inocente, se sente bem à partir da relação tida com Oliver, outro estudante mais velho e que tinha uma relação com a moça loira Emaline, antes de deixar tudo para trás e seguir com seu sonho. Ao mesmo tempo que tem toda uma filosofia e atenuante egocêntrico, está dentro de uma concepção clara sobre o que deseja.

No mais, Everything Sucks!, apesar de apelos saudosistas o colocarem dentro de uma bolha galhofada e irresponsável, se permite trazer para uma nova atualidade, conceitos e perspectivas que são já consideradas antigas. Afinal, todas as pessoas que nasceram nos anos 90 já tem mais de 18 anos, então, há todo um significado em caracterizar uma juventude à par de revoluções digitais e sociais, as colocando em papeis de mútua empatia e conscientização: seja pela orientação sexual, pelo peso do luto, pelos desejos próprios ou pela inocência. E a partir do gancho deixado ao final da primeira temporada, o fato de lidar com um passado.

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