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Crítica | Sense8 - Episódio final

Por Marx Walker

Um ano após o anúncio do cancelamento abrupto de uma das séries mais corajosas e inclusivas já produzidas (para dizer pouco), a Netflix escolhe o público brasileiro para apresentar em primeira mão uma saída honrosa para a história dos 8 conectados mais famosos do mundo.

O barulho foi feito, e uma horda de 500 sensitivos se dirigiu ao memorial da America Latina. E assim como no seriado, mentes também interseccionavam sentimentos, mas neste caso, de inconformismo, revolta, descrença, cobrança e…. saudade.

Esses sentimentos da horda iam aflorando ainda mais assim que a foto dos 8 com a mensagem “juntos até o fim” ia sendo vista por quem entrava. La dentro, uma réplica da ligeira van do personagem Capheus deixava todo mundo entrar, ao mesmo passo que indicava que ali era também o ponto final.

Falando em ponto final e rapidez, era hora de sair do pátio e se dirigir ao auditório para conferir um compacto de mais de duas horas, que prometia concluir uma história que o mundo inteiro queria ver por muito mais tempo.
E caso tudo soasse ruim, era “dois palito” pro espírito de Jean Claude possuir todo mundo ali dentro e o sussurro virar berro.

Já com todos acomodados e de celulares devidamente bloqueados, é hora do play. E há alguns dias da Copa do Mundo, é um som de piano que arranca o primeiro grito apaixonado no país do futebol. A abertura já deixa claro que está todo mundo conectado como uma família dali pra frente, para se torcer, assustar, lamentar, chorar, sorrir e apaixonar por cada um dos 8 (não há como se esquivar dessas duas últimas).

O que se vê a partir daqui é tão dignamente intenso quanto tudo que foi assistido até então nessa série.

O roteiro usou todas as linhas a que tinha direito nessa saideira, e tudo ficou satisfatoriamente explicado e vingado, embora todos precisarão ver o episódio por mais de uma vez para entender com precisão pontos chaves de desfecho da trama, dada a complexidade do tema científico que envolve a história, além da carga de emoção que envolve esses momentos.

A fotografia vai dar vontade dos fãs congelarem o frame de pelo menos 5 cenas dignas de papel de parede ou capa de facebook/tweeter.

Os personagens secundários ganham uma força espetacular com suas participações determinantes nessa reta final, e com certeza também terão um lugar especial para morar no consensual e promiscuamente belo coração dos 8, que é o mesmo tipo de coração de quem se identifica com conceito da série.

Já os 8 seguem como o esperado em suas atuações, e as jogadinhas de cena em que eles trocam de corpos seguem criativas e surpreendentes.

Os discursos de inclusão, respeito e demais nobres causas estão moderadamente inseridos a cada oportunidade, diluídos por entre porradas, poemas e frases de efeito. Tem quem vá achar uma ou outra coisa descabida ou passada, mas isso não atrapalha em nada a experiência como um todo.

O final se conclui com um acontecimento bem clichê nas novelas daqui, e é esse o derradeiro tapa que a série dá: Até quando gente “inédita” fazendo algo habitual vai ser algo raro para nossa mente? Fim de sessão, e a horda (satisfeita) de cara inchada sai dali com novas armas para responder a essa pergunta que eles já entraram sabendo.

Lá fora, 5 dos 8 sensates recebem a horda (termo que vem do francês “hordê”, que dentre outras coisas significa povo sem habitação fixa – perfeito para nomear aquela sensação de desorientação que fica após uma série querida acabar).

E para encerrar a experiência com palavras de carinho e fazer uma última conexão com os fãs, eles cantam juntos com todos o hino da série, cujo refrão é “What’s going on?” (o que está acontecendo?), uma pergunta feita ali para o planeta que tem um pano de fundo interessante, se você souber que ali atrás se encontra a torre da TV Record, cujos valores do dono… é, pois é. Sense8 é pirraça maravilhosa até sem querer.

Como legado dessa série que prega o respeito diante das orientações sexuais e demais diferenças de cada um, fica também o exemplo dos fãs brasileiros, que através de uma audiência que correspondeu por nada menos que 70% de Sense8, demonstraram que o país que mais mata travestis no mundo tem sim, uma retaliação a altura. A nossa parada gay (a maior do mundo) que o diga, já que adotou oficialmente os 8 para dizer, na base do grito, que chega de sussurro quando o assunto é amar.

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