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Murilo Benício estreia como cineasta em filme baseado numa das peças mais polêmicas do teatro brasileiro

Com uma carreira sólida como ator, Murilo Benício estreia como cineasta com a adaptação de um clássico do teatro brasileiro, O Beijo no Asfalto. A peça, escrita em apenas 21 dias nos anos 60 pelo dramaturgo Nelson Rodrigues, aborda temas atuais como intolerância, homofobia, machismo e fake news.

O texto encomendado e encenado por Fernanda Montenegro em 1961 ganhou várias montagens nos palcos e duas versões cinematográficas anteriores. A primeira, três anos depois do lançamento do espetáculo, sob a direção de Flávio Tambellini, e em 1980 na visão de Bruno Barreto.

Houve ainda ‘O Beijo no Asfalto – O Musical’, protagonizado por Claudio Lins e dirigido por João Fonseca, em cartaz até recentemente.

Na versão de Murilo Benício, a película recebeu outro processo de produção ao mesclar cinema e teatro. Rodado em 2015, ao longo de apenas 12 dias, o filme mostra as leituras do roteiro feitas pelo elenco e, especial, por Fernanda Montenegro, hoje com 89 anos.

Apaixonado por cinema desde a infância, o diretor contou ao Observatório do Cinema a razão de mostrar os bastidores do set para o espectador: “Ali é o momento que você percebe que o trabalho do ator é árduo, vai a fundo”.

Sobre a nova função atrás das câmeras, Benício afirma ter se colocado no lugar dos colegas ao dirigi-los: “Sei quando o ator está com uma dúvida porque em algum momento eu já tive aquela dúvida. Isso me ajuda muito. Essa troca me encantou”.

O Beijo no Asfalto conta a história de Arandir (Lázaro Ramos), bancário recém-casado, que após testemunhar o atropelamento de um homem resolve realizar o seu último pedido: dar-lhe um beijo. A cena é presenciada por seu sogro, Aprigio (Stênio Garcia) e pelo jornalista Amado Ribeiro (Otávio Muller). A partir daí inúmeras situações transformam a vida de Arandir e de sua esposa, Selminha (Débora Falabella).

O longa, em preto e branco, chega aos cinemas dia 06/12.

Confira entrevista:

É difícil dirigir um filme?

A dificuldade é o acúmulo de funções que você tem, mas o resto foi tranquilo porque foi um filme de amigos. Foi muito corrido, me preocupei em chegar no set já com tudo na cabeça para não ficar sem saber o que fazer, onde colocar a câmera. Todas as cenas, tirando as da mesa (quando os atores leem o roteiro), foram desenhadas, até mesmo por falta de experiência.

Ser um ator experiente o ajudou na direção?

Uma das coisas que me anima muito a dirigir é esse contato com os atores. Eu sei o que o ator está sentindo em todos os momentos. Sei quando o ator está com uma dúvida porque em algum momento eu já tive aquela dúvida. Isso me ajuda muito. Essa troca foi o que mais me encantou.

Como foi a escolha do Lázaro Ramos como protagonista?

Estávamos fazendo uma novela juntos (Geração Brasil, em 2014, na Globo) e eu comecei a enxergar ele como o Arandir. Achei que ele pudesse fazer o Arandir lindo como ele realmente fez. Foi por aí. A gente fica pesquisando, procurando nos atores algumas características. Mas foi bem na intuição.

E a Fernanda Montenegro?

Eu não ia chamar a Fernanda, mas o Andrucha (Waddington, diretor e cineasta) me encorajou. Ele botou isso na minha cabeça. E aí foi lindo, o projeto foi para outro lugar com a presença dela.

Por que mostrar os bastidores e as leituras feitas pelos atores?

Acham que o trabalho do ator é muito raso. Ali é o momento que você percebe que o trabalho do ator é árduo, vai a fundo. Você não pega um texto, decora e sai falando. O trabalho do ator é muito maior e eu achava interessante dividir isso com o público. Sou cinéfilo desde os onze anos, e à medida em que você vai amadurecendo, seleciona as coisas que gosta mais. Os filmes que eu mais gostava, sempre comprei (as fitas e os DVDs) e fui direto para os extras ver a produção. Existem programas que também mostram isso, então parei para ver que não sou o único que gosta de ver os bastidores.

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