Críticas

Crítica | Perdido em Marte

Um dos maiores físicos vivos, o britânico Stephen Hawking, que teve sua biografia contada no filme de 2014, A Teoria de Tudo, afirmou em entrevista ao jornal espanhol, El Pais, publicada do dia 25 de setembro de 2015, que os seres humanos “terão que encontrar outros lugares no Universo”. Perdido em Marte mostra um possível passo dos seres humanos nessa direção.

O filme é baseado no livro de mesmo título, escrito pelo norte-americano Andy Weir. A tripulação da missão em Marte, Ares 3, está em solo marciano há seis dias. Liderados pela comandante Melissa Lewis (Jessica Chastain, de A Hora Mais Escura), o grupo de seis astronautas realiza uma série de trabalhos científicos, entre eles, recolher amostras do solo marciano. De repente, uma tempestade equivalente às de areia na Terra, prevista anteriormente, acelera, se aproximando do local onde está fixado o habitat e o foguete de retorno à aeronave em órbita.

A comandante Melissa, por causa dos fortes ventos, aborta a missão que duraria 31 dias e os seis astronautas deixam Hab, o habitat, em direção ao foguete antes que este possa ser derrubado pela tempestade. Porém, neste trajeto, uma das antenas do habitat se solta e atinge em cheio o astronauta Mark Watney (Matt Damon, da franquia Bourne). Melissa ainda tenta encontrá-lo em meio à tempestade, mas com o foguete quase a ponto de tombar, ela precisa embarcar rapidamente para decolarem.

Os seus companheiros de aventura, Annie Montrose (Kristen Wiig, de Missão Madrinha de Casamento), Chris Beck (Sebastian Stan, da franquia Capitão América), Alex Vogel (Aksel Hennie, Hércules), Rick Martinez (Michael Peña, de Homem-Formiga) e a comandante Lewis acreditam que Watney tenha morrido. Surpresa! Ele não morreu. E agora, ao se ver sozinho em Marte e imaginando ter sido dado como morto em missão, ele precisa achar uma maneira de contatar a NASA (agência espacial norte-americana) e sobreviver até que uma missão de resgate possa salvá-lo.

É sobre a aliança de dois aspectos do que há de mais humano – o instinto de sobrevivência e a engenhosidade – de que se trata esta história adaptada por Drew Goddard para o cinema. Roteirista de filmes como Guerra Mundial Z e O Segredo da Cabana, Drew conseguiu transportar para a telona a mescla de ficção científica e aventura com umas pitadas de suspense e comédia existente no livro. À este ótimo roteiro, juntou-se as interpretações de Matt Damon, Jessica Chastain, Jeff Daniels, que faz o presidente da NASA, Teddy Sanders; Chiwetel Ejiofor, que faz diretor das missões à Marte, Vicent Kapoor e Benedict Wong, que faz o diretor do JPL (Laboratório de Propulsão à Jato na sigla em inglês), Bruce Ng.

Matt Damon consegue transpor para a tela as diferentes emoções pela quais o seu personagem passa ao tentar sobreviver em Marte. Ele não deixa o espectador enjoar dele quando, por um bom tempo, a produção fica só em seu personagem. Jeff Daniel, Chiwetel Ejiofor e Bruce Ng estão maravilhosos aos fazerem os mandachuvas da NASA às voltas com situações que esbarram em problemas econômicos, políticos e científicos. Os seus personagens, além de não renegarem as suas humanidades, preocupam-se com opinião pública sobre a agência espacial e as consequências políticas dos acontecimentos resultantes de todo o caso da missão Ares 3. Jessica Chastain faz uma ótima comandante: firme em suas decisões, centrada, porém preocupada e um doce com todos os seus colegas de missão.

Claro que com um ótimo roteiro e atores que entenderam perfeitamente o papel de seus personagens na história contada, o diretor britânico Ridley Scott, de clássicos do cinema como Alien: O Oitavo Passageiro e Blade Runner, pode conduzir o filme de maneira magistral. Com a edição de Pietro Scafia, que montou filmes como O Espetacular Homem-Aranha e Kick-Ass: Quebrando Tudo, Ridley construiu um ótimo longa.

A fotografia de Dariusz Wolski, os efeitos especiais e o formato 3D se combinaram de forma perfeita. Os desertos imensos de Marte – ao mesmo tempo maravilhosos e desoladores – dão o clima certo à produção. O quarto planeta do Sistema Solar recriado em computação gráfica ficou ainda mais espetacular de se ver no formato 3D. Porque, neste formato, a profundidade de campo acentua as distâncias e as alturas dos diferentes locais do planeta. Este filme, sim, merece ser visto nesta tecnologia.

Eu acho que o único “porém” nesta produção vai para a trilha sonora de Harry Gregson-Williams, compositor de filmes como o remake de O Vingador do Futuro e Cowboys & Aliens. Tirando as músicas escolhidas para serem escutadas pelo personagem de Matt em sua estadia em naquele planeta, as trilhas sonoras compostas ficaram medianas.

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