Críticas

Crítica | Dheepan: O Refúgio

Os refugiados do Oriente Médio, principalmente da Síria, devastada por uma guerra que já dura mais de cinco anos, estão comovendo a maior parte da população mundial. Eles atravessam o Mediterrâneo e o Mar Egeu para alcançar os países do Leste Europeu e assim chegar aos países centrais europeus: Alemanha e França.

Mas este movimento não começou neste ano de 2015 e não acontece apenas com cidadãos de países do Oriente Médio. Mas quando chegam à Europa, como é o dia a dia desses refugiados? Como fazem para se estabelecerem? Como conseguem um local para morar? Como conseguem emprego? Dheepan: O Refúgio é uma história ficcional, porém, tenta mostrar as dificuldades de uma “família” recém-chegada na França de um grupo específico de imigrantes.

Dheepan (Jesuthasan Antonythasan), um guerrilheiro tâmil, desiste da luta contra o governo do Sri-Lanka, dominado pela etnia cingalesa. Yalini (Kalieaswari Srinivasan) procura desesperadamente uma criança que não tenha família e encontra Illayaal (Claudine Vinasithamby). Os três, juntos, conseguem ir para a França. Em território francês, eles terão que sobreviver e para isso terão que agir como uma família.

Aprender a língua, conseguir um emprego, um local para morar, seguir as regras sociais diferentes das do seu país e outras coisas que não faziam parte do seu cotidiano no Sri-Lanka são alguns dos desafios que Dheepan, Yalini e Illayaal terão que enfrentar agora. Mas, com o tempo, alguns aspectos de um bairro de subúrbio francês no qual eles foram viver, às vezes, se parecem com situações de seu país de origem.

Este filme de Jacques Audiard (Ferrugem e Ossos) equilibra drama, tensão, humor e ação. Ele tentou mesclar estes gêneros de uma forma suave e, de certa forma, ele conseguiu. Porém, ao introduzir a ação, ela ficou um pouco fora do tom geral do filme. Apesar de ser até explicável por causa do histórico do personagem de Jesusthasan, ficou parecendo que, de repente, começara um filme do Charles Bronson. Mas, como um todo, a direção de Jacques foi boa. Tanto que o longa levou a Palma de Ouro em Cannes este ano.

A história do filme também foi escrita por Jacques Audiard em conjunto com Thomas Bidegain e Noé Debré. Thomas e Jacques já tinham feito o roteiro do Ferrugem e Ossos juntos. Noé se junta à dupla agora. O roteiro escrito pelos três consegue mostrar todos os passos pelos quais um refugiado ou uma família de refugiados possivelmente tem que passar até realmente se estabelecer em seu novo país.

Com exceção de Jesusthasan Antonythasan, Kalieaswari Srinivasan e Clauidine Vinasithamby são marinheiras de primeira viagem. Este é o primeiro longa das duas. E a história do protagonista masculino é muito parecida com a do ator que o interpreta. Eles entendem perfeitamente pelo que passa os personagens. Muito do que está ali, eles devem ter vivido ou souberam de pessoas que viveram.

Para retratar estas diferentes passagens desta verdadeira via crucis, a diretora de fotografia – em seu primeiro longa-metragem – Éponine Momenceau conseguiu dar aos diferentes momentos todo sentimento que era necessário. Seja durante a fuga do Sri-Lanka, seja já na França em suas diversas situações, a luz e o enquadramento eram exatos.

A edição realizada por Juliette Welfling (Jogos Vorazes) também dá este clima de transformação à vida dos personagens. Não só. Reforça os momentos de lembranças e dores vividas na terra natal. O jovem músico norte-americano Nicolas Jaar ficou responsável pela trilha sonora. Ele realizou uma ótima composição que não fica excessiva em relação ao filme. Soube fazer muito em seu primeiro longa.

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