Críticas

Crítica | Viver é Fácil Com os Olhos Fechados

“Sempre precisamos gritar Help!”. Esta é uma das falas do personagem Antonio San Roman (Javier Cámara, de Os Amantes Passageiros) no filme Viver é Fácil Com os Olhos Fechados.

O título desta produção é um verso da música “Strawberry Fields Forever”, composta por John Lennon. Conhecê-lo é um dos sonhos de Antonio, professor de inglês em uma escola em Albaceta, uma cidade do interior da Espanha. Ele utiliza as músicas dos Beatles para ensinar a língua aos seus alunos.

A história do filme é baseada em um fato real: um professor espanhol aproveitou que John Lennon, de setembro a outubro de 1966, gravava em Almería, no sul da Espanha, o filme Oh! Que Delícia de Guerra, de Richard Lester, para conhecer o integrante dos Beatles. A premissa básica do filme é esta.

O roteirista e diretor desta produção, David Trueba (de Soldados de Salamina), a aproveitou e a transformou em um roadmovie. Então, ao longo do caminho entre Albaceta e Almería, Antonio acaba dando carona para dois jovens cujas vidas mudarão ao conhecê-lo e ao se conhecerem um ao outro. A jovem Belén (Natalia de Molina, em seu primeiro longa), de 20 anos, fugida de uma casa na qual jovens que engravidaram sem serem casadas vivem até terem as crianças que em seguida são adotadas por outras famílias; e Juanjo (Francesc Colomer, de Pa Negre – Viver é seu terceiro filme), garota de 16 anos, que fugiu de casa por causa do pai autoritário. Ambos acabam acompanhando Antonio em sua aventura. Assim, ao longo do caminho e durante a estadia em Almería, os três se conhecem e conhecem melhor a Espanha e os espanhóis durante a ditadura de Francisco Franco (1936 – 1975).

O roteiro escrito por Trueba e a sua direção desta produção são de uma sensibilidade ímpar e muito intensa. As interpretações de Javier Cámara, Natalia de Molina e Francesc Colomer são impecáveis. A química formada pelos três em cena é mágica. Muito por causa do experiente Javier, obviamente, mas os dois jovens atores conseguem acompanha-lo perfeitamente. Todos souberam dar o tom certo para os seus personagens e as cenas fluem gostosamente.

Os atores tiveram como cenário e moldura de suas interpretações, as extraordinárias paisagens de Almería muito bem trabalhadas pelo diretor de fotografia, Daniel Vilar. Este é seu segundo filme nessa função, porém ele trabalhou como assistente de câmera em filmes como Syriana – A Indústria do Petróleo e Fuga Implacável.

E em um filme no qual a música é um dos temas centrais do enredo e chega a ser uma das razões para a sua existência, a trilha sonora não poderia ser mais bem executada do que a realizada por Pat Metheny. O som, também, é feito de silêncios. Quando eles se faziam necessários na história, Pat soube explorá-los. E a história flui, muito, também, por causa da edição de Marta Velasco. Com grande experiência como assistente de edição, como em A Pele Que Habito e em algumas produções como editora, Marta soube o que escolher.

A produção do filme é tão impecável que você se transporta para os anos 60 por causa do figurino, dos carros e do uso inteligente da televisão, rádio e cinema para dar ao espectador o clima que prevalecia à época.

A equipe soube tão bem trabalhar em conjunto que não deu outra: acabaram ganhando sete prêmios Goya de 2013 – o equivalente ao Oscar na Espanha. Esta produção abocanhou os prêmios de melhor filme, melhor diretor, melhor ator principal, atriz revelação, melhor roteiro original, melhor música original e melhor figurino.

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