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Crítica | Batman Vs Superman: A Origem da Justiça

É ingenuidade pensarmos que apenas os filmes autorais podem dizer algo sobre o atual momento em que vivemos. Talvez certos filmes ultrapassem seu valor mercadológico e, apesar desse não ser o seu principal objetivo, blockbusters podem possuir uma consciência crítica além de provocar interessantes reflexões sobre o nosso tempo.

Inserindo esse conteúdo nas mais diversas camadas de significados, para além da capa do Superman e da máscara do Homem-Morcego, há algo a ser dito e é por isso que o universo da DC nasce tão maduro. Batman Vs Superman: A Origem da Justiça, dirigido por Zack Snyder, praticamente começa recapitulando os acontecimentos de O Homem de Aço só que pela visão de Bruce Wayne, um homem vendo uma luta de deuses e sofrendo todos os seus danos por isto.

Em meio aos destroços de Gothan, Bruce é coberto pela fumaça de um prédio caído, naquele plano quase de abertura temos a síntese de Batman Vs Superman, um herói humano cegado mais uma vez por uma tragédia, diante de um ser quase mítico que ninguém pode saber até onde vai a sua força, da insegurança, surge o medo, do medo, surge a violência, que é manipulável de forma potencial. É dessa dissonância entre os dois heróis que o conflito do filme está plantado.

É interessante notar como Zack Snyder constrói bem o ponto de vista do filme; o longa não é nem de Batman, muito menos de Superman, o espectador sente com a mesma intensidade a apreensão, a angústia e o medo de Bruce Wayne e a dúvida, os questionamentos e a desconfiança (em torno de si próprio) de Clark Kent. Dessa forma, se a campanha publicitária em torno do filme pedia para que o público escolhesse seu lado, o que é visto na tela é completamente o oposto, a sensação é de perceber o quão falho é este confronto, é notar que nem os super-heróis conseguem entender-se e que isto é assombroso.

Um grande retrato de hoje, época em que não se pode acreditar mais em heróis, e que a salvação vem junto de uma grande desconfiança, isso está pintado na escura fotografia de Larry Fong – o azul do uniforme do Superman parece mais escuro do que nunca e o Batman um vigilante ainda mais sombrio, sem escrúpulos para utilizar qualquer arma em combate. São tempos difíceis, quase sem nenhuma esperança e os heróis respondem a isso, evidenciando toda a sua humanidade, logo todas as imperfeições e descrenças.

Dessa forma, Batman Vs Superman é sobre a humanização de mitos e monumentos, e como toda estátua cunhada em bronze há toda uma história impregnada em seu metal, e nesse sentido, os roteiristas do longa são inteiramente hábeis ao jogar com a história pregressa dos personagens, não perdendo tempo em explicar alguns fatos, ou referências que são entendidas pelo conhecimento quase que natural que temos com aqueles personagens. É diante disso, dessas figuras quase mitológicas da modernidade, que parte para uma construção de todo um universo. Evidentemente que isto faz parte de um fan service que uma franquia de sucesso deve prestar, e deixar pontas abertas com extremo cuidados para serem fechadas no próximo filme é algo totalmente compreensível, mas que chega a ser de uma obviedade ímpar, a sensação é exatamente a de sair dos cinemas com as perguntas que serão respondidas daqui um tempo.

No entanto, o filme é tão bem estruturado que as aparições de personagens tão famosos quanto os do título não soam gratuitas, há toda uma apresentação e preparação muito bem trabalhada para que esses fatos acontecerem. O papel da Mulher-Maravilha, por exemplo, é de uma interessante construção, na qual o fascínio pela personagem vai aumentando ao longo do filme, para que só depois seja possível presenciar seus incríveis poderes.

E se essa demonstração da força dos heróis mais conhecidos do mundo é de fato impressionante e as habilidades de Zack Snyder nessas situações são inquestionáveis, o cineasta derrapa quando precisa tocar e emocionar, sendo muitas vezes apelativo nesse sentido. Quando Batman Vs Superman necessita dar uma mensagem mais clara, direta e emotiva, percebe-se uma falta de sensibilidade de seu realizador. E por isso que é interessante notar como Batman Vs Superman consegue dizer muito quando não é óbvio e quando tenta ser claro comunica muito pouco, e num estilo mais contido de Snyder na direção é notável as grandes imagens que ele produz, como por exemplo um momento em que Lex Luthor faz com que o Superman se ajoelhe diante dele, colocando um semideus aos pés de um simples mortal, num plano muito interessante.

Por isso, entre as grandes sequências de ação, entre as inúmeras referências, ou o melodrama de Snyder fico com o que Batman Vs Superman evoca, o que suas personagens, falas e imagens representam, funcionando quase como uma mitologia moderna, logo uma tradução de nossos tempos.

Batman Vs Superman: A Origem da Justiça tem muito a dizer, desde seu momento muito sombrio, até um futuro de esperança, mas que vem acompanhado por muita luta. Em suma, é um grande filme.

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