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Crítica | Capitão América: Guerra Civil

A Marvel sem dúvida nenhuma vem dominando o mercado de filmes blockbusters. Com seu gigantesco universo compartilhado, cada longa é uma expectativa de como os novos heróis apresentados na última fase da Marvel se encontrarão com os outros Vingadores e quais serão as novas figuras introduzidas nessa trama que renderá muitas histórias ao mundo dos super-heróis e só por isso este filme seria um tremendo chamariz, mas a Marvel é muito mais inteligente para apostar apenas nesse fator.

Junto com a Disney, o estúdio conseguiu chegar a uma fórmula que consegue agradar praticamente todos, apostando em tramas que buscam ser mais fiéis possíveis aos quadrinhos, assim como visuais idênticos ou bem parecidos com os das HQs e recheia todo o filme com easter eggs e sacadas para fãs, os famosos fan services, que são deleite para o público, e o principal, os filmes com o selo Marvel transitam da comédia a ação, a fim de construir narrativas na qual a leveza seja seu principal elemento, transformando qualquer narrativa em um agrado cinematográfico.

E esta questão chama bastante atenção em relação ao novo filme do Capitão América, que dá início a esperada Guerra Civil que coloca em lados opostos os famosos Vingadores e também em cheque todos os ideais e forças daqueles heróis. Assim, em Capitão América: Guerra Civil parece haver uma dramaticidade intrínseca a sua narrativa, mas que os realizadores preferem diluir nas inúmeras tiradas cômicas que compõem o longa, e nesse sentido fica uma sensação de que os fatos nunca são tão pesados ou dramáticos como deveriam ser.

O longa tem início com mais uma missão do grupo de heróis que acaba em tragédia por um incidente com a Feiticeira Escarlate, fato que reverbera os ocorridos nos diversos outros filmes do universo Marvel, na qual as inúmeras batalhas destruíram cidades por completas e provavelmente houveram muitas perdas humanas. Dessa forma, a premissa de dar uma nova dimensão a esses fatos heroicos é extremamente interessante, colocar em dúvida o que o heroísmo realmente gerou. No entanto, logo nessa primeira sequência fica evidente certa dificuldade dos irmãos Russo (os diretores do filme) em colocar uma dimensão mais profunda para aquelas situações, nesse primeiro momento há mais momentos de leveza do que de drama, o que gera nesse primeiro questionamento aos Vingadores certo sentimento de anestesia, como se o espectador não visse a dor que aqueles heróis infelizmente cometeram.

E talvez por essa veia cômica que vem dos dois realizadores, ambos foram responsáveis por diversos episódios de Community e dirigiram algumas comédias, esse lado cômica ganha uma grande importância na projeção, são mais do que alívios cômicos, eles são fundamentais para a construção da dinâmica entre os personagens. Por exemplo, o caso do Peter Park/Homem-Aranha, que nasce como um personagem calcado no humor, pela diferença de idade em relação aos outros heróis e por conter um ar mais adolescente, acrescenta quase que por natureza esse timing cômico a todos os seus momentos – o que revela que o querido Aranha terá um grande espaço nesse novo universo. E os irmãos Russo são tão hábeis nesse sentido que o elenco todo transforma-se num eficiente time de humoristas, no melhor dos sentidos, as sacadas surgem entre eles de maneira bastante espontânea em diálogos engraçados que não parecem premeditados, o que faz de Guerra Civil um filme bastante divertido.

E aí reside um pouco daquela problemática ressaltada há pouco. No momento clímax do filme, a batalha entre os heróis, a polaridade total, que toma conta não só das telas, mas também da realidade atual, é tratada de forma quase banal por causa dessa leveza excessiva. Uma luta em que os mocinhos colocam em risco suas próprias vidas, mas que entre os socos e os golpes, as piadas são proferidas, o filme não escolhe seu lado, no entanto, parece se divertir com aquela batalha campal. Os heróis colocam em risco a sua própria vida, os heróis caem na tentação da vingança, os heróis não conseguem respeitar as diferenças, mas o cinema ri, diverte-se e vibra. Capitão América: Guerra Civil não consegue dar um passo adiante e provocar um pensamento em torno daquela guerra que já é perdida.

Talvez, após esses acontecimentos, o filme siga por um caminho mais interessante, uma busca pelos verdadeiros responsáveis, um pensamento reconciliatório muito mais complexo que uma simples briga, o que gera uma sequência final mais perspicaz e muito simbólica, exatamente sobre as consequências dessa polarização. Mas nesse terceiro ato que busca algo a mais, revela-se também um certo descuido com o principal vilão do filme, que manipula a todos, mas que o longa parece não estar preocupado com ele, revelando muito tarde e de maneira pouco convincente suas motivações o que faz parecer que o antagonista não representa toda ameaça que o longa julga ter.

Com isso, é inegável que Capitão América: Guerra Civil seja um filme divertido, agradável de assistir, um entretenimento de primeira grandeza. Mas que dificilmente consegue dar uma dimensão a mais a sua narrativa, a dramaticidade dos eventos da Guerra Civil se diluem na comédia dos irmãos Russo, que poderiam realizar um longa muito mais marcante.

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