Críticas

Crítica | Elvis e Nixon

Além de ser inegavelmente a maior potência do mundo, os EUA são sem sombra de dúvida um dos maiores impérios que se possa imaginar, e esse reino é o do entretenimento e da influência cultura. Até o final dos anos 70, a América tinha inegavelmente o seu rei nesse sentido: Elvis Presley. E certas vezes o âmbito político entra em choque com essa esfera cultural, ou no caso de Elvis e Nixon se aliar a um showman da música é a única alternativa de um presidente totalmente impopular.

Elvis e Nixon narra a história do improvável encontro entre o rei do rock, Elvis Presley, e o presidente americano Richard Nixon. Num momento político bem conturbado com a contracultura e o movimento hippie chegando ao seu ápice, assim como a luta pelos direitos dos negros que estava em seu auge, diante disso o governo americano tomou uma guinada ao conservadorismo, tomando algumas medidas impopulares sem concessão alguma a esses movimentos sociais e partindo para uma guerra contra as drogas, que trouxe mais prejuízos ao país do que benefícios. Toda essa conjuntura culminava para que Nixon tivesse índice de popularidades baixíssimo e seus assessores viram em Elvis uma oportunidade de elevar a figura política do presidente americano.

Assim, o longa busca exatamente desvendar a aura desses mitos da história mundial, sendo um grande estudo de personagens. O roteiro escrito à seis mãos por Joey Sagal, Hanala Sagal e Cary Elwes procuram mostrar por trás das lendas. O filme traz um Elvis Presley anestesiado por sua própria fama, que não consegue mais tirar a fantasia de rei do rock e ser um ser humano, embora possua essa vontade; além disso, o cantor americano mostra um lado de infantilidade política, que entende a importância de sua figura e querer ajudar o país, mas com uma capacidade enorme de compreensão do momento do mundo, Elvis não consegue enxergar as mudanças muito menos fazer formulações a respeito de alternativas.

E é engraçado notar como o presidente americano é retratado quase da mesma maneira, um homem despreparado que vê a Casa Branca como seu parque de diversão e trata todas as questões políticas como uma verdadeira criança mimada, sendo Elvis e Nixon um o lado A e o lado B de um mesmo disco. Lógico que o lado B seria Nixon, Elvis é Elvis.

É interessante notar também como o filme não busca ser uma cópia fiel dos personagens, nem Michael Shannon (Elvis), nem Kevin Spacey (Nixon) tentam ser idênticos, evidentemente repetem alguns trejeitos, mas são o Elvis e Nixon daquele filme e tudo centrado numa veia mais cômica dessas personalidades, o que funciona extremamente bem. Assim, o filme inteiro é construído como preparação do fatídico encontro, mostrando as motivações de Elvis para aquilo e a relutância de Nixon em receber o astro do Rock por puro preconceito.

Nessa jornada, o filme alterna entre altos e baixos, como o momento em que o astro encontra um de seus sósias tirando sarro, pois o próprio Elvis não estaria tão parecido com o rei, uma passagem rápida que representa que o Sr. Presley tornou-se uma figuração de algo, um simulacro, Elvis não cabia mais naquele momento em um corpo de carne e osso, isso sendo levado com muito humor; nos baixos as várias tentativas de conceber ao protagonista alguns monólogos que são tentativas de divagação de Elvis sobre a fama, mas que não funcionam por como o artista vinha sendo representado, as articulações do personagem nesse sentido são pouco críveis.

Quando o filme finalmente chega ao encontro do título, o longa toma rumos mais regulares e divertidos, sendo o momento para diretora e roteiristas colocar em práticas todas as gags e tiradas cômicas, sendo realmente o auge de Elvis e Nixon. E nessa reunião, fica ainda mais claro que os personagens são lados diferentes de uma mesma moeda. Ainda mais interessante é evidente que nesse encontro acontece uma batalha de ego e poder entre os dois, de um lado o rei do entretenimento e outro o presidente da grande potência mundial, os dois debatendo de igual para igual, show business e política se misturam. E essa reunião traz uma série de significados levados com muito humor, tanto Nixon quanto Elvis são homens do passado diante de um mundo de mudanças, figuras importantes que se sentem ameaçadas pelo futuro, acima de qualquer motivação política são seres com medo de perder sua relevância e privilégios em uma nova conjuntura e querem combater isso de todas as formas que podem. Isto fica claro quando o rei do rock protesta contra a figura dos Beatles que naquele momento emergiam como uma forte influência pop, que poderiam muito bem destronar Elvis, a preocupação do americano não é que os ingleses pudessem realmente representar um pensamento libertário ou comunista como ele diz, mas sim representava uma mudança total no mundo da música.

O filme, talvez por não quere julgar as posições de Elvis, embora ridicularize o pensamento do personagem, não propõe nenhum arco dramático ou mudança crítica do filme, parece que a obra consente com as atitudes de seus personagens, o que dá a impressão de que Elvis e Nixon fica em cima do muro retratando uma época politicamente e culturalmente bastante conturbada, parecendo certas vezes compactuar com o pensamento mais conservador de Elvis e do presidente e outras parecendo condenar o mesmo pensamento.

Por fim, Elvis e Nixon é um recorte interessante de um momento histórico fundamental para o século passado e levado para as telas de maneira totalmente irreverente, se dando o direito de rir de um dos maiores ídolos da cultura americana, sem se sentir culpado por isto. Elvis e Nixon embora não seja perfeito é uma diversão acima da média.

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