Muitos tiveram aquela sensação de ver pela ultima vez o universo de Harry Potter transpassado para as telas do cinema, o fim de uma geração, que em sua totalidade, cultivava uma extrema empatia por um universo mágico, parecia perder um dos maiores e mais potentes produtos culturais que o século XXI já produziu. Entretanto, como sabemos, nosso cinema atualmente tem como uma de suas inúmeras características não interromper uma franquia tão produtiva e lucrativa, e com Harry Potter não foi diferente.
Animais Fantásticos e Onde Habitam poderia ser um filme que vêm para resgatar esse sentimento de quem presenciou e cresceu junto com essa série, mas acaba apresentando algo totalmente diferente do universo anteriormente retratado nos filmes de Harry Potter.
Esse deslocamento para com os filmes de Harry Potter é necessário para a recepção do longa, mas é inevitável a sua comparação. Muitas análises poderiam ser feitas em cima de pessoas com diferentes experiências. Alguns diriam que adorou o filme devido a fidelidade para com o livro de J. K. Rowling, elogiando certamente a concepção artística do todo, já outros não recepcionariam o longa tão bem em razão da discrepância para com os filmes de Harry Potter, construindo uma contraposição entre ambos. Os dois lados teriam seus argumentos, e a criação de outros lados também surgiriam, construindo inúmeras discussões acerca do filme. Por conseguinte, Animais Fantásticos e Onde Habitam despertará nas pessoas uma ânsia de debater sobre um universo mágico novamente, algo que sem Harry Potter com certeza se sentiu falta.
Investigando o filme como obra, Animais Fantásticos e Onde Habitam traz a história de Newt Scamander, um magizoologista que vai até Nova York carregando uma mala com inúmeros animais mágicos, e em consequência do cruzamento dele com Jacob Kowalski, Newt acaba perdendo alguns de seus animais fantásticos, e tem a difícil missão de agora encontra-los perdidos em Nova York. Bem construído, com a ajuda de J. K. Rowling que foi argumentista do filme, o roteiro do longa se apresenta praticamente sem falhas, a história se desenvolve de uma forma clássica, como um bom filme de aventura. Entretanto, fica aquela sensação de algo a mais.
O personagem de Newt, representado por Eddie Redmayne – uma grande invenção de Hollywood, que ainda não disse por que veio – não tem a força e empatia que o protagonista necessita, se tornando um personagem morno e caricato, assim como Porpentina Goldstein (Katherine Waterston) que acompanha Newt durante todo o filme e também passa a impressão de uma personagem maçante. Talvez Jacob (Dan Fogler) seja o mais interessante devido sua comicidade, mas afinal, quando foi que nos filmes de Harry Potter o centro das atenções foi um personagem que a sua essência se dava através da risibilidade?
Mesmo assim, Animais Fantásticos e Onde Habitam não deixa de ser um bom filme por conta disso. Realmente, a representação do universo mágico dos anos 20 em uma cidade dos Estados Unidos se dá de uma forma grandiosa, tendo a capacidade de criar um ambiente envolvente, onde seus personagens flutuam pelo espaço criado, com uma construção artística encantadora. Os animais fantásticos acabam sendo um espetáculo a parte, e uma condução leve ao filme é dada ao longo de sua duração, tornando-se uma experiência agradável para quem assiste.
Grande parte dos leitores de Animais Fantásticos e Onde Habitam certamente leram o livro sem a expectativa de encontrar uma estrutura parecida com Harry Potter, tratando ele mais como um segmento a parte, onde trazia curiosidades de um universo extremamente rico em seu conteúdo. E é exatamente esse sentimento que o telespectador terá que ter em frente as telas momentos antes de assistir o filme. Animais Fantásticos e Onde Habitam é um longa que resgata o sentimento dos filmes de Harry Potter apenas na sua abertura, propondo depois – apesar de se situar no mesmo universo – um mergulho em uma história totalmente diferente, sem fortes protagonistas e principalmente antagonistas. Um filme sem inquietude, mas que não deixa de ter suas qualidades.