Críticas

Crítica | Rogue One: Uma História Star Wars

Assim que a Disney comprou a Lucasfilm, era de se esperar que o universo Star Wars não iria viver apenas de uma nova trilogia. Já até havia sido dito que uma das vantagens das histórias derivadas seria justamente não ter esse compromisso em estabelecer uma história em continuação, dando mais liberdade aos criadores. E foi justamente isso que aconteceu.

Rogue One: Uma História Star Wars, como é bem sabido, acompanha um grupo de rebeldes que partem contra o Império para roubar os planos da Estrela da Morte. Entre eles está Jyn Erso (Felicity Jones), filha de Galen Erso, engenheiro que ajudou a projetar a arma “destruidora de planetas”. Galen Erso, por sinal, é um dos personagens mais trabalhados do filme, mesmo com relativamente pouco tempo em cena, e com uma ótima atuação de Mads Mikkelsen que traz toda a dualidade necessária ao personagem.

As motivações e a química entre as personagens são boas, apesar de a introdução de algumas delas não terem sido muito interessantes, à exceção de Jyn Erso. Na primeira cena existe uma leve tentativa de transformar o capitão Cassian Andor (vivido por Diego Luna, de E sua Mãe Também) em uma espécie de novo Han Solo, brincando com uma moral dúbia, mas que acaba não sendo carregado para o resto do filme.

Sobre o arco dos personagens, o que me salta aos olhos é o de Saw Guerrera, vivido por Forest Whitaker e que é um antigo rebelde que crê piamente na derrocada do Império. Um ator do nível de Whitaker é aproveitado para colocar a trama em movimento, apenas, não tendo um papel relevante nos próximos atos da trama. Guerrera é um comandante com um visual imponente, com marcas de guerras passadas pelo corpo e com um intérprete que é um dos maiores atores em atividade e merecia ser melhor aproveitado para a trama.

Os personagens, novamente com exceção de Jyn Erso, não tem um passado explorado e não são aprofundados de nenhuma maneira mais relevante, o que não é benéfico para a trama, mas não impede uma empatia do público para com eles. Uma das características interessantes que podem ser ressaltadas em um dos personagens é a imensa fé na força que Chirrut Îmwe (Donnie Yen, de O Grande Mestre) possui e que é vital para o universo Star Wars representado ali. Como já foi dito: Sem a força, não é Star Wars.

O robô K-2SO é um grande alívio cômico no filme. Interpretado por Alan Tudyk, o robô especialista em análises de dados tem um tom que lembra o Sheldon Cooper de The Big Bang Theory com seus comentários extremamente precisos que acabam soando sarcásticos e aliviam inúmeras cenas de tensão ao longo do filme.

Como já havia sido anunciado, Darth Vader tem um papel no filme e vale ressaltar que a cena em que ele aparece é visualmente impressionante. Aliás, toda a fotografia do filme é estonteantemente bela. Algumas cenas nas naves que contam com menos iluminação têm desenhos impressionantes ao longo dos planos em um ótimo trabalho do diretor de fotografia Greg Fraser.

Mas, falando nessa fotografia, é uma pena que muitas cenas tenham tantos cortes a todo o tempo. Alguns momentos do filme se tornam rápidos demais até para admirar o trabalho impecável feito nos cenários pois nenhum plano parece durar mais de dois segundos.

A trilha sonora de Michael Giacchino tange alguns dos temas originais de Star Wars, mas soa morna na maior parte do tempo. Nesse ponto, não sei se podemos julgá-lo, uma vez que John Williams nos deixou realmente muito mal-acostumados. Durante o letreiro do filme, o tema não cativa e a trilha parece sobrar em alguns outros momentos de diálogo.

Talvez a minha maior ressalva com o filme seja o vilão Orson Krennic, vivido por Ben Mendelsohn, que não me parece à altura de um vilão Star Wars em sua concepção ou pela própria atuação de Mendelsohn. Ele não parece irritado ou ameaçador o suficiente ao longo do filme e não pude deixar de pensar no antigo hábito da indústria de levar vencedores do Oscar para serem vilões em grandes blockbusters. De cabeça, consigo pensar em dois vencedores da estatueta que poderiam cair melhor no papel (e que também têm sotaque britânico e tudo): Geoffrey Rush e Jeremy Irons.

Por último, o terceiro ato do filme é impressionante e de tirar o fôlego, contando com um final que, creio, nem os mais céticos ou mais radicais poderiam esperar. Assim, vemos exatamente o quão valoroso é um filme derivado de Star Wars. Ele pode andar com suas próprias pernas, ele não precisa se preocupar em deixar inúmeros detalhes preparados para o que vem em seguida e ele pode surpreender o público como há muito não se via na franquia (arrisco dizer que desde 1980).

Agora é esperar os próximos longos 12 meses para Star Wars: Episódio VIII.

Sair da versão mobile