Críticas

Crítica | LEGO Batman: O Filme

Em 2014, Uma Aventura LEGO surgiu no cenário da animação para surpreender, aliando um humor ágil, autoirônico e muitas vezes escrachado com um mundo extremamente inventivo que joga justamente com o ato de brincar de lego, o longa conquistou público e crítica. Aquele universo trazia alguns prazeres surpreendente, como a figura de Batman, que agora ganha seu filme solo.

Trazer esse spin-off é mais do que utilizar um personagem de outro filme, é conceder uma nova roupagem a um dos mais populares super-heróis. Só por esse fato, LEGO Batman: O Filme é extremamente ousado e aos poucos vai demonstrando compreender extremamente a figura de seu protagonista, mas também dos códigos do gênero do filme de super-herói, subvertendo tudo o que se esperaria de um longa nesse estilo.

LEGO Batman: O Filme é uma película com a capacidade de rir de si mesmo. Um filme que desafia até mesmo a fidelidade do fã em relação ao longa e seu protagonista. Em tempos em que fãs se digladiam através de críticas à Marvel ou a DC, brincar com sua própria figura e com seus defeitos (e até mesmo os problemas dos longas anteriores) é realmente um trunfo. E isso é realizado de maneira tão bem feita que conquista o mais fanático apaixonado por Batman.

Muito disso se deve ao trabalho de Chris McKay, diretor de animação muito conhecido pela série Frango Robô dentro do canal Adult Swim, e lá esse tom sarcástico utilizando figuras famosas já era muito bem realizada. No entanto, LEGO Batman: O Filme não é uma mera sátira, só isso não seria suficiente para segurar o longa durante toda sua duração. É um filme que entende perfeitamente as regras do jogo e sua subversão está sempre aliada a sua narrativa, não é a piada pela piada, mas sim o humor que está a serviço de uma história.

Assim, se o longa já inicia com uma narração de seu protagonista comentando como todo tipo de filme de super herói começa – principalmente os da DC – dando o recado de qual será o tom do longa, o filme em seguida constrói uma extensa sequência em que Batman salva mais uma vez Gotham das garras do Coringa, num momento que poderia muito bem ser o clímax de um filme sério do Homem-Morcego. Importante ressaltar que não é um filme sério que alterna com momentos de leveza. O tom jocoso sempre está presente, porém é impressionte como a construção das sequências são realizadas de forma idêntica ao dos grandes blockbusters. E visto toda aquela construção empolgante é ainda mais engraçado uma tirada como quando falam para o Coringa que ele não conseguiu derrubar Gotham nem com a estratégia dos barcos, fazendo uma clara alusão ao Cavaleiro das Trevas.

Após esse momento épico, o filme se concentra acertadamente em fazer uma investigação irônica da figura do Super herói. LEGO Batman: O Filme é justamente como aquele personagem não consegue se relacionar, a característica do vigilante sombrio e solitário é colocado no estado do risível e apresentado como um homem extremamente infantil com medo de se relacionar. Essa nova leitura da persona de Bruce Wayne/Batman tira qualquer aura daquele personagem pelo menos nesse universo lego, e faz rir de uma figura vista com seriedade (principalmente em suas últimas produções).

Se é justamente brincar com a figura do Batman que torna esse filme tão interessante – como o hilário trecho em que são colocadas diversas cenas dos filmes anteriores do Morcego até chegar ao famoso seriado dos anos 60 com o herói dançando em trajes coloridos. LEGO Batman: O Filme faz disso seu mote, esse medo do relacionamento é que move o filme e suas piadas, o arco do protagonista em todas as instâncias segue esse tema de forma divertida.

Da relação com Coringa e sua incapacidade de aceitar que aquele é que arqui-inimigo e um é dependente do outro (abordado como se fosse uma comédia romantica hollywoodiana); ou a adoção irresponsável de Robin – um personagem que é o oposto de Batman na sua alegria contagiante – e a aceitação daquele menino como filho; a aparição de Bárbara Gordon, o grande affair romântico de Batman e como isso às vezes parece mais um jogo para o protagonista; e por fim com Alfred, o mordomo, e seu instinto paterno, aliás é esse personagem que vai desconstruindo a figura do Batman através de uma veia cômica.

Nos melhores dos sentidos, LEGO Batman: O Filme é uma ridicularização de seu protagonista e é como se o espectador risse de um amigo, tirando sarro de seus defeitos e méritos. Os trocadilhos feito com o prefixo “bat” usados nos mais variados momentos não só funcionam como divertem, reutilizar os letreiros com as interjeições “Bang”, “pow” e etc é um misto de homenagem e brincadeira com algo que se sabe que ao mesmo tempo que faz parte da história do homem morcego (e por isso é Cult) também não se pode negar seu caráter ridículo.

O longa fica ainda mais divertido quando essa ironia ultrapassa a figura do Batman mas atinge tudo o que foi realizado pela Warner, sem medo de tocar em feridas, apenas ridicularizando alguns momentos marcantes daquele iconicos filmes, por exemplo, quando Batman diz: “você quer que os vilões nos ajudem?” “Parece uma péssima ideia unir um momento de bandido para derrotar um cara do mal”, numa alusão clara a Esquadrão Suicida.

Nesse sentido e pegando emprestado uma característica muito interessante de Uma Aventura LEGO, o filme do Batman faz com que seu narrativa chegue nos resultados mais absurdos, a história vai sendo levada até de repente o Coringa conseguir cooptar os mais famosos vilões dos filmes da Warner de Voldemort até Sauron e tudo isso é extremamente crível. Nos filmes da franquia LEGO tudo parece uma brincadeira de criança que não faz mal algum misturar tantos universos.

LEGO Batman: O Filme não é apenas uma grande brincadeira, mais do que isso, é uma ironia. Um filme em que seu humor, sua competência e sua diversão estão em desconstruir a imagem daquele tão importante personagem. E como já visto em Uma Aventura LEGO, nesse mundo de blocos tudo é possível, então resta apenas se divertir e muito com essa versão do Batman.

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