Críticas

Crítica | Meu Malvado Favorito 3

Assumo de cara que não sou exatamente o maior fã da série do Meu Malvado Favorito. Alguns pontos nos dois primeiros filmes me agradam e outros me incomodam nesta franquia dirigida por Pierre Coffin e Chris Renaud – e escrita por Cinco Paul e Ken Daurio. O primeiro filme, ao que penso, perde-se demasiadamente nas piadas e momentos cômicos de tal forma que deixa para segundo plano o desenvolvimento sólido e empático da trama. O estabelecimento da relação de afeto entre Dru e suas filhas – Margo, Edith e Agnes – acaba por ser preguiçosamente feito e, consequentemente, estabelecido de forma muito rasa e pouco convincente.

O segundo, contudo, foca-se com maior êxito em um estabelecimento mais profundo e desenvolvido – e, logo, enternecedor – de uma relação afetiva entre os personagens e também sobre os sentimentos destes – mesmo que, claro, dentro de um parâmetro ultra romântico e didático. Contudo, tudo gira em torno de tamanha cafonice – além do roteiro ser redundante na narrativa – que a pieguice acaba por deixar a experiência cinematográfica um pouco mais entediante.

Mas pensando por um lado de entretenimento recreativo – e não por um viés artístico -, o filme é bem sucedido. Não é a toa seu enorme sucesso comercial: apela, como dito, para jogadas cômicas que, mesmo sendo totalmente desconexas à narrativa e superficiais para a história, naturalmente divertem; e apela também para cenas de fofura quase que desmedida. Há quem goste dos filmes apenas porque os minions são “uma gracinha”. Além, claro, daquele ideal idealizado de vida livre de frustrações o qual é também comercializado em roteiros como os de Meu Malvado Favorito e, aparentemente, é uma ilusão da qual muitos gostam de consumir.

Agora, falando sobre Meu Malvado Favorito 3, este não destoa muito da excelência residida nos outros 2 filmes: tem pontos altos, que em breve serão expostos; e pontos baixos, estes que se aproximam daqueles do segundo acrescidos de alguns detalhes no roteiro que em breve serão expostos também. Focando, por agora, nos pontos positivos, é fato que esta franquia tem personagens bem carismático por seus tons caricaturescos. Dru como caricatura de um personagem da literatura de terror gótico; as garotas retomando caricaturas e estereótipos bem fortes da infância e da pré-adolescência – mas, é fato, no primeiro filmes estes “estereótipos” acabavam por reproduzir um ideal de menina “bela e recatada” extremamente antiquado que, embora tenha sido reduzido do primeiro ao terceiro filme, ainda deixa traços no roteiro; e agora temos Dru, o irmão gêmeo de Gru, que é uma caricatura do playboy milionário e musculoso; além de Balthazar Bratt, que é uma homenagem à cultura pop dos anos 80 – e logo foi bem sacada a escolha de Evandro Mesquita, vocalista da BLITZ, para dublá-lo. Mas, obviamente, o carisma se centra na comicidade e fofura comercialmente delineados presentes em todos eles.

Neste terceiro filme, Dru é demitido da Liga Anti-Vilões (AVL) por não conseguir capturar o vilão Bhaltazar Bratt. Bratt, quando criança, era ator mirim e protagonista de uma série de ação muito assistida nos anos 80 mas que, contudo, foi cancelada após duas temporadas. Agora, como vingança pelo precipitado fim da série e, por causa disto, também de sua carreira, o vilão quer se vingar de Hollywood. Enquanto as coisas não vão bem para Bratt, para Gru uma forte emoção o espera: está prestes a descobrir que tem um irmão gêmeo, o Dru. Os bebês foram separados quando recém-nascidos e agora é o momento do reencontro. Mas a demissão da AVL fará com que o protagonista seja pressionado pelos minions e, posteriormente, pelo próprio irmão (que tem o sonho de ser vilão) a voltar para o mundo da vilania. Será que ele vai resistir?

O que é interessante observar é o fato deste filme ser principalmente tematizado pela frustração pessoal – condicionada pela frustração profissional em certa medida, o que é muito ideológico se pararmos para pensar… – e pela forma a qual os personagens lidam com isso. Bratt alimenta um rancor pela indústria e isto lhe motiva a ser vilão, Dru e Gru tem suas frustrações familiares voltadas ao orgulho que seus pais têm deles (ou ainda, vale lembrar, a infância de Gru foi abusivamente marcada por bullyings), Lucy busca pela aceitação de suas filhas… Contudo, é claro que a essas frustrações o filme vai lidar com uma construção e caracterização piegas e descomedidamente romântica. É fato que talvez ele tenha perdido muito poder de comoção pela escolha destas insensata breguice e fácil queda em lugares comuns para desenvolver o drama dos personagens.

Algumas questões no roteiro podem prejudicá-lo mais ainda. O vilão Bratt acaba por ser desenvolvido com certa preguiça: o estabelecimento de sua personalidade não se dá pelo desenrolar do enredo de forma que fosse estabelecida com maior subjetividade e comoção. Meu Malvado Favorito 3 acaba por estabelecê-la de forma mecânica e friamente didática, por meio de falas meramente explicativas que não surtem qualquer sensibilidade na plateia. Mas é interessante refletirmos também sobre essa visão da “criminalidade” quase que como uma “escolha profissional”, como se determinados optassem pelo mal por vocação de carreira. Não se sabe se o filme satiriza essa figuração lunática e quase que patológica da figura do criminoso – como se ele fosse a incorporação do mal e o fizesse pelo prazer de fazer o mal – ou se ele a satiriza enquanto caricatura. É, contudo, uma ideia que se levada a sério dificultaria a compreensão sobre certos “fenômenos sociais”, além de ser um tanto antiquada.

O fato é que, contudo, os fatores de entretenimento permanecem ali, e logo seu potencial comercial é o mesmo de antes. É curioso notarmos que a direção dos três filmes busca retomar uma estética de animação infantil meio arruaceira, gritante e por vezes alvoroçada presente em animações da metade do século XX – como “Tom e Jerry”, ou as do Looney Toones – marcada justamente pelo seu surrealismo caricato, sobretudo nas cenas de “violência”: a queda de um míssil sobre a cabeça de um personagem que, contudo, não o fere fatalmente, a ida à lua a partir de um foguete construído no quartel general secreto localizado no subsolo de um sobrado… Fica até mesmo um quê de George Méliès pelo surrealismo em um estilo meio “steampunk”, o qual pode ser exemplificado por aparecerem no filme triciclo voadores e coisas assim… Mas talvez o que mais colabore para Meu Malvado Favorito 3 é que, três episódios depois, é mais verídico e bem estabelecido a afetividade familiar entre os personagens – e isso o torna mais sensível.

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