Críticas

Crítica | A Torre Negra

Edgar Allan Poe é uma referência irrecusável àqueles que se aventuram entre as histórias de fantasia e suspense. O escritor de contos como O Barril de Amontillado e de poemas como o corvo, não à toa, é uma das fortes inspirações de Stephen King – cuja obra é marcada também pelas tramas de terror, macabras, de mistério e suspense, com elementos sobrenaturais e românticos por vezes. Poe dizia que, antes de se pegar a caneta na mão ou colocá-la sobre o papel, “nada é mais claro do que deverem todas as intrigas, dignas desse nome, ser elaboradas em relação ao epílogo”. “Só tendo o epílogo constantemente em vista poderemos dar a um enredo seu aspecto indispensável de consequência, ou causalidade, fazendo com que os incidentes e especialmente, o tom da obra tenda para o desenvolvimento de sua intenção”.

O que Poe nos disse é que, ao compor uma trama, é necessário ter em vista, primeiro, sua conclusão, para que todo o resto da narrativa – desde o começo – seja planejado a projetar um clímax culminante, catártico, que seja o ponto máximo de emotividade da narrativa – e que ela própria o carregou para tanto. E este A Torre Negra, inspirado na obra justamente de Stephen King, parece ter descumprido a regra do mentor do autor cuja obra é inspirada.

A Torre Negra peca pelo seu roteiro de soluções preguiçosas, mal elaboradas, que resolvem a narrativa abusando tanto das coincidências que joga no lixo todo a aspiração épica de uma historia extradinária que os primeiros minutos do filme projeta. Além disso, o que antecede as soluções preguiçosas e incoerentes do roteiro é o tom genérico com o qual quase tudo é estabelecido.

Idris Elba é a melhor parte do filme. Cria personalidade, impõe dramaticidade ao seu personagem, é realmente cativante. Contudo, o menino Jake Chambers, o protagonista do filme, é um pouco apático e muito previsível. Ele, Jake Chambers, é um adolescente que tem alucinações durante os sonhos as quais mostram um sujeito conhecido como Homem de Preto atacando uma torre negro que se localizaria no centro de todos os universos. Esta torre protegeria todos os universos, até onde seu raio alcança, de invasores demoníacos que, caso não fossem repelidos pela torre, dominariam tudo e transformariam nossos dias em eternos apocalipses. Contudo, pela peripécia do destino Jake descobre que, na verdade, suas alusões eram sinais de que ele era uma criança “escolhida”, e que tudo que sonhara era real. O Homem de Preto (Matthew McConaughey) estava vindo atrás dele, pois por ser um “escolhido” poderia, sozinho, destruir a tal torre negra. Contudo, o pistoleiro vivido pelo bom Idris Elba em cena fará de tudo para proteger Jake das garras do Homem de Preto e, quiçá, unidos destruir o vilão vivido por McConaughey.

As premissas são interessantes, e a concepção tanto do pistoleiro como do Homem de Preto também tem seus acertos. O primeiro é um sujeito misterioso, gótico, amargurado… uma espécie de cavaleiro solitário, desconhecido, sombrio e estóica. O segundo, já, aquele excêntrico e abitolado maníaco que, sedento pelos seus prazeres sádicos, quer se apoderar de tudo. O Homem de Preto crê que consegue dominar seus oponentes pela instigande neles uma sede irracional de vingança e de ódio a qual, pelos sentidos irascíveis – baseando-se nos velhos ideias platônicos que rodeiam as histórias de heróis -, levam a precipitação, ressentimento e corruptibilidade. Mas o pistoleiro, com seu domínio instransponível da extirpação das paixões e concentração nos princípios lógicos ou morais – de liberdade, fraternidade e etc – não sucede às tentações impulsivas suscitadas por seu rival.

Existe uma relação, logo, de rivalidade entre o pistoleiro e O Homem de Preto que permutará a fuga de Jake das mãos do vilão e potencial tentativa de salvar a torre negra. Essa rivalidade talvez seja a melhor coisa do filme. Contudo, ainda assim é tratada com um tom tão genérico e estereotipado que tem um quê apático.

E se essa rivalidade entre o Homem de Preto e o pistoleiro tem um quê genérico e estereotipado que dá um toque apático, o resto também o tem, e talvez em maior escala. A própria direção de Nikolaj Arcel reforça essa falta de identidade e, assim, expressividade do longa. A fotografia, a montagem, a trilha sonora… tudo repete a mesma falta de originalidade e personalidade presente no roteiro. E olha que Nikolaj Arcel já tem bons filmes no currículo: o dinamarquês dirigiu O Amante da Rainha, em 2012.

As soluções rápidas e protocolares com a qual tudo é criado, encenado e concluído na trama – e na estética, e nas atuações com excessão de Elba… – dá um toque mediano ao efeito final de A Torre Negra. McConaughey também não está lá nos seus melhores dias, por acabar se apegando com certa superficialidade aos jeitos excêntricos de seu papel, sem se preocupar em constituir algo mais original (e sendo prejudicado por um roteiro que não se preocupa em ir além de um cinismo gratuito e descontextualizado na elaboração do Homem de Preto). A Torre Negra tem, além de uma narrativa medianamente empolgante, uma artificialidade no estabelecimento das tensões da história – ou mera falta de expressividade mesmo, apatia – que o torna desapontante. Não chega a ser um filme entediante, já que existe ali uma certa tensão, mediana como já dito, para saber como será o final da película – final que é, como já dito, bem decepcionante. Mas, mesmo assim, A Torre Negra se constitui como um mero filme banal, sem nada que o destaque frente à contemporaneidade e muito menos à história de Hollywood.

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