Críticas

Crítica | The Gifted - 1ª Temporada

O Universo Cinematográfico Mutante é uma iniciativa da Fox, que busca expandir os diversos personagens condizentes ao centro dos X-Men. Seu primeiro projeto, Legion, por conta de ser o carro abre-alas, teve de ousar e buscar manifestações narrativas fora do comum, o que lhe rendeu excelentes recepções, se caracterizando como uma série original e relativa aos tópicos abordados. Em The Gifted, segunda série da Fox a explorar os mutantes, há uma estrutura mais convencional e padronizada. Entretanto, por estar convencida desde o piloto de que essa fórmula daria certo, a zona de segurança e confiança são os principais fatores de acerto de The Gifted, onde a aposta pelos clichês, em até certo ponto, permite que a história flua com uma naturalidade mais fluida, mesmo que contada.

The Gifted conta a história de uma sociedade vigilante aos X-Men, onde qualquer mutante que manifeste seus poderes é preso pela polícia ou pela Força Sentinela – projeto desenvolvido por Bolivar Trask -. Em meio a isso, um pequeno clã fora-da-lei de jovens mutantes, formados por Eclipse (Sean Tale), Polaris (Emma Dumont), Pássaro Trovejante (Blair Redford) e Blink (Jamie Chung), que estão buscando os X-Men, que estão fora do radar devido à constante vigilância, além de alguma forma de sair dessa situação, trazendo os mutantes mais poderosos à “superfície” novamente. O seriado contorna bem a situação social, trazendo personagens não-mutantes que são a favor ou contra, mas não para instigar uma possível moralidade em relação aos preconceitos. O intuito do contrabalanço é uma liberdade narrativa em sancionar a visão de cada um dessas pessoas envolvidas nos tópicos de cárcere, aprisionamento e liberdade. Estes, na verdade, são temas já apresentados em outras produções X-Men, principalmente na trilogia de filmes iniciada em 2000, onde os mutantes sempre são considerados uma ameaça, independente de qual finalidade sejam a deles, sua integração social sempre foi descartada.

A família Strucker é um núcleo no qual a série focou em apresentar diversas referências ao universo dos X-Men. É uma mitologia que a todo tempo é abordada de uma maneira não-apelativa, como se The Gifted dependesse disso em certos momentos para costurar elos. É uma relação feita de forma consequente pelo roteiro e, a partir dos Strucker, se descobre sutilmente como tudo está interligado, além de ter seu passado analisado em alguns episódios, com o intuito de não somente contextualizar motivações e certas conveniências, como busca espelhar nos jovens mutantes, características de seus antepassados, passando uma espécie de legado em gene e visão sobre as situações ponderadas que foram acontecendo ao longo do avanço da linha do tempo. Cito novamente que o avanço da série em sua linha narrativa é gradual e orgânico, evitando a todo tempo acelerar em momentos ditos cruciais, sem antes situar outros personagens que também são relevantes não só à própria construção mitológica e histórica de The Gifted, mas também para as resoluções dos próprios personagens.

Em primeira instância é estranho perceber que o casal Strucker, Andy e Lauren, toma o protagonismo da série. No entanto, a medida que histórias pregressas da família Strucker são apresentadas, sua relevância para a mitologia circundante à The Gifted é valorizada e reconhecida. Não somente por ser mutantes extremamente poderosos, mas por manifestarem sua experiência de vida, em que conciliaram certos tempos de normalidade com a personificação de seus poderes. Até porque o sentido da série, a partir de certos momentos, não é apenas amarrar os personagens novos ao universo mutante. É dar a eles uma representatividade, interpretação e voz, disponibilizando aos fãs e espectadores uma percepção mais aguçada de como a palavra “mutante”, e o preconceito consequente nela, estão na verdade dialogando, desde do início dos X-Men nos quadrinhos, passeando pela animação televisiva clássica dos anos 90, os diversos filmes e cronologias espalhadas e as séries para TV. Sobre a iminente e imediata interpretação de ameaça daquilo que não conhece e na busca perpétua de lidar com essa suposta ameaça.

A caminho do final da série, The Gifted se perdeu um pouco no foco central. Atrapalhada pela introdução de novos personagens, o protagonismo e a importância de alguns deles ficaram dúbios. Entretanto, foram problemas rapidamente ajustados a partir da introdução destes novos grupos de personagens, principalmente o Clube do Inferno e as irmãs Frost. Até porque, a partir delas e do líder do Clube que são apontados alguns cenários para uma segunda temporada, dando a entender que a ameaça do programa Sentinela ou não será a única que fará com que eles e os pequenos mutantes enfrentem, ou ela não será totalmente exterminada com o avanço de The Gifted. Aliás, as cenas de ação, por mais que tenham sido bem-feitas ao início da série, deixam a desejar assim que a história afunila, principalmente em situações de clímax máximo. Longe do problema ser os efeitos especiais, mas sim certas conveniências dentro dessas mesmas, que acabam por perder um senso mais intenso de perigo ao grupo rebelde. As Sentinelas na HQ representam não somente uma ameaça, mas sim uma manifestação política e de segurança, uma ação responsiva imediata contra os mutantes.

O outro grupo de vilões da série é Os Purificadores, agentes da Cruzada Stryker, que planejam purificar a Terra, exterminando os mutantes em nome de Deus. Ao introduzir os Purificadores, referências à clássica HQ dos X-Men: Deus Ama, O Homem Mata, mantém os acréscimos à mitologia e referências ao universo, coincidindo também com o passado e o presente de outros personagens novos. Entretanto, assim como aconteceu às Sentinelas, a sensação de uma poderosa ameaça se perde em determinados momentos, devido a soluções de cenas de ações propositais aos protagonistas da série.

The Gifted foi outra produção do universo mutante que conseguiu expandir os mitos X-Men, conseguindo justamente transpor a aura de mitologia para realidade em uma série que, apesar de irregular em seus episódios de desenvolvimento maior, corrigiu a maioria dos furos no roteiro, criando uma 1ª temporada com personagens interessantes e histórias de passado e presente que se conectam.

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