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Crítica | The Cloverfield Paradox

Cloverfield é um nome que carrega não somente um temor pelo monstro, pela abominação ou pelo que ainda não foi descoberto. Se trata de um universo que é representando, em termos de marketing, por ótimas iniciativas, a fim de apenas evidenciar uma estrutura organizacional de lançamento e elos narrativos que a mantém evidente e sólida. Cloverfield – Monstro, lançado em 2008, surgiu com as mínimas expectativas de audiência e crítica, os surpreendendo pelo ótimo início do que seria, 8 anos depois, a confirmação de uma extensão de si mesmo.

Rua 10, Cloverfield, marcava que o universo estava interligado de alguma maneira, mesmo que os gêneros e linha narrativa fossem distintas. A contextualização era, e ainda é, a peça chave que os ligam. E em uma tática interessante, a Paramount lançou um trailer durante o comercial do Super Bowl LII, no último domingo (04) de O Paradoxo Cloverfield, terceiro longo do universo, o lançado de surpresa na Netflix imediatamente após a final da liga de futebol americano.

A escolha da Netflix, juntamente com a Paramount, de lançar na plataforma de streaming e não colocando-o em circuito comerciais de cinema, exceto nos EUA, trouxe algumas dúvidas. Talvez tenha sido pelo acesso imediato aos fãs ou, por consequência, a liberação de um longa que ainda mantivesse o nome dentro do falatório popular. Entretanto, o que ficou notório após assistir o filme, foi que o intuito de não lançar aos cinemas iria prejudicar a Paramount, pois O Paradoxo Cloverfield, apesar de se aproveitar de certos elementos importantes impostos nos dois filmes antecessores, possui um roteiro frágil e vazio dentro de sua proposta original.

Neste, o planeta Terra está passando por uma crise grave de energia, o que coloca os países em estado de alerta e dentro de uma iminente situação de guerra mundial. Para evitar que isso aconteça e assim, fornecer uma solução rápida, um grupo de cientistas é enviado a uma estação espacial com a finalidade de executar uma fonte de energia que resolveria o problema na Terra, utilizando o aceleramento de partículas, criando matérias novas. Porém, o plano arquitetado pelo grupo composto por Ava (Gugu Mbatha-Raw), além de Kiel (David Oyelowo), Schmidt (Daniel Brühl) e Tam (Ziyi Zhang).

Chamada de partícula de Deus, mencionado no filme predecessor, O Paradoxo Cloverfield busca se alimentar de soluções já expostas anteriormente, principalmente a contextualização social e história, mas acaba se prendendo em buracos de roteiro, expostos gravemente nos momentos chaves de concluir as motivações dos personagens. Por falar neles, a produção de J.J. Abrams, que é um idealista responsável por dar seriedade e sabedoria aos personagens criados ou inseridos em projetos dele, principalmente os de ficção científica, parece que foi sabotada. A partir do momento em que você dá características primárias a eles (como no caso desse filme, sua profissão), é levantada por ação direta, seu conhecimento e identificação nas situações apresentadas no roteiro, por mais óbvias ou inesperadas que sejam. Nesse terceiro longa de Cloverfield, a ingenuidade e até mesmo a falta de clareza na tomada de atitudes por certos personagens desconfiguram o sentido da missão e da abordagem ao tema central.

Os pontos positivos são justamente os momentos alheios, de escapismo à missão, especialmente à Ava. Sua relação familiar, com seu marido e os filhos, é inserida em alguns momentos na montagem e na descrição narrativa justamente para posicioná-la dentro de sua complexidade e atenuação dentro da nave. Que aliás, se limita apenas em acrescentar subtramas básicas a ponto de criar situações de conflito para os tripulantes. Se são responsáveis pelo que estão fazendo; se os resultados apresentados conferem e em evidência, as divergências sociais e de origem. Na verdade, o filme apresenta a complicação do filme logo de imediato, o colocando sob uma linha temporal de quase inalteração, dando a entender que a inevitabilidade do erro já faz parte do cenário e que não há senso de contrariedade. Contradiz, na verdade, o ponto do idealismo é justamente indisposto quando a localização da nave é alterada, os colocando dentro da iminência citada.

Não que colocar o filme sob essa posição de caos e assim, iniciar as ligações de quebrar os personagens seja de todo modo, inviável. A questão é que isso identifica que não houve uma assimilação real da mensagem do roteiro e que as pequenas alterações e complicações futuras do filme o colocam em um sentido de desespero, mas sem o direcionar. Assim como a nave, o filme se perde em diversos aspectos, principalmente no sentido e na coerência dos principais personagens.

A troca insistente de diálogos desconjuntados com o intuito de colocá-los sob pressão e desconfiança parecem dispersos, assim como toda funcionalidade dos mesmos. Outras iniciativas tentadas em O Paradoxo Cloverfield é tensionar um terror, construir uma claustrofóbica e irreconhecível ameaça, como feitas em outras obras de subgênero como Alien e o recente Vida. Em poucos momentos ela conecta o terror como uma espécie de início de senso de urgência com as inconsequentes ações tomadas a seguir, mas há um falho elo entre todos eles, os que permitem se sentir ameaçados não pela assimilação de novas informações, mas por conivências narrativas.

O ponto determinante do longa aluga um espaço novamente perdido e sem aparente sentido. A tentativa de alimentar o roteiro com um suspense complexo e inativo visualmente é vago, mesmo que seja uma manifestação do que é comum à franquia: o temor pelo que é está além de uma capacidade. Entretanto, não havia necessariamente uma busca pelo que era, de entender. E sim, de explorar o caso a partir de como os personagens são contextualizados e inseridos dentro de seu próprio vazio. O Paradoxo Cloverfield é assumidamente uma nova direção sobre o próprio universo, mas nada que realmente dê créditos a uma nova concepção. Referências, importações de contexto e outras assimilações sobrevivem seu próprio filme, mas a desconfiguração imediata dos roteiros deixa grande parte de sua construção narrativa e temporal inativa e inoperante.

De nada adiantou um material de marketing bem construído e alimentado, sem que haja necessariamente uma função narrativa que o conduza a ponto de se estabelecer como um filme original e com adesões do universo que foi tão bem fundamentado nos predecessores. O Paradoxo Cloverfield possuiu uma forma chamativa, mas o conteúdo foi deturbado.

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