Críticas

Crítica | 7 Dias em Entebbe

Em 2012, o diretor brasileiro Heitor Dhalia teve uma breve passagem por Hollywood, onde esteve a cargo do thriller 12 Horas, filme responsável por anunciar a despersonalização de seu cinema. José Padilha parece ter tido um pouco mais de sorte ao não ser refreado de maneira tão extrema em trabalhos não tupiniquins. Após ganhar o Urso de Ouro no Festival de Berlim de 2008 com o sucesso Tropa de Elite (2007) e emplacar a sua continução, Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (2010), ele conseguiu solidificar a sua trajetória em solo estrangeiro com 7 Dias em Entebbe, longa que sucede o seu remake para RoboCop (2014), que apesar da recepção morna, não comprometeu a sua inclusão nos créditos de uma nova produção gringa.

Em sua mais recente empreitada nas telonas, o realizador dá forma a um famigerado episódio de 1976, cujo voo da companhia aérea Air France, que saía de Tel-Aviv com destino a Paris, teve o seu itinerário alterado, diante de um sequestro arquitetado por indivíduos pró-Palestina, atitude reativa ao encarceramento de palestinos pelas forças rivais israelenses.

A aeronave sofre um pouso forçado em Uganda, na cidade de Entebbe, como já denuncia o título, momento em que os sequestradores têm a mais plena convicção que, as ameaças aos passageiros e à tripulação, trarão êxito ao plano, cujo objetivo é a libertação dos prisioneiros palestinos, tendo Idi Amin (Nonso Anozie), ditador local, cooperando com o esquema previamente maquinado.

Comandada por quatro elementos, dois palestinos e dois alemães, a missão mantém o foco nos germânicos Brigitte Kuhlmann (Rosamund Pike) e Wilfried Böse (Daniel Brühl), que desconhecem a tática do governo israelense, que relutante em negociar, decide reunir soldados para invasão do aeroporto, dando início à Operação Thunderbolt, que acarreta vários óbitos, ainda que de poucos civis.

Os personagens de 7 Dias em Entebbe possuem uma austeridade tão padronizada que se torna impensável desmembrar as suas características, salvo exceção de quando Wilfried Böse profere um discurso em que discorda dos atos opressores de alguns de seus compatriotas, momento em que Brühl insere algum vestígio de compaixão ao revolucionário alemão louco que quer lançar bombas na consciência das massas, como ele mesmo se define na posição de abastado, ao menos intelectualmente. Todavia, o filme também assume uma rigidez ao se ater de modo mecânico à sua forma de contar a história, ao usar letreiros em demasia e ao se reinventar tardiamente no que diz respeito a recursos de edição.

Em quase toda a sua extensão, o longa apresenta uma montagem um tanto normatizada, cadenciada apenas pela diversificação de locais das ações, como o Centro de Inteligência de Israel, o Q. G. das Forças Especiais Israelenses e o próprio Aeroporto de Uganda, principal ambiente do enredo e também local em que as sequências incutem no espectador a sensação de clausura, iniciada no compacto habitáculo do avião.

Contudo, o diretor encontra um desvio fugidio, que é a adição das cenas de dança contemporânea ritmadas ao abrir fogo, no momento da execução da Operação Thunderbolt. Ainda que fugaz, a cinesia e os deslocamentos milimetricamente ensaiados paramentam a sucessão de imagens diante de seus cortes rápidos, em especial quando a movimentação de câmera percorre os corpos, zelando pela variação de planos que concede declarado andamento à manifestação ali expressa, tanto na dança quanto no confronto. A incorporação da coreografia do corpo de bailarinos da Batsheva Dance Company enerva a obra, até então encruada, por sua condenável montagem sem atrativos, a cargo do também brasileiro Daniel Rezende, colaborador de Padilha desde o primeiro Tropa de Elite, e recentemente muito falado por seu trabalho na direção do incensado Bingo: O Rei das Manhãs (2017).

Aristóteles defendia que um evento real deve ser transformado e caber dentro do tempo dramático. A destreza de José Padilha ao cumprir essa missão é algo axiomático, embora o diretor pareça não compreender a duração determinante da ação explorada, que recorre a uma dinâmica casual, que beira o didatismo. Sendo assim, 7 Dias em Entebbe liquida o potencial de seu acontecimento enquanto narrativa em detrimento de sua forma ultrapassada.

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