Críticas

Crítica | O Homem das Cavernas

Claymation, técnica de animação que utiliza massinha de modelar unida ao stop motion, ficou muito conhecida a partir de obras do Aardman Animations, estúdio britânico responsável por longas como A Fuga das Galinhas (2000) e Wallace & Gromit – A Batalha dos Vegetais (2005), este último vencedor do Oscar. Dirigidos pelo diretor e produtor Nick Park, as produções possuem uma assinatura visual já associada ao realizador, que chega agora com O Homem das Cavernas, reiterando a estética característica de seus trabalhos.

Vivendo harmoniosamente num vale, uma tribo pré-histórica comandada pelo pacífico ancião Chefe Bobnar, tem a sua tranquilidade afetada quando Lord Nooth, líder do povo do Bronze, invade o território com a finalidade de explorar o minério que acredita existir na localidade. Expulsos do lar, os primitivos são obrigados a seguir para as terras áridas, momento em que Dug, importante elemento do grupo, desvencilha-se da tribo, numa escapatória não planejada que o leva ao povoado regido por Nooth, atravancado pelo clima opressor, causado principalmente pelo recolhimento abusivo de dinheiro.

Com o objetivo de reaver o vale, um acordo é firmado, cuja definição será traçada a partir de uma partida de futebol. Já distante do povoado, Dug segue para as terras áridas com a missão de reencontrar os primitivos e introduzir a eles a prática esportiva, mas para isso contará com a assistência de Goona, habitante do povo do Bronze, com habilidades futebolísticas invejáveis. Craque de bola, a garota os guiará nos treinos, apresentando-os as regras táticas, etapa da história que estabelece o humor que a permeará até o seu término.

A aplicação da comicidade parte da ausência de conhecimento dos primitivos sobre os elementos que compõem a civilização, mas ainda que soe inocente, a ingenuidade do humor pouco contribui para que esse seja um elemento marcante da trama, que peca pela falta de ousadia, por estar presa a um arcabouço narrativo comum, que não apresenta direcionamentos críticos para questões políticas ou de gênero. E olha que o filme fornece elementos para isso, seja quando exibe um tirano estelionatário numa posição de autoridade ou mesmo ao colocar a figura feminina capitaneando um time inteiramente de homens. A animação não se preocupa em relacionar temas latentes na socidade de hoje com o que já possui em seu enredo, fato que atesta o enfraquecimento da história.

A partida de futebol entre a Idade da Pedra e o Mundo do Bronze faz com que o stop motion se torne especialmente aparente nesses instantes. A mobilidade possibilitada pela ação que a prática demanda, acentua os movimentos dos personagens, porém provoca uma certa desconfiança em relação ao aperfeiçoamento da técnica, por atribuir um deslocamento mais rijo que fluído aos personagens.

Todavia, há aspectos que regeneram a animação, como a inventividade na aplicação de figuras de animais em objetos utilizados em práticas cotidianas. Além do atrativo visual, a graça dos pregadores de roupas que simulam jacarés e do barbeador em forma de besouro, é incontestável. A criatividade empregada durante as cenas dos treinos nas terras áridas também é um destaque, visto que aproveitam a constituição natural do ambiente e a composição rochosa para estruturar esse período de preparação para o jogo, fazendo disso uma adaptação e não um empecilho, adicionando gracejo a esses fragmentos.

A animação que tem Eddie Redmayne (Animais Fantásticos e Onde Habitam, 2016) emprestando a sua voz a Dug, bem como Tom Hiddleston (franquia Thor, 2011, 2013 e 2017) e Maisie Williams (série Game of Thrones, 2011-2017) a Lord Nooth e Goona, respectivamente, não encontra o seu norte devido à banalidade com quem trata a sua narrativa. Sendo assim, a história de O Homem das Cavernas soa tão primitiva quanto os personagens que a integram.

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