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Crítica | Vingadores: Guerra Infinita

Vingadores: Guerra Infinita chega aos cinemas com a condição de filme mais aguardado em dez anos do Universo Cinematográfico da Marvel. Não à toa, o longa é a junção de todos os filmes lançados até agora, mas passa longe de ser um ponto final e, apesar de ser recompensador para os fãs, não escapa de trazer algumas decepções.

A Marvel Studios, encabeçada por Kevin Feige, conseguiu produzir um filme que soube trazer suas piadas leves ao mesmo tempo que mostra um ar sombrio. A primeira cena, continuação direta de Thor: Ragnarok parece já alertar o público para todo o tom do filme, que é melancólico mesmo quando lhe faz rir. Talvez o único momento de clima alegre do filme sejam alguns poucos segundos onde vemos pela primeira vez no longa os Guardiões da Galáxia, mas isso logo acaba. A iluminação do filme é escura e triste em todo lugar com exceção de uma ensolarada de Wakanda. A câmera se mostra inquieta, ajudando a fabricar a tensão que vemos em tela, seja na sua angulação, falta de estática ou closes precisos em semblantes desolados.

Os Irmãos Russo conseguiram respeitar todos os filmes da Marvel. Até mesmo o clima único dos Guardiões da Galáxia, Thor: Ragnarok e Pantera Negra é respeitado, o que faz com que todo o elenco, sem exceção, esteja completamente confortável. Com o número absurdo de personagens, nem todos conseguem um bom tempo de tela, e alguns heróis, como Falcão, Groot ou Soldado Invernal, acabam por aparecer mais nos momentos de ação. Não por isso suas participações são menos importantes, já que basicamente todo personagem é bem explorado se o espectador estiver à par de todos os filmes que levaram até esse. O destaque, é claro, fica para os três Vingadores que tiveram trilogias próprias até o momento.

Robert Downey Jr. ajudou a dar início à tudo e a evolução de seu personagem já é notável há alguns filmes. Infelizmente, isso faz com que sua personagem esteja pronto há alguns filmes, o que pode fazer com que, no meio de tanta coisa acontecendo, mais um pouco de Tony Stark pareça um tanto enjoativo. Ainda assim, vê-lo contracenar com Benedict Cumberbatch e Chris Pratt dão um novo fôlego para a personagem. Chris Evans traz um Steve Rogers muito mais maduro e confiante. Livre das amarras de ideais que o prendiam, essa é talvez a primeira vez em que sua personagem faça sentido como um líder, inspirador mesmo com um semblante cansado. Chris Hemsworth é o grande destaque. Depois de Taika Waititi liberar Thor de seu drama familiar e dar a oportunidade de Hemsworth trabalhar o seu humor na tela, até suas cenas dramáticas ganharam força. O ator está impecável. A química entre Elizabeth Olsen e Paul Bettany também apresenta um convincente cenário à mais para o filme, que dá a oportunidade de ambos explorarem boas atuações, com destaque para Olsen.

O filme não necessariamente é para aqueles que acompanharam todo o MCU, mas sua total amplitude e aproveitamento dependem, sim, desse fator. Algumas piadas recompensam aqueles que estão a par realmente de todos os filmes e, caso o espectador não esteja, esse pode se entender no meio de um comentário de humor non sense, o que quebraria um tanto do clima do filme. Graças à isso, o público que tiver visto todo os filmes até agora perceberá que os diálogos são muito bem elaborados, condizente com todo o universo criado e com as personagens. Ainda assim, não é livre de pecados e alguns personagens acabam por ser uma metralhadora de frases de efeito.

O roteiro não é brilhante, mas cumpre bem o seu papel. O final do longa é previsível para aqueles que conhecem bem os quadrinhos e, infelizmente, para aqueles que se mantém antenados nas notícias ou teorias elaboradas pela internet. Algumas falhas são visíveis, principalmente no que toca a busca de Thanos pelas Jóias do Infinito por meio de sua armada de confiança, a Ordem Negra, o que não prejudica muito o filme mas pode fazer o espectador se questionar duas ou três vezes. Thanos prometia ser o maior vilão da Marvel e desempenha um ótimo papel, mas ainda não é tão bom quanto Killmonger foi em Pantera Negra. Apesar de suas motivações serem compreensíveis, sua amoralidade impede uma real empatia do público para com ele. Ainda assim, o Titã Louco é um vilão digno e à altura do filme.

O final do filme perde força quando sabemos que aquele não é um final de verdade. Apesar de ser o filme mais sombrio da Marvel, e de fazer o público sair da sala de cinema com um gosto amargo na boca, tudo o que foi feito no filme tem cara de que deve ser revertido em algum momento. O filme encerra um arco, mas não parece mostrar toda a história e, por mais que tudo pudesse acabar por ali, a impressão é de que não vai, infelizmente. Assim, o filme mais corajoso da Marvel se revela não tão corajoso assim.

Vingadores: Guerra Infinita é um dos mais notáveis filmes de seu meio, e um brinde ao espectador que acompanhou os dez anos do estúdio e nitidamente um resultado que só poderia vir depois de uma grande série de filmes. É uma pena que o filme venha com confirmações de que mais filmes existirão, ou poderia ser um belíssimo final. Mesmo o público que não é tão fã da Marvel, deve se divertir bastante. Apesar de alguns poucos pecados, Vingadores: Guerra Infinita está, no mínimo, entre os três melhores filmes do estúdio e é uma aula para o cinema em matéria de como elaborar uma franquia.

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