Críticas

Crítica | Gringo: Vivo ou Morto

O tráfico tem sido um tema bem usual em muitas narrativas, trazendo consigo elementos que propiciam ainda mais ação a esse modelo de filme, geralmente envolto por conflitos a granel. Gringo: Vivo ou Morto, de Nash Edgerton, insere artifícios desses enredos criminais tão específicos em sua fórmula, mas acrescenta um frescor à produção, por focar no poder do ramo farmacêutico e na atuação das corporações diante de todo comando que essa indústria parece ter nas mãos. Entretanto, sobrecarrega a trama de personagens, tornando esse o fator responsável por ocasionar desarmonia à sua história.

Parece não haver nada mais conveniente no ambiente de trabalho do que ser protegido por um camarada de longa data, que inclusive lhe conseguiu um cargo. Mas o que fazer quando esse conforto aparente está prestes a ser interrompido? Mesmo sem ter uma resposta imediata, isso acontece na vida de Harold Soyinka (David Oyelowo), sujeito que após saber que uma possível fusão com outra empresa pode custar o seu emprego, questiona o seu amigo Richard Rusk (Joel Edgerton), que utiliza a sua lábia para contornar a situação, escondendo a realidade do caso, em meio a outros segredos, como o affair mantido com Bonnie (Thandie Newton), mulher do amigo.

Com viagem marcada ao México, realizada ao lado de Richard e Elaine (Charlize Theron), sua companheira de transações, Harold tem como objetivo auxiliar seus superiores na resolução de esquemas escusos da empresa do ramo farmacêutico da qual fazem parte, porém quando tudo parece sanado, ele forja um sequestro com o intuito de receber uma quantia substancial em dinheiro. Contudo, outros quiproquós surgirão, envolvendo Pantera Negra (Carlos Corona), chefão de um cartel mexicano vinculado ao estratagema proposto pela corporação da qual é contratado.

O filme acerta ao exibir os bastidores das negociações, adicionando nomes de grandes laboratórios na jogada, mas anula o seu êxito ao inserir sucessivas piadas jocosas, de baixo calão e de conotação sexual, todas reservadas a Elaine, lembrada não só por seu despudor, mas pela insistência do roteiro de Anthony Tambakis (Guerreiro, 2011) e Matthew Stone (O Amor Custa Caro, 2003), em sustentar a sua escassez de valores.

O teor desmedido também atinge o protagonista defendido por Oyelowo. Ferido com o fim de seu matrimônio e temendo ser demitido, o personagem, a princípio, demonstra desespero somado a atributos maliciosos, ainda que tênues, de sua personalidade, mas depois a situação muda drasticamente de figura. Uma aura de oprimido acrescida de credulidade incorpora aspectos que dão vazão não mais às suas características do começo do longa, reservando a Harold uma ingenuidade seguida de desenfreada tolice que logo se instaura, capaz de confundir o espectador, além de contribuir para a manifestação de um sentimento de antipatia, pelo descontrole de sensações.

Há uma desarmonia que se reflete muito na história paralela da jovem Sunny (Amanda Seyfried) e de seu namorado Miles (Harry Treadaway), que tarda a ressoar no escopo central do filme, agregando, do ponto de vista narrativo, uma expectativa desnecessária ao entrelaçamento de questões a serem resolvidas, que permeiam toda a trama. Os dois personagens são pouco explorados a ponto de não compreendeermos a dimensão de seus conflitos, impedindo-nos de enxergá-los como a representação do ser humano barrado por suas querelas insolúveis, novamente devido ao roteiro mal desenvolvido, que sequer situa sobre as experiências dos jovens, nesse campo dramático que os trata feito lampejos diante da desmesura da obra.

O acúmulo de ações determina um bom ritmo à película, entretanto, por mais que esse aspecto se perpetue no decorrer da história, ele não a redime de equívocos como o excesso de humor negro manifesto em piadas de gosto duvidoso. Gringo: Vivo ou Morto é um filme cheio de boas intenções, porém a falta de cuidado no desenvolvimento de seus personagens o torna apenas um registro que enfatiza a ação, esquecendo-se de conceder a devida atenção aos elementos capazes de conduzi-la sem esforço.

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