Críticas

Crítica | Não Se Aceitam Devoluções

Por Marx Walker

No próximo dia 31 de maio estreia nos cinemas do Brasil o filme mais desafiador da carreira de Leandro Hassum. E um dos motivos é autoexplicativo: Trata-se do remake de No Se Aceptan Devoluciones, filme que ostenta o recorde de ser a obra de língua hispânica mais vista na história dos cinemas estadunidenses, tendo 18 milhões de espectadores somente no México.

Mas os motivos que levam a atribuir a dimensão disso entre as partes citadas vão muito além do sucesso de bilheteria. Hassum protagonizará um drama, uma associação que nos vai historicamente na contramão quando a figura desse ator nos vem à cabeça, e embora seu personagem seja de comportamento cômico (daí sua escolha), esse é o grande desafio que fará público e crítica julgarem se Leandro pode transitar com tranquilidade por outro gênero que não o da comédia.

Nesse remake abrasileirado, a obra conta a história de Juca Valente, um dono de quiosque no Guarujá-SP que só quer saber de sair descompromissadamente com todas as belas mulheres que ele arruma (Leandro pegador, parece que o jogo virou contra você, internauta). Sua vida muda radicalmente quando a americana Brenda (Laura Ramos) surge na sua porta com um bebê que ela alega ser fruto de uma noite dos dois.  Em um momento de distração, a mulher some e deixa Juca com a pequena Emma.
Desesperado, ele começa uma busca pela mulher e vai parar nos Estados Unidos, onde acaba arrumando um inusitado emprego que não combina em nada com seu espírito medroso: Dublê de cenas perigosas.

A partir daí a trama se desenvolve e Hassum alterna agudamente entre o riso e o drama, com muito mais êxito, pasmem, neste segundo. O que é uma ótima surpresa.
Sua atuação em cenas que requerem um grau de seriedade profunda (dessas de discursar com os olhos), selam uma rara vitória em cima do estereótipo impregnado a atores que ficam marcados por um só gênero de atuação, algo que o também iconizado Jim Carrey, por exemplo, sofreu para desencarnar.

Dá para dizer, por fim, que alguém que nunca viu Leandro atuando, pode percebê-lo como um ator de drama, mandando até que bem na comédia, dado que as cenas desta última possam soar um tanto caricatas demais.

O abrasileiramento da obra é uma preocupação que fica marcada sempre que possível, e vários serão os momentos em que o espectador vai identificar elementos que remetam ao país de Juca e Emma, interpretada competentemente na segunda fase por Manuela Kfouri.

Além do cuidado com a edição de cores para enfatizar peculiarmente cada região, nota-se ainda uma competente fotografia, que ajuda a marcar cada cena com o enquadramento que merece. Já o roteiro tem em sua totalidade um retalho de referências que nos fará sentir aquela coisa de “já vi isso num filme acolá, mas não sei qual é, mas tá tudo bem, vamos em frente.”

Nas cenas mais emotivas, a trilha sobra no intuito de complementar, mas só sobra porque não foi percebido que os atores dariam conta da missão no ato, e isso atrapalha o suficiente para se sentir um cheiro de clichê pelo ar.

Por fim, se você gosta de um típico filme para exportação (desses que cai como uma luva na Sessão da Tarde), mas que fica bem onde foi criado, pode ir no cinema sem receio de sair de lá decepcionado. E dado a presença de Leandro Hassum, não custa reforçar o recado: Não se aceitam devoluções de ingresso se você for achando que vai mais rir do que chorar.

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