Críticas

Crítica | Paraíso Perdido

A diretora Monique Gardenberg permaneceu muito tempo afastada de produções vinculadas ao cinema; seu mais recente longa-metragem foi Ó Paí, Ó, de 2007, deixando o público órfão de seus trabalhos nas telonas. Após mais de uma década distante, ela retorna com Paraíso Perdido, filme que nos apresenta histórias intrincadas a partir dos dramas sortidos de seu enredo, que apesar de variado, não atrai a ponto de justificar a dimensão pouco crível de seus conflitos.

O lugar para aqueles que sabem amar, assim é definido, logo no início da película, o clube noturno Paraíso Perdido, estabelecimento comandado por José (Erasmo Carlos), cuja família também está envolvida nos negócios, realizando apresentações musicais na boate, lugar onde seremos apresentados não só aos dotes vocais do filho do patriarca, Ângelo (Júlio Andrade) e ao neto Ímã (Jaloo), que aparece sempre como drag queen no palco, mas também a Odair (Lee Taylor), policial contratado para proteger o travesti, agredido nas cercanias do clube.

Várias histórias paralelas são acrescentadas à trama, incluindo a de Eva (Hermila Guedes), filha de José e mãe de Ímã, presa há 20 anos, por um crime que compreenderemos o motivo de sua concretização ao longo da obra. A aparição de Malu Galli, que interpreta Nádia, genitora de Odair, é importante para evidenciar o aspecto inclusivo do longa, visto que sua personagem e o filho se comunicam pela linguagem de sinais, devido à perda de sua audição após ser vítima de violência de um antigo parceiro.

Além de trazer ainda mais visibilidade à Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), a obra não se acanha ao mostrar o romance de Ímã com o professor de inglês Pedro (Humberto Carrão), exibindo uma envolvente cena de sexo, que reafirma esse caráter abrangente e acolhedor de identidades que a produção sabe sustentar. Vale ressaltar que Jaloo, cantor tido como uma das novas apostas da música eletrônica brasileira, desponta pela entrega de sua atuação, que convence graças ao seu despojamento somado à ausência de amarras que o papel requer.

As músicas que compõem o filme são um caso à parte por avivarem lembranças relacionadas ao cancioneiro brega, colocando Escalada, de Augusto Cesar, Você Não Vê, de Fernando Mendes, Minhas Coisas, de Odair José e Não Creio em Mais Nada, de Paulo Sérgio, ao lado de clássicos de Roberto Carlos e Raul Seixas. Entretanto, as surpresas ficam por conta da interpretação de Jaloo para Amor Marginal, de Johnny Hooker, cujo destaque se dá por ser o único artista com sucessos recentes agraciado com um cover, e também ao ouvirmos a versão em português para You’re So Vain, hit de Carly Simon, que impressiona pelo gracejo bem empregado à letra.

Ainda que consiga se relacionar com a narrativa, a música não se firma como o elemento mais atraente da película, que exibe uma adequada artificialidade marcada principalmente pelas luzes da boate, apresentando-nos a diversidade através das tonalidades expostas, nesse leque imagético dos mais coloridos, que auxiliam na potencialização do aspecto vivaz da obra.

Contudo, o grande problema do filme de Gardenberg está em sobrecarregar a sua trama de personagens, tendo dificuldade de lidar com todos com a mesma atenção e profundidade; é só tomar como exemplo a participação de Seu Jorge na pele de Teylor, uma vez que seu papel soa como uma figuração de luxo. Além dessa deficiência, o entrelaçamento das histórias soa inverossímil pelo encaixe extremamente ordeiro das situações. Sendo assim, Paraíso Perdido convida o público apenas a se deleitar com o seu visual matizado, que propicia a combinação perfeita com essa ode ao cafona proposta pela realizadora.

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