Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas chega nas telonas com a missão de mostrar que o Universo DC, aos menos nas animações, ainda é capaz de agradar a crítica e o público para a Warner Bros. O longa usa e abusa da cultura pop, principalmente do seu próprio universo, para trabalhar o recurso de metalinguagem que já vemos empregado na série animada. Dessa forma, o filme consegue se mostrar atual e crítico para aqueles que souberem entender suas entrelinhas, mostrando como Deadpool é um insulto ao gênero cômico quando tenta usar da censura para justificar piadas pobres, com o intuito de simplesmente agradar ao público.
O longa é, de certa forma, um gigante episódio da animação. O traço continua o mesmo, apesar de melhor tratado, lembrando o tempo áureo da Cartoon Cartoons, da Cartoon Network, dos anos 90. Os primeiros minutos do longa, inclusive, poderiam muito bem ser o início de um episódio de As Meninas Superpoderosas. Isso acontece tanto por sua trama quanto pelo desenho de seu cenário e figurantes. Logo, os Jovens Titãs entram em ação, mostrando a primeira de suas aventuras musicais que recheiam o filme em um número cabível e que não satura mesmo o espectador mais velho. O longa já começa, assim, na brincadeira com os mais diversos gêneros e, mesmo que o musical esteja presente, serve em sua maioria somente para quebrar o enredo e dar outro clima para a animação.
A trilha sonora do filme também é cheia de referências. Fora as músicas originais cantadas pelos personagens, uma nova roupagem da música clássica da série animada Jovens Titãs, anterior à Os Jovens Titãs em Ação!, está presente nas mais diversas cenas de ação. Além de outros clássicos do cinema, como a trilha de De Volta Para o Futuro e Ciclo Sem Fim, que Elton John interpretou para a abertura de O Rei Leão, onde há uma divertida comparação à ascensão de Robin com o nascimento de Simba, que termina com o mesmo triste fim de Mufasa.
A trama se mostra bastante atual ao lidar com a realidade da superexposição de super-heróis no cinema. O enredo se desenvolve a partir da ânsia de Robin pela fama, que a todo custo quer ter um filme seu, seja solo ou com sua equipe. O herói se decepciona a perceber que mesmo Alfred Pennyworth é cotado para ter seu próprio longa, mas ele é deixado de lado. Assim, o filme faz uma sadia brincadeira com a relação de Robin com o Homem-Morcego, ao mesmo que explora a condição atual de Hollywood, que fornece ao menos quatro filmes baseados em vigilantes mascarados ao ano, sem contar as diversas séries também baseadas em super-heróis que permanecem ou chegam como novidade para a televisão e os serviços de streaming.
A tradução e dublagem pouco perdem para o original e, em alguns momentos, chegam a aprimorar o longa. O uso de expressões brasileiras ajuda o público a se conectar melhor com a personalidade de seus personagens. Na voz original podemos contar com ótimas atuações como a de Kristen Bell como Jade Wilson e Will Arnett como Slade. Este último produziu o longa, sendo uma última escolha para tal, já que interpretou Batman em LEGO Batman: O Filme, uma notável inspiração para as referências pop abordadas pelo filme. Outras participações notáveis são de Michael Bolton e Nicolas Cage, que finalmente conseguiu interpretar o Super-Homem. O ator é tão fã do personagem que seu filho se chama Kal-El Cage, e atua no longa como um jovem Bruce Wayne.
Na dublagem temos as já célebres atuações de Manolo Rey como Robin, Eduardo Borgeth como Ciborgue, Mariana Torres como Ravena, Charles Emmanuel como Mutano, Ricardo Schnetzer como Slade e Luisa Palomanes como Estelar. É nítido que todos estão à vontade em suas personagens, tendo trabalhado com elas já por anos, desde o desenho original do grupo, que focava menos no humor e mais na ação. Outra participação destacável é a de Guilherme Briggs, que não só atua como o Super-Homem, mas também em momentos mais diversos, como na narração de trailers apresentados durante o longa.
O brilhante do filme fica por conta de sua trama que, mesmo despretensiosa e dando espaço para piadas mais simples, consegue também abrir alas para um nível alto de sofisticação na hora de se jogar sem vergonha dentro de suas referências. Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas é capaz de brincar tanto com as aparições de Stan Lee quanto com as reclamações da crítica sobre os live actions da própria casa, como Batman V Superman: A Origem da Justiça. O público infantil deve se divertir bastante, mas são os mais jovens mais velhos que terão uma visão maior da amplitude do filme, tanto por entenderem melhor suas inúmeras referências, quanto por compreenderem melhor sua crítica final sobre a alienação do público e do gênero dentro da indústria.