Críticas

Crítica | 22 Milhas

Estreia nos cinemas 22 Milhas, a mais nova parceria entre o diretor Peter Berg e o ator Mark Wahlberg. Se acha que essa união se resume ao fato de seus sobrenomes rimarem, está enganado. Este é o quarto trabalho deste duo. Na ordem: O Grande Herói em 2013, Horizonte Profundo – Desastre no Golfo em 2016, O Dia do Atentado também de 2016, e agora, 22 Milhas.

Vale um breve retrospecto para compreender melhor o filme mais recente. O currículo da dupla está equilibrado, sendo seus dois primeiros filmes superiores aos dois últimos. Assim, O Grande Herói, mas principalmente Horizonte Profundo – Desastre no Golfo mostram-se filmes bem vigorosos. Não há busca por reflexões intensas em nenhum destes filmes, mas existe uma vibração que compensa, tornando-os agradáveis. Já O Dia do Atentado, têm suas qualidades, mas é irregular nas dinâmicas, no ritmo. O fato do filme de 2016 ter mais de duas horas de duração cooperam para essa instabilidade narrativa. Agora, sobra decepção ao assistir 22 Milhas, pois se mantido o nível médio do que havia sido feito antes, poderia se considerar de bom agrado. Ao invés, o que assistimos é uma sucessão de equívocos emaranhados que jogam para baixo cada um dos aspectos técnicos, ou de tratamento das personagens, aqui de maneira bem superficial.

O filme mostra, porque contar está fora de cogitação, a trajetória do agente da CIA James Silva e sua missão de transportar o informante Li Noor da sede de inteligência americana até o aeroporto, que fica a 22 milhas de distância.

Antes de entrar nos deslizes do filme, vale exaltar sua única virtude: Iko Uwais. O ator, dublê, coreógrafo nas artes marciais nascido na Indonésia é uma boa revelação deste desastroso projeto. Sendo ainda jovem, é possível prever um futuro promissor ao ator, que pode ser comparado em estilo a uma mistura de Jackie Chan com Jean-Claude Van Damme nas partes coreografadas. E mais, é o único ator de todo o elenco, que apresenta uma atuação dramática digna.

Aí cabe a pergunta: de que adianta ter boas coreografias se a câmera não consegue traduzir ou valorizar minimamente tais atributos, seja plasticamente ou pela engenhosidade dos movimentos? Infelizmente, este é o caso em 22 Milhas. Apenas uma cena de luta tem algum valor, que é quando Li Noor está algemado a uma cama na enfermagem na sede da CIA no país asiático. Nesta, ao contrário de todas as outras cenas de luta no filme, a câmera está um pouco mais distante dos dublês, e não há uma infinidade de cortes, que apenas deixam tudo bagunçado, confuso, além de esteticamente desinteressante. Este um dos pontos mais baixos no longa, a montagem que não consegue costurar, mas retalhar, chegando a incomodar. Pior que essa edição frenética não se contenta apenas com as genéricas cenas de ação, especialmente as sonolentas troca de tiros entre mocinhos e bandidos. Não, mesmo nos momentos mais cadenciados, de interlocução, os cortes continuam na mesma velocidade das centenas de tiros disparados.

Talvez, a montagem agitada fosse para distrair, no sentido de confundir, o espectador para este não reparar na pobreza dos diálogos por toda a trama. Se era essa a ideia, não funcionou. Não existem quaisquer predicados de roteiro em 22 Milhas. Seja na conversação entre personagens, no tratamento destas, na evolução do enredo, na catarse climática, nada acerta o alvo. Na realidade, passa bem longe. E, ainda proporciona tentativas de discurso de cunho espertinho a um Mark Wahlberg completamente fora do tom.

Aqui, uma defasagem no centro do longa que é o seu protagonista. Óbvio que se o roteiro não ajuda, e a direção é das mais frouxas, consequentemente, protagonista e boa parte do elenco vão sofrer em decorrência. Desses, Mark Wahlberg é quem sofre mais. Em uma performance de uma personagem sem força ou resistência para segurar uma narrativa nas costas, o astro atira para tudo o que é lado, não com armas, mas com a língua mesmo. Na construção da personagem era para ser uma pessoa de comportamento bipolar pós-traumático, mas na verdade mais parece um homem de meia idade irritadiço, que fala tão rápido quanto o Mark Zuckerberg do filme A Rede Social de David Fincher.

Com tantos problemas, e lembrando que 22 Milhas é uma coprodução chinesa, ficam duas opções claras ao espectador: assistir ao filme ou deixar esses problemas para os chineses.

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