Críticas

Crítica | A Freira

A Freira chega aos cinemas com a missão de fazer justiça ao universo criado pela Blumhouse Productions em 2013 com Invocação do Mal, além de se mostrar um spin-off tão forte quanto Annabelle. Com toda essa bagagem, o longa deixa a desejar, se tornando uma obra que repete aquilo que já se viu no gênero e na saga, ao mesmo tempo em que se repete, chegando a ficar cansativo.

Com a história creditada à James Wan, que dirigiu Invocação do Mal e produziu sua continuação, e roteiro de Gary Dauberman, que teve a mesma função em Annabelle e Annabelle 2: A Criação do Mal, é difícil entender como o longa se perdeu tanto. Dauberman fez ótimos trabalhos, ao menos em questão de criar um arco, nos dois spin-off, além de uma bela adaptação em It: A Coisa, baseada na obra de Stephen King. Dessa forma, era de se esperar um trabalho mais conciso em A Freira, que acabou indo por água abaixo. A trama resolveu se focar em uma locação e, basicamente, em três personagens. Assim, o longa se tornou repetitivo e previsível.

Com poucos sustos, o filme parece tentar se focar no suspense. Nesse aspecto, até é possível que o espectador consiga se agradar em alguns momentos, mas a execução como um todo é falha graças aos recorrentes alívios cômicos. Aqueles que forem ao cinema para sentir medo podem se pegar em gargalhadas nas mais diversas intervenções de Frenchie, personagem interpretado por Jonas Bloquet. De longe o pior personagem, Frenchie conta com uma ótima atuação de Bloquet, mas quebra o gênero de terror em todo momento que aparece. Seja com piadas ou reações, que até são legitimamente engraçadas, ou com seus momentos de herói de filme de ação, até mesmo o seu figurino desafina com o resto do filme. A caracterização de Bloquet , principalmente suas roupas para encarar o terceiro ato do filme, parecem ter saído de um filme fantástico e não deixariam a desejar em um live-action de A Bela e a Fera.

A Freira se repete tanto e avança tão pouco na sua história que é até difícil separar dignamente seu conteúdo em três atos. A mesma coisa parece se repetir o filme todo com suas duas personagens principais. Lamentavelmente, o suspense acaba por se basear em aparições das mais comuns, como aquelas que, ao longe, repentinamente aparecem nas costas de uma personagem ou vultos que passam na frente da câmera. Ainda assim, há de se elogiar o enquadramento e a iluminação de Corin Hardy. Seu trabalho no longa lembra o já feito por este em A Maldição da Floresta. A trilha sonora também merece destaque, capaz de segurar o suspense no ar com maestria até que um alívio cômico chegue para atrapalhá-la. A música é uma das principais responsáveis pelos grandes sustos que o público possa ter, mas mesmo usando esse artifício, não se pode chamar a fórmula de preguiçosa, já que ela se mescla bem com o que acontece na câmera.

A locação é bem escolhida, mas poderia ser melhor explorada. Pouco se usa do fato do filme se passar na Romênia. O que por um lado é bom, já que o filme evita cair em clichês do exótico do Leste Europeu, por outro, o longa poderia ter acontecido em qualquer lugar. Ainda na ambientação, quase nada é explorado do catolicismo em geral, que cai em referências básicas como uma cruz de ponta cabeça. Desse modo, o simbolismo de A Freira se mostra pobre aos olhos daqueles que esperam um maior aprofundamento de suas vertentes.

No quesito de atuação, não há nada do que se reclamar. O retorno de Bonnie Aarons como a Freira é certeiro, apesar do papel pouco exigir da atriz, além de sua aparência maquiada. O experiente Demián Bichir também segura bem o seu papel, como costuma fazer habitualmente em seus trabalhos. O protagonismo do filme recai sobre um nome conhecido da franquia. Taissa Farmiga, irmã mais nova de Vera Farmiga, mostra que pode se manter muito bem com um papel principal. É tão justo dizer que tanto Demián quanto Farmiga estão ótimos nos mais diversos momentos de suas personagens, mesmo em situações de extremismo, quanto imaginar o quão mais interessantes teriam sido essas atuações se a conjuntura do longa permitisse circunstâncias mais variadas.

A Freira cumpre alguns papéis importantes para a sua franquia, como expandir o universo de Invocação do Mal e até explicar melhor sua conexão com Invocação do Mal 2, que diferente de Annabelle no primeiro filme, parece propositalmente jogada na continuação, como uma artimanha industrial para gerar o spin-off. Desse modo, a própria existência do longa parece tão forçada quanto suas situações repetitivas, mesmo que o final possa ter um pequeno brilho de criatividade ao fugir um pouco do óbvio. O filme não faz justiça à saga encabeçada por Vera Farmiga e Patrick Wilson, e deve fazer o público se questionar se James Wan realmente deixou a franquia em boas mãos.

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