Bleach chega ao Brasil distribuído pela Netflix, que já havia trazido o anime homônimo. Ambos são baseados em uma franquia de sucesso de mangás que iniciou em 2001 e durou quinze anos nas bancas japonesas. Com esse histórico, o filme que custou pouco mais de três milhões e meio de dólares já arrecadou quase dez no mundo todo, conseguindo se pagar somente no Japão, que representa quase a metade de sua renda.
O longa condensa bem a história apresentada nas outras mídias, fazendo alterações pontuais para diminuir o nível de complexidade de sua trama, que já foi alvo de críticas em seu país de origem. Acertadamente, o filme não tenta cobrir toda a sua longa trama, dando espaço para continuações futuras. Bleach não é um original Netflix, apesar de chegar ao Brasil pela gigante do streaming, e portanto foge do fiasco que aconteceu com Death Note, que mesmo muito criticado, já tem continuação confirmada.
Shinsuke Sato dirige o filme japonês e faz um trabalho respeitoso com o mangá. Seus enquadramentos tem momentos em que lembram exatamente um quadro do mangá, conseguindo captar bem a sensibilidade de um quadrinista ao montar sua imagem. A adaptação de roteiro da obra de Tite Kubo ficou com Daisuke Habara, que fez um bom trabalho ao tentar diminuir tanto conteúdo para pouco menos de duas horas. A trama focada em Ichigo Kurosaki conta uma história fantasiosa que não fica confusa ao espectador, apesar de muita informação ser trabalhada.
O que vemos é um filme que trabalha com a clássica saga do herói. Ichigo passa pelas fases mais tradicionais dessa fórmula, tendo um trauma de infância que vem lhe cobrar uma entrada em um novo mundo anos depois, algo que o personagem rejeita a princípio, mas é forçado a assumir posteriormente, como sugere a análise de Joseph Campbell sobre a jornada do herói. Assim, a história ajuda o universo apresentado a ser mais palatável para o espectador.
Sôta Fukushi cai muito bem para o papel de Ichigo, trazendo o carisma necessário para segurar uma produção ao mesmo tempo em que atua bem nas mais diversas situações propostas ao personagem. Yôsuke Eguchi interpreta o pai de Ichigo, que após perder a mulher e ter três crianças para criar, sendo o papel mais dramático. Dessa forma, o ator se destaca bem no longa, que continua leve mesmo com esse personagem, não deixando o drama tomar conta completamente de uma cena. Hana Sugisaki teve como um presente o papel de Rukia Kuchiki, onde pode ficar mais solta e brincar bastante com as reações que vemos com frequência nos animes, abrilhantando o filme e o levando ainda mais perto das mídias aonde a história já foi contada.
Mesclando a fantasia com a realidade, Bleach consegue trazer ao live-action uma visão bastante fiel ao seu âmago, sem parecer piegas ou flertar com o trash, mesmo com o baixo orçamento. Os efeitos do filme são ótimos e não devem saltar ao olhar nem do espectador mais crítico. Assim, as criaturas do longa funcionam muito bem, e não só pelos efeitos mas pelo seu magnífico design, que já existia, mas que foi colocado no mundo real sem parecer algo nitidamente fora da realidade. Essa competência com os efeitos, somada a movimentação da câmera de Sato e a coreografia respeitosa ao mangá, fazem as cenas de ação e luta serem um dos pontos altos do filme.
O figurino também é louvável, análogo ao belíssimo trabalho feito na adaptação live action do também mangá e anime Samurai X. Ao trazer esses desenhos para a realidade, o risco que se corre em mostrar algo exacerbado que foge muito da realidade é muito grande, mas Bleach faz essa transição da forma mais fiel possível sem que isso se destaque de forma negativa. Tudo isso faz a adaptação visual ser o mais fiel possível.
Bleach é um ótimo filme para os fãs, mas melhor ainda para aqueles que ainda não conhecem sua trama ou universo, mostrando uma forma interessante de apresentar seu mundo para os novatos, que podem querer se aprofundar mais com as outras mídias. O longa é uma das adaptações mais fiéis, e com um enredo não infantil nem adulto, deve agradar ao público das mais variadas idades.