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Crítica | Gente de Bem

Chega na Netflix, a nova produção original Gente de Bem da cineasta Nicole Holofcener. O filme que teve sua estreia mundial no Festival de Toronto, veio de carona na onda de produções que retratam a relação entre jovens e as drogas, como Beautiful Boy de Felix Van Groeningen e White Boy Rick de Yann Demange. No atual momento, existe um aumento gradativo do uso de drogas entre jovens nos Estados Unidos, fazendo a overdose se tornar a principal causa de morte desta geração.

Em Gente de Bem, acompanhamos a vida de solteiro de Anders Hill, aposentado, recém-separado, morando em um condomínio, e esperando o que os ventos da liberdade podem trazer, mas antes deverá se acertar com seu passado, sua ex-mulher Helene e seu filho Preston, um ex-viciado.

A carreira da roteirista e diretora Nicole Holofcener, pupila de Martin Scorsese, não é marcada por sucessos cinematográficos, tanto que em seu currículo encontram-se mais trabalhos na televisão, em variadas séries. Seu maior sucesso nos cinemas foi com o divertido e tocante À Procura do Amor, último filme do ator James Gandolfini, morto em 2013. Há uma pequena semelhança entre o projeto original da Netflix e seu filme mais popular: ambos apresentam como é conturbada a vida pós-divórcio, no filme de 2013 de uma maneira mais solar, bem-humorada, e em Gente de Bem mais deprimida, dramática. Aqui, o ponto de desequilíbrio.

Geralmente, em comédias dramáticas, uma das emoções mais exaltadas é a melancolia. E, já é sabido que para haver, ou manifestar tal sentimento, nada melhor que a progressividade do tempo, e luz. Em À Procura do Amor, tais elementos são dispostos, principalmente o último, através do humor; já no filme atual, apenas a gradação temporal. Em anos recentes, talvez o filme que melhor harmonizou tais elementos tenha sido Café Society de Woody Allen.

Ajudaria, se no roteiro de Gente de Bem, houvesse humor de melhor qualidade, mas não é o caso. Ao invés, existe uma sisudez geral no tom, isso inclui aspectos da arte e fotografia do filme, que não conseguem criar o balanço e contraste necessário para que as pequenas ou grandes tragédias sejam sentidas de maneira mais aguda, em outras palavras, são transpassadas ações sem qualquer catarse. O ambiente, os diálogos, as personagens são demasiadamente frios, e distantes ao ponto de não aparentar genuinidade, especialmente o protagonista, interpretado pelo ótimo Ben Mendelsohn, que aqui mostra-se apenas desinteressante. Assim, levando em consideração que estamos no campo das comédias dramáticas, a falta de comoção pode atuar como uma bactéria, infectando o entretenimento e também, a reflexão que certas temáticas enaltecem.

Alguns exemplos desta falta de energia, ou vibração na história ocorrem já próximos a resolução da trama: em uma cena na floresta perto dos trilhos, e a outra no jantar da ceia de Natal. Na primeira, algo que deveria ser um tipo de clímax, a atuação do jovem ator Thomas Mann apenas parece frouxa, além de nada comovente, algo que a trilha sonora também não ajudou realçar; já na segunda, certamente o pior momento encenado no filme da Netflix, em uma cena onde todos os personagens estão diante de uma situação pós-traumática, não apenas a interlocução, mas a performance dos atores fica níveis abaixo do aceitável, nada ali parece verdadeiro, principalmente, as performances dos atores Michael Gaston e Elizabeth Marvel, que analisando dentro do contexto da história, soa ainda mais absurdo.

Talvez, a única atuação que passe incólume em Gente de Bem, seja do ator Charlie Tahan, bem natural, vibrante e de tratamento interessante, pensando no roteiro. Todo o restante do elenco, que inclui atores de calibre, como Edie Falco, Connie Britton e Bill Camp mostram-se apenas no piloto automático.

Um desperdício de grande elenco, mas essencialmente, de uma história que toca em temas relevantes à vida das pessoas, como divórcio, uso de drogas recreativas pela geração mais jovem, e o diálogo entre pais e filhos. Infelizmente, abordados de maneira muito suave e sem qualquer vigor, Gente de Bem da Netflix periga passar despercebido pelos espectadores, nesse enredo que pode ser comparado aos piores, e mais repetidos momentos das novelas brasileiras do autor Manoel Carlos, que ficou conhecido por retratar as baixezas e dramas dos bem abastados da nossa sociedade. Deslocado e sem qualquer traço pró-empatia.

 

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