Críticas

Crítica | O Mistério do Relógio na Parede

Para os que sentem falta de filmes do tipo fantasia infanto-juvenil, O Mistério do Relógio na Parede do cineasta Eli Roth é uma boa oportunidade para matar a saudades. Surpreendentemente curiosa essa incursão de Roth neste tipo de gênero cinematográfico, até porque nos acostumamos ao seu lado adulto, bem sombrio além de erótico. Filmes como O Albergue e o subestimado Bata Antes de Entrar não deixam esconder a mente perversa do diretor. Porém, Roth já se mostrou mais que um mero transgressor. Ele é capaz de elaborar uma cena que potencializa na mesma medida, abjeção e sexualidade, vide a cena da morte da personagem Lorna em O Albergue 2.

Assim, os novos ventos de O Mistério do Relógio na Parede são bem-vindos, como uma misteriosa exploração dentro da cabeça de Eli Roth. Seu mais recente filme narra a história do garoto Lewis, órfão que vai morar com o tio Jonathan Barnavelt. Todavia, Lewis nem imagina que seu tio e a vizinha que mora ao lado, a Sra. Zimmerman são feiticeiros poderosos que buscam na mansão de Barnavelt, um relógio que pertencia ao antigo dono do casarão, o bruxo Isaac Izard.

Encantador é o resultado deste longa, que mira o público infantil, e até adultos que apenas admiram histórias fantásticas de magia e mansões esquisitas. Um bom comparativo para o espectador é dizer que o filme de Eli Roth é uma mistura de Castelo Rá-Tim-Bum, famoso programa de tv dos anos 90, com os dois primeiros filmes da saga Harry Potter, ambos dirigidos por Chris Columbus. Especialmente se considerarmos a inspiradíssima direção de arte, que faz o casarão ser mais que o ambiente, vira personagem, como nos filmes de Tim Burton. Aí entra a cinematografia de Rogier Stoffers que pega carona na criatividade do design de produção, criando notável atmosfera visual que cativa e intriga.

Outro ponto na conta de Eli Roth foi a escolha do elenco, das crianças aos mais velhos. O menino Owen Vaccaro, adorável nos filmes Pai em Dose Dupla continua carismático, e aqui, ainda mais vibrante que nos filmes de comédia. Sendo um garoto, está em fase de crescimento, assim também pode crescer seus níveis de atuação, onde maior experiência irá modelar o seu trabalho frente as câmeras, e conseguirá evitar com mais facilidade certos exageros como suas cenas de choro em O Mistério do Relógio na Parede. Mas quem não está para brincadeira é o também jovem ator Sunny Suljic. Já tendo apresentado um bom trabalho no excepcional O Sacrifício do Cervo Sagrado, o garoto mostra grande personalidade em suas performances, além de muita naturalidade e vigor. Tanto que se analisarmos os projetos que fez parte, ele tem trabalhado com cineastas prestigiados como Yorgos Lanthimos e Gus Van Sant.

Entre os adultos, quem também se encontra muito a vontade, mesmo que carregado de maquilagem, é o muso do autor de cinema David Lynch, o ator Kyle MacLachlan. Mas os holofotes em O Mistério do Relógio na Parede apontam para a dupla Jack Black e Cate Blanchett.

Os astros hollywoodianos interpretam um casal de feiticeiros, mas do tipo platônico, e são para o filme o maior atalho para o riso. Jack Black, que é dos atores mais carismáticos da comédia americana consegue com seus maneirismos e expressões faciais, mesmo as mais excessivas ganhar o público facilmente; e Cate Blanchett é mais que uma atriz, já pode ser considerada uma instituição cinematográfica. Bem desenvolta no papel de uma bruxa do bem, a atriz australiana parece dominar a habilidade de transformar qualquer coisa em algo melhor do que lhe é apresentado. As cenas entre Black e Blanchett são a maior virtude do filme. Dirigidos com segurança e fluência, e óbvio, bom timing cômico, a dupla parece um casal de velhos rabugentos que ficam trocando ofensas e xingamentos com naturalidade sem cair na ofensa, lembrando os filmes de Jack Lemmon e Walter Matthau.

Gratificante que com tais predicados, Roth transgrediu de novo, talvez, de uma maneira inversa. Saindo de suas origens mais sinistras, e indo em direção ao cinema universalmente feito para a família. E, é exatamente o que O Mistério do Relógio na Parede exalta em sua história. Na parte final, os feiticeiros dizem um para o outro que o garoto Lewis é estranho, algo que no cinema de Eli Roth é boa coisa.

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