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Crítica | Sierra Burgess é uma Loser

Sierra Burgess é uma Loser estreia na Netflix como mais um filme em sua grande e recente leva de longas adolescentes, mas está longe de ser apenas mais um. Seguindo para um lado mais próximo de Para Todos os Caras que Já Amei e Barraca do Beijo do que para o besteirol O Pacote, a nova aposta da Netflix traz uma versão revisitada e moderna da peça Cyrano de Bergerac, inspirada na vida do homônimo escritor francês. A referência, apesar de óbvia, pode soar nova para os mais jovens, assim como acontece com O Rei Leão, inspirado na obra de William Shakespere, Hamlet.

A repaginação vem de Lindsay Beer, que tem pela primeira vez seu nome creditado como roteirista. A estreante mostra bem a que veio e não é surpresa ver seu nome anunciado em já mais dez filmes. O espectador que gostar do longa deve ficar de olho em seus próximos trabalhos, mesmo que esses incluam os anunciados Godzilla vs. King Kong, Masters of the Universe e Dungeons & Dragons, que fogem bastante do gênero apresentado por Beer em Sierra Burgess é uma Loser. Beer consegue trazer para as telinhas uma ótima adaptação, mesclando sua referência com a fórmula clássica de se fazer uma comédia romântica adolescente. Vale ressaltar que a produção também ficou por conta da roteirista. Embora o longa não tenha um grande destaque nesse quesito, o filme é bem produzido.

Outro aspecto sem destaque fica por conta da direção de Ian Samuels, que segue a mesma linha de mediocridade, sem atrapalhar ou encantar o público. Assim, o filme deve agradar mesmo o público mais jovem pelo seu roteiro clássico, que mesmo terminando da maneira mais óbvia possível, segue a sua trama trazendo uma história que prende graças aos seus personagens e sua capacidade de explorar assuntos atuais de forma sutil e genuína dentro de seu arco principal, que é atemporal.

Se é verdade ou não que existe uma fórmula da gigante do streaming para escolha de seu elenco, a realidade é que a Netflix acerta em cheio novamente. Shannon Purser, que se destacou com o público da própria empresa ao interpretar Barb em Stranger Things e continuou chamando a atenção na série adolescente Riverdale, protagoniza o longa e mostra que sim, consegue segurar um papel principal. Purser consegue trazer um ótimo trabalho ao interpretar uma garota que, ao mesmo tempo que sofre por não ser aceita pelos padrões de beleza da sociedade, é segura de si em seus talentos, entre eles a escrita, assim como Cyrano, e usa da sua auto-confiança para trilhar seu caminho pela trama.

Outra promessa que de atuação que vemos no filme é RJ Cyler, que funciona como um leve alívio cômico no papel do melhor amigo de Sierra. Apesar de estar um papel próximo de Billy, o Ranger Azul do filme mais recente da franquia Power Rangers, o ator consegue dar uma identidade própria ao nerd que interpreta. Noah Centineo aparece mais uma vez em um longa adolescente da casa, e interpreta basicamente o mesmo personagem que fez em Para Todos os Caras que Já Amei. Já Kristine Froseth ganha uma ótima personagem e desempenha um bom trabalho.

Do elenco adulto, dois nomes se destacam quando pensamos na suposta fórmula da Netflix para atrair um público mais nostálgico. A mãe de Sierra é interpretada por Lea Thompson, que ficou marcada no cinema pelo seu papel icônico de Lorraine Baines, mãe de Marty McFly na franquia De Volta para o Futuro. Já o papel de pai de Sierra fica por conta de Alan Ruck, que também conquistou a geração adolescente dos anos oitenta como Cameron Frye, melhor amigo de Ferris Bueller em Curtindo a Vida Adoidado. Ambos estão bem em seus papéis, que acaba tendo um destaque maior para Ruck por causa de seu tempo de tela, mas que funcionam muito bem juntos, mostrando o contraponto de duas didáticas ao se tentar criar e educar uma filha. Chrissy Metz, que interpreta a mãe de Verônica, personagem de Froseth, também entra com uma boa atuação que ajuda com mais uma visão, dessa vez mais radical, de criação.

Esses componentes ajudam a evoluir a trama de uma forma bastante interessante. A história, que começa maniqueísta, apresentando arquétipos clássicos de filmes adolescentes estadunidenses, como os perdedores nerds e os populares quarterbacks e líderes de torcidas, vai aos poucos se transformando em uma trama com mais tons de cinza, ao ponto dos conflitos não serem causados por atos de vilania puramente malignas, mas sim por reações bem estruturadas com as confusões adolescentes de personagens que flertam com atitudes éticas e não-éticas.

Sierra Burgess é uma Loser é um bom filme dentro do seu gênero, trazendo questões sobre os padrões sociais de beleza atuais ao mesmo tempo em que se banca como um entretenimento jovem e sem maiores pretensões. Uma das piadas recorrentes do filme é o fato de todos ao redor de Sierra ficarem com a impressão que a personagem é lésbica, e esse é um exemplo de como o longa poderia ter colocado os pés pelas mãos, mas ao tratar tudo com o respeito e naturalidade que se merece, se torna filme sem caráter ofensivo mesmo quando brinca com assuntos que, na maioria das comédias adolescentes, é tratado de forma pífia.

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