Ciência

Crítica – Radioactive

Estrutura acadêmica resiste, apesar de alguns deslizes em produção original da Netflix.

A atriz britânica Rosamund Pike está surfando grandes ondas atualmente. Hoje, aos 42 anos de idade, a artista se encontra em um dos momentos mais vistosos de sua curta carreira. Ela que estreou nos cinemas, como uma vilã em 007 – Um Novo Dia para Morrer em 2002, e foi galgando, passo a passo, o que hoje é uma trajetória brilhosa.

Pelo longa-metragem Eu Me Importo (2020) de J Blakeson, Pike levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em uma Comédia ou Musical, no que é uma performance acima de tudo, extremamente vigorosa. Agora, ela está de volta em mais uma produção original da Netflix. Com o mesmo vigor e intensidade, Pike estrela como a renomada física e química Marie Curie, na cinebiografia Radioactive, dirigida pela autora, desenhista, ilustradora, e agora, cada vez mais diretora Marjane Satrapi.

A produção da Netflix detalha a incrível história de Marie Sklodowska Curie e o seu trabalho nas ciências que a levou a receber o Prêmio Nobel duas vezes, em física e química, pelo desenvolvimento da teoria sobre a radioatividade, e também pela descoberta de dois novos elementos químicos, polônio e rádio, que mudaram a face do mundo no começo do século passado.

Academicismo

Onde há sombra temos luz, e onde se propaga luz, vemos a sombra. Parece algum tipo de clichê poético, não? Pode até ser, dependendo da perspectiva, contudo, uma verdade incontestável. E, é desta maneira que o roteirista Jack Thorne estruturou sua visão da vida de uma das figuras mais significativas de nossa história mais recente. E o fez de modo mais acadêmico possível.

Radioactive da Netflix pode ser dividido em duas partes.

A primeira é proeminentemente o lado luz, onde acompanhamos o esbarrar de duas almas, Marie e o também físico Pierre Curie, interpretado pelo enigmático Sam Riley. O texto de Thorne somado a sensibilidade da cineasta Marjane Satrapi trataram de elevar pela primeira metade da projeção, o quanto de luz havia nesta relação amorosa, que também iluminou o trabalho de ambos, e todas as descobertas que fizeram juntos.

Nessa parte, duas cenas ganham destaque: o primeiro beijo flamejante de paixão, e a bela cena de ambos desfrutando o dia em uma lagoa.

Mas, quando chegamos praticamente na metade do filme original da Netflix adentram as sombras. Um evento trágico desencadeia o que seria uma nova ordem na vida de Madame Curie, como era chamada.

A partir daí, a renomada cientista começa a perceber o outro lado da moeda, ou seja, o lado negativo da radioatividade, que já vinha definhando a rotina de ambos.

Esse academicismo estabelece Radioactive como uma narrativa facilmente identificável. E, é também nessa parte final que temos alguns dos momentos de maior exagero, tanto do roteiro quanto da direção. Satrapi/Thorne quiseram ir mais longe com a narrativa, e mostraram a evolução natural dos estudos da radioatividade durante o século XX, de um garotinho fazendo sessões de radioterapia para curar um câncer, até o desastre em Chernobyl.

Nessas viagens temporais, apesar do talento de Satrapi em algumas belas transições cenográficas, perde-se um tanto do que realmente é o eixo central da narrativa: a vivacidade com que a atriz Rosamund Pike imprime em cada frame.

Entre nós

A cineasta Marjane Satrapi exalta a justaposição das vidas de Marie e Pierre Curie, e a luz entre eles que criou vida, sejam pelas filhas Irène e Ève, ou pelo pequeno e fosforescente frasco de rádio entre os dois na cama. Luz oferece, luz tira.

Madame Curie que sofreu um trauma na infância fez de tudo para evitar o cenário que se revelou, a nível pessoal e no seu trabalho. Ainda assim, a nota final da diretora Marjane Satrapi em Radioactive da Netflix é de que não podemos controlar todos os eventos desencadeados por nossas escolhas, mesmo aqueles atrelados diretamente aos nossos dias. Talvez, seja por isso que Pierre levava Marie em sessões de espiritismo, tentando dar a ela mais um presente: a possibilidade de se livrar de um peso que não precisava e merecia carregar sozinha.

Agora, na história, nem é preciso dizer. Basta observar a foto final em Radioactive para compreender o que é o legado de Madame Curie.

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