Girl Power

Crítica: Sky Rojo – 2ª Temporada

Série de crime espanhola da Netflix acerta no entretenimento pulp, mas erra feio ao comentar vícios e traumas

Há seis anos, o cineasta George Miller nos deixou um presente que transformou uma franquia de mais de 40 anos. Em 2015, o diretor australiano virou a chave ao apresentar o ótimo Mad Max: Estrada da Fúria (2015), estrelando Tom Hardy e Charlize Theron. Ele, substituindo Mel Gibson como o personagem-título Max Rockatansky, enquanto ela fez o papel da destemida Imperatriz Furiosa.

Apesar da obra de Miller ter agradado uma boa porção do público, chegando a levar seis Oscars entre dez categorias concorridas na edição de 2016, muitos torceram o nariz para o quarto filme da franquia que iniciou em 1979. O principal motivo disso veio pela adição da segunda protagonista Imperatriz Furiosa nessa história, dividindo a bagagem com o louco Max.

Unindo seus corações, Miller criou uma emocionante narrativa pela busca de alguma redenção nos desertos do sofrimento, deste modo, almejando-se a liberdade acima de tudo. Bem diferente da série de crime espanhola Sky Rojo, que se encontra disponível no catálogo da Netflix, onde o foco recai no entretenimento pulp das histórias sobre vingança.

Quem lê pode estar pensando que se tratam de narrativas muito diferentes, então não cabe qualquer comparativo aqui. Porém, ambas as tramas buscam apresentar os males da opressão que sofrem as mulheres em um mundo comandado e dominado por homens. Enquanto o longa-metragem de George Miller emana sentimento, dentro de um singular e espetacular filme de ação; a produção original Netflix opta pelo caminho do entretenimento de suspense barato, exemplificando algumas fetichizações masculinas à custa da dor feminina.

Nesta segunda temporada de Sky Rojo, retomamos para a fuga das três prostitutas Coral (Verónica Sánchez), Wendy (Lali Espósito) e Gina (Yany Prado), que escaparam do bordel onde trabalhavam, e são perseguidas pelo cafetão Romeo (Asier Etxeandia) e seus capangas Moisés (Miguel Ángel Silvestre) e Christian (Enric Auquer).

Comportamento tóxico

O episódio derradeiro desta segunda temporada tem em sua descrição, o seguinte – “A batalha por dinheiro, justiça e vingança fica ainda mais acirrada, com novas alianças e cada vez mais vítimas.”

Existem diferentes maneiras de se analisar esta descrição, mas neste texto iremos focar no que a narrativa da série criada por Álex Pina e Esther Martínez Lobato propõe-se a fazer.

Sky Rojo é uma produção do tipo pulp, mais conhecidas por seus assuntos chocantes, de cunho explorador, que usam sexo, violência, drogas e outros elementos destinados a atrair espectadores, principalmente por despertar o interesse lascivo sem serem rotulados como obscenos ou pornográficos.

Levando-se em consideração tais fatos, pode-se afirmar tranquilamente que como entretenimento, Sky Rojo da Netflix cumpre a tabela, e entrega material que prende a atenção do seu assinante, facilmente.

Mas há um problema!

A narrativa de Pina/Lobato também tem a pretensão de abordar de uma forma mais reflexiva: a impunidade, ambiguidade e realidade brutal da prostituição, além dos retratos psicológicos daqueles em ambos os lados da escala.

Por mais que tais intenções sejam muito louváveis, na prática, isso não funcionou como deveria, em especial, pela maneira como exemplificaram variados fetiches que geraram vícios e traumas nas protagonistas, sem adentrar na gênese emocional delas. Tirando boa dose do impacto intendido.

Conclusão

O resultado só não é pior, porque o elenco faz um grande esforço para que seja sentido todo o pesar e angústia destas personagens que não conhecem o gosto da liberdade em suas vidas.

Se o roteiro ajudasse um pouquinho, as performances seriam mais nuançadas e intensas, destacando (ainda mais) os argumentos pretendidos.

Mesmo assim, alguns atores merecem um destaque especial, no caso: Miguel Ángel Silvestre, que faz o papel do braço direito do vil Romeo; e a jovem atriz argentina Lali Espósito, que fez de Wendy, a personagem feminina mais cativante de toda a temporada de Sky Rojo para a Netflix.

À parte o entretenimento pulp, que lembra o cinema dos diretores Robert Rodriguez (Um Drink no Inferno; Sin City – A Cidade do Pecado) e Quentin Tarantino (Pulp Fiction: Tempo de Violência; À Prova de Morte), pouco sobra dessa trama que mirava maiores ambições na sua temática que cobre à violência contra a mulher em uma sociedade estruturalmente e sistematicamente machista.

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