Em fuga

Crítica – Beckett

Suspense da Netflix engaja pelo protagonista e andamento, mas perde-se em enredo superficialmente propulsivo

No rolar dos créditos finais de Beckett, ficará muito claro que o diretor italiano Ferdinando Cito Filomarino acertou em cheio ao nomear sua obra pelo personagem-título interpretado por John David Washington, pois este é o coração, músculos e ímpeto nesta produção original Netflix.

Assim, lamenta-se quando o texto de Filomarino, junto de Kevin A. Rice, ensaia um complexo thriller político, mas mostra-se incapaz de encher o copo até o topo. Deixando seu talentoso protagonista andando, correndo e pulando pela sua vida sem rumo algum, do mesmo modo que o assinante da plataforma streaming que provavelmente ficará com uma sensação de que algo ficou faltando.

Enquanto estava de férias na Grécia, o turista americano Beckett (John David Washington) se torna o alvo de uma caçada após um acidente devastador. Forçado a correr para salvar sua vida e desesperado para atravessar o país até a embaixada americana para limpar seu nome, as tensões aumentam conforme as autoridades se aproximam e a agitação política aumenta fazendo com que Beckett caia ainda mais fundo em uma perigosa teia de conspiração.

Um (quase) thriller político

Existem dois aspectos a serem comentados sobre o longa-metragem de Ferdinando Cito Filomarino:

Primeiro, que este não é um típico suspense hollywoodiano, pois tanto o andamento quanto a ação em cena são bem menos frenéticos que o usual, além de limpos visualmente, tornando possível apreciar o ambiente proposto, enquanto imerge o espectador em uma atmosfera de real busca por uma saída.

E segundo, a existência de um comentário político óbvio em intenção, mas completamente perdido em trama que abraçou mais do que conseguia carregar, esvaziando nosso envolvimento com o material; fora que todo o terceiro ato do filme revela-se um bocado desinteressante e irrealista.

Resumindo: acerta por uma via, mas comete algumas faltas pela outra.

Quando cumpre as expectativas, seus maiores méritos encontram-se na fluência dessa caçada à Beckett, que foge incansavelmente sem saber o motivo desta perseguição. Isso vale também para o assinante Netflix.

A cinematografia de Sayombhu Mukdeeprom (Me Chame Pelo Seu Nome; Suspiria: A Dança do Medo) foi um dos pontos altos desta produção, usando de algumas panorâmicas para indicar o longo e penoso caminho do personagem-título nesta procura por algum sentido no que está lhe acontecendo.

Agora, também encontramos alguns problemas. Especialmente quando a narrativa de Filomarino aventura-se de modo ligeiro e tolo ao comentar a polarização política na Grécia atual, que é um reflexo do que acontece em outras nações do planeta.

Em um determinado momento, lá pela metade do enredo, haverá a introdução de novos elementos narrativos que incrementariam tal história, porém, tudo acaba indo pelo ralo na resolução, que pratica algumas viradas repentinas subtraindo quaisquer valores na ideia de tratar o distanciamento social, econômico e político que todos nos encontramos em tempos atuais.

O famoso ‘quase lá’.

Tal pai, tal filho?

A essa altura do campeonato muitos já sabem que o novo astro do momento John David Washington é filho do icônico ator Denzel Washington, duas vezes ganhador do Oscar.

Interessante, que a recente estrela do cinema americano iniciou sua carreira nos gramados, e não nos palcos ou sets de filmagem. John David Washington foi por um período, jogador profissional de futebol americano. No entanto, mudou seu curso para as artes cênicas assim como seu pai, ganhando maior notoriedade após um bom trabalho em Infiltrado na Klan (2018) de Spike Lee.

Pela perspectiva do jovem ator, Beckett poderia estabelecer um paralelo com a obra do renomado cineasta Spike Lee, dado que ambas adentram discussões políticas na transmissão de suas devidas histórias. Contudo, Lee soube aproveitar melhor todos os elementos narrativos empregados, diferentemente de Filomarino que desperdiçou algumas chances.

Ainda assim, pode-se afirmar que o diretor italiano contou com a sorte ao escalar Washington para este papel, visto que o ator entregou uma performance de grande vigor nesta produção original Netflix.

Sempre teremos aqueles que almejam fazer comparativos entre pai e filho. Isso é inevitável!

Entretanto, mais vale perceber que o ator de Beckett tem trilhado por um caminho cada vez mais promissor, entregando performances e mais performances dignas de serem notadas.

Pelo jeito o fruto não caiu longe da árvore.

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