Conto de fadas

Crítica – Cinderela

Remake musical da Amazon Prime não faz nada para encantar o espectador pela falta de alma no material

É natural que se questionem: “Espera um pouco, não teve um remake da Cinderela, já?!”

Sim, teve. Foi lançado em 2015 pela Disney. A versão live-action baseada no conto popular, dirigida por Kenneth Branagh, estrelava Lily James como uma das princesas mais populares dentre as grandes histórias contadas.

E, apesar de todo o aporte financeiro que só um estúdio como a Disney pode oferecer, tivemos um resultado que impressionou os olhos, mas pouco fez para aquecer nosso interior, já que faltou um tanto de energia nas performances do elenco.

Bom, quando assistirem a mais recente versão de Cinderela, que foi lançada pela plataforma da Amazon Prime Video, imagina-se que irão correndo rever a versão de 2015, ou se forem ainda mais espertos, vão direto na animação original lançada em 1950.

Não tem outra maneira de dizer: foi constrangedor!

Dirigida por Kay Cannon, Cinderela é uma nova e ousada abordagem musical da história tradicional com a qual você cresceu. Nossa heroína (Camila Cabello) é uma jovem ambiciosa, cujos sonhos são maiores do que o mundo permite, mas com a ajuda de seu Fabuloso Fado Madrinho (Billy Porter), ela conseguirá perseverar e ter uma chance de realizar seus sonhos.

Inanidade que reina!

Lembram-se do impagável ‘terrir zumbi’ de Edgar Wright, intitulado no Brasil como Todo Mundo Quase Morto (2004)?

Então, o título nacional da obra de Wright seria bem mais apropriado para esta nova versão de Cinderela, estrelada pela cantora e compositora Camila Cabello. Naturalmente, podem estar achando um enorme exagero afirmar isso, mas é notável a falta de alma em (praticamente) tudo quando o assunto é performances do elenco. Mesmo a super carismática Cabello, que estreou na função de atriz nesta produção da Amazon Prime Video, não foi capaz de evitar alguns momentos constrangedores.

Vale dizer, que muito disso acontece por terem um roteiro infestado de diálogos batidos, que não dispõem de qualquer forma de graça, elemento que geralmente aproxima o espectador da obra; além de uma construção apressada que permite os atores reagirem, sem a consciência emocional de seus atos.

Isso inclui a maioria dos números musicais, que foram pobremente filmados, ou editados de uma forma tão randômica que irá se pegar rindo pela baixa qualidade visual apresentada.

Contudo, deve-se exaltar dois momentos que mostraram certa dignidade: a dança coletiva no grande baile, ao som do mashup “Whatta Man/Seven Nation Army”; e, a talentosa Idina Menzel cantando “Dream Girl”, canção original composta especificamente para o filme.

Produção capenga

Normalmente, projetos de orçamento pesado, costumam exibir um leque de opções extenso, seja pelo cenário, ou figurinos. São obras visualmente suntuosas. Os estúdios Disney são especialistas em criar (ou recriar) ambientes que impressionam o público com enorme facilidade, por exemplo.

Óbvio que dinheiro no bolso não é garantia de qualidade, assim como pouca grana, não significa padrões baixos. Sendo este o caso, fica difícil compreender a falta de criatividade visual nesta versão de Cinderela.

O vilarejo onde vivem os camponeses, lembra mais uma atração de parque de diversões do que uma ambientação cinematográfica. Os figurinos não demonstram ter qualquer personalidade, ou transgressão. Algo que cairia muito bem com a leitura mais moderna adotada pelo enredo escrito por Cannon.

Nova Cinderela

Sempre devemos exaltar os profissionais que ousam romper com velhos costumes, que já não oferecem mais um algo novo, ou conversam com o momento atual.

E, parece muito claro que a cineasta Kay Cannon tem a intenção de levar uma nova ideia para o público com seus projetos. Anteriormente, ela dirigiu a comédia Não Vai Dar (2018), sobre três garotas que pretendem fazer sexo pela primeira vez na festa de formatura, enquanto seus intrometidos pais tentam impedir que isto aconteça.

Além de ter sido um filme bem divertido, soube tratar com dignidade as questões sexuais na adolescência, em especial, por observar através do espectro feminino. Convenhamos, algo que não fomos acostumados a ouvir.

Em Cinderela da Amazon Prime Video, ela continua sua busca de elevar a autonomia feminina, porém, de pouco adianta você dizer palavras sobre assumir quem realmente é, ou quais são seus sonhos, se na prática fica muito difícil acreditar no que está sendo dito.

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