Caso de Polícia

Crítica – O Menino que Matou Meus Pais

Longa sobre o caso nacionalmente conhecido chegou na Amazon Prime Video contando a versão da filha

Vistas as duas partes que se complementam para contar o caso que chocou o país no final de 2002, percebe-se que o projeto encabeçado por Marcelo Braga, e dirigido por Mauricio Eça, não dispõe de nada além dos relatos dos principais envolvidos no assassinato de Manfred e Marísia von Richthofen.

Se anteriormente, questionava-se uma razão para contar esta história novamente, até mesmo porque a área jornalística investigativa já havia feito esta mesma cobertura do caso, agora, a pergunta é outra: qual era o objetivo de Braga e Eça ao transformar o caso Richthofen em duas obras ficcionais quase vinte anos depois?!

Infelizmente, falta em A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais, um mínimo senso de propósito. É como se por três horas tivesse uma experiência de viagem no tempo, e quando conseguisse voltar ao tempo presente, notaria que a resolução é a mesma (assassinato dos pais de Suzane), sem nada ter sido acrescido emocionalmente, racionalmente, espiritualmente, ou de qualquer outra forma.

Em suma: filmes vazios!

No longa O Menino que Matou Meus Pais da Amazon Prime Video, teremos o testemunho de Suzane von Richthofen (Carla Diaz) diante de um júri, onde ela contará os acontecimentos decorrentes de seu relacionamento com Daniel Cravinhos (Leonardo Bittencourt).

Ela disse

Na realidade, ambas produções não saem do ‘ele disse, ela disse…’

Ao dispor, democraticamente, cada uma das versões do caso, conseguem no máximo estimular um ‘Fla-Flu’ policial, onde o assinante da plataforma pode escolher acreditar em um lado, ou no outro.

Contudo, é facilmente perceptível que ambas as performances da dupla protagonista miram revelar a dissimulação das figuras em destaque. Exemplo: a câmera faz questão de algumas vezes pegar um plano detalhe das mãos de Suzane, que carrega um rosário, vejam só!

Desta maneira, conclui-se que escolher uma torcida nessa situação será um enorme desperdício, de qualquer tipo ou forma.

Apesar disso, a dupla Braga/Eça acredita que Suzane von Richthofen deve ser ouvida em O Menino que Matou Meus Pais. A partir daí, teremos um filme de estrutura igual, além de algumas cenas que se repetem, com flashbacks mostrando como era a vida da inocente (!) moça de boa família que morava em uma casa luxuosa nos subúrbios da cidade de São Paulo.

A única coisa que se manteve padronizada nas duas versões foi o preconceito social dos pais de Suzane para com Daniel e sua família de origem humilde. Em A Menina que Matou os Pais, temos uma narrativa mais estridente e agressiva; já aqui, um pouco mais sutil, menos caricatural.

Pobre menina…

Em um determinado momento de O Menino que Matou Meus Pais, Manfred von Richthofen (Leonardo Medeiros), no calor da discussão, diz que Suzane é uma criança. Mal sabia ele que, ao denominar sua filha como uma criança, tirava quaisquer responsabilidades dela, assumindo um falso controle sobre as ações de Suzane que, naturalmente, se rebelava.

Comenta-se tal cena, já que é a única em dois longas-metragens que ensaia um pequenino conflito pela perspectiva de Manfred, que questiona por um breve momento se está sendo um bom pai. No entanto, obviamente, as coisas se resolvem pouco mais a frente, sem qualquer trabalho.

Aqui, encontra-se o problema mor das duas produções: ausência de conflito.

Alguém mais desavisado pode pensar – “Como assim? Ambas as tramas estão repletas de conflitos!”

Definitivamente, não!

Temos muitos obstáculos pelo caminho, tanto para Daniel quanto para Suzane, mas conflito é outra coisa. É algo bem mais complexo, e que também adiciona uma boa dose de entretenimento na história.

Também temos um complicador que sempre joga contra o enredo, pois sabemos que no final, o casal Richthofen sempre termina morto, em qualquer cenário simulado.

Era missão complicadíssima transpor tais acontecimentos para a tela, e já nos tocamos que falharam redondamente com as duas produções da Amazon Prime Video. Tão esvaziadas, que chegamos a cogitar como questionavam-se alguns adolescentes que viviam enfurnados nas Lan Houses pelo começo do século, e que, na imaturidade natural à idade, discutiam quem usaria o nickname ‘Suzane von Richthofen’ em jogos de tiro on-line.

Pueril, mas perdoável. Agora, quais são as desculpas das cabeças por de trás destas produções do cinema?

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