Coração Partido

Crítica: O Tempo Que Te Dou – 1ª Temporada

Série de drama romântico espanhola da Netflix apresenta narrativa engenhosa banhada de grandes emoções

Alguns dizem que quando algo está para terminar, começos e fins se misturam, fundem-se em um só. Que o tempo não importa, apesar de ser através dele que passamos todos nossos dias. Se for este o caso, existe uma deliciosa ironia na nova produção espanhola feita para a Netflix.

O drama romântico O Tempo Que Te Dou é sobre o fim de um relacionamento. Provavelmente neste momento, um ou outro pode estar lembrando da conhecida dramédia romântica (500) Dias com Ela (2009) de Marc Webb, que contava a história de um jovem que se apaixonou pela nova colega de escritório vivendo alguns vai-e-vens na relação pelo período de quinhentos dias.

Sim, a comparação cabe, só que o longa-metragem de Marc Webb foca no coração dolorido do personagem masculino, enquanto a nova produção da Netflix escolhe contar o lado feminino da separação.

Em O Tempo Que Te Dou acompanhamos as vidas de Lina (Nadia de Santiago) e Nico (Álvaro Cervantes) que terminaram o relacionamento depois de muitos anos juntos. Lina faz o possível para construir uma nova vida e pensar nele cada vez menos, apesar de tantas dificuldades. Será possível para ela seguir em frente de agora em diante?

Uma narrativa peculiar

Não há outra maneira de dizer: O Tempo Que Te Dou é uma grata surpresa dentro do catálogo da Netflix.

Se na teoria pegam-se caminhos muito familiares quando tratamos a ruptura de um casal, pela prática esta produção encabeçada por Pablo Fernández, Inés Pintor Sierra, Pablo Santidrián, além da protagonista Nadia de Santiago opta por um formato peculiar.

A primeira temporada é constituída de dez episódios com duração de 11 minutos cada um deles. Sendo que cada um deles transita entre o passado e o presente do casal, com um detalhe ainda mais interessante: a duração para cada momento específico do tempo vai aumentando para um, e diminuindo para o outro com o passar dos capítulos.

Ao estruturar o roteiro desta maneira aproximamos o público da história, pois sabendo desde o minuto inicial que aquilo que nossos olhos testemunham é o fim de algo, observaremos logo em seguida o porquê e como tudo aquilo teve início.

E, pelas performances naturalistas de ambos atores sentimos todo o calor da paixão que ferve e consola, assim como a frente fria que chega trazendo dor e isolamento quando nos encontramos perdidos.

A fotografia acompanha essa transição das temperaturas, usando cores quentes e frias. Muito similar ao trabalho de Greta Gerwig no ótimo Adoráveis Mulheres (2019).

Existe uma harmonia narrativa que aproxima o assinante da plataforma Netflix para a trama de O Tempo Que Te Dou, que vai muito além da temática que toca facilmente aqueles que já tiveram algum momento seu coração partido.

O que é o tempo?

Lá atrás foi dito sobre a ironia atraente encontrada no texto desta série espanhola. Isto ocorre, porque apesar do roteiro manipular os minutos do que iremos assistir ao longo desta primeira parte, raramente sentimos que passado e presente são tempos distantes. Muito pelo contrário!

Especialmente na parte central deste primeiro volume, quando tudo parece elevado a décima potência, tanto para um lado quanto o outro. Tudo pulsa forte em O Tempo Que Te Dou. Exatamente por isso que nos envolvemos com maior tranquilidade.

Deve-se dizer que embora o material apresente tais predicados, existe um algo facilitador nessa proposta, pois aqui só vemos a perspectiva de dor e superação de um dos lados da moeda, no caso, Lina, interpretada com enorme vigor e compaixão por parte da atriz Nadia de Santiago.

Bem executada como foi, mostrou-se uma opção mais prática do que, por exemplo, o que fez Noah Baumbach no excelente História de um Casamento (2019), quando tínhamos os dois lados tendo que tentar, dia após dia, recuperar a vida e brilho que haviam ficado para trás.

Ainda assim, existe grande e notável valor no que foi proposto aqui. Lembrando que temos uma possibilidade de uma segunda temporada, que pode trazer o que não foi visto aqui: a realidade de Nico pós-término.

Se retornar trazendo os mesmos elementos com um algo a mais, decididamente mergulharemos de alma e coração novamente nas vidas de Lina e Nico.

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