Ansiedade Social

Crítica – Querido Evan Hansen

Adaptação do musical da Broadway comove pelas interpretações das canções originais, apesar de alguns excessos em trama de pouco contraste narrativo

Quando bateu a pandemia nos primeiros meses de 2020, pouco sabíamos o que viria pela frente. Foi um período de pavor para milhões de pessoas, que sentiam um medo muito grande desse tal novo vírus que em muitos casos terminavam as vidas de tantos e mais tantos.

Porém, outro problema tão relevante quanto, tomou conta de milhares de famílias pelo mundo todo. Um número muito alto de pessoas apresentou um agravamento nos sintomas de ansiedade social, ou começou a desenvolver sinais de depressão, causados em parte pelo medo e extremo isolamento que vivemos por mais de um ano e meio.

Saúde mental sempre foi primordial, mas nunca havia sido tão comentada como foi do ano passado para cá. O cuidado que devemos ter com nós mesmos passou a ser destaque pelas mídias sociais e outros veículos de informação.

Agora, enquanto analisamos aos poucos presenciar muitas coisas voltando a ter um senso de normalidade, cai como uma luva assistir a uma obra como o musical Querido Evan Hansen, que reitera a importância de olhar a saúde mental por um espectro de compaixão, já que nunca sabemos de verdade o quanto aquele que está ao lado pode estar sofrendo.

Querido Evan Hansen é uma adaptação cinematográfica do musical vencedor dos prêmios Tony e Grammy sobre Evan Hansen (Ben Platt), um garoto no último ano do colegial que sofre com distúrbios de ansiedade social e vê sua vida virar de cabeça para baixo após o suicídio de um colega de turma.

Stephen Chbosky e o amadurecimento

Talvez ainda seja um pouco cedo para dizer, mas não dá para escapar dos fatos que apontam o cineasta Stephen Chbosky como um artista que busca se especializar em contar histórias sobre amadurecimento, que normalmente dispõem de um elenco jovem ou mesmo infantil.

Até o momento, o diretor americano de 51 anos de idade desenvolveu três filmes de maior destaque em Hollywood: As Vantagens de Ser Invisível (2012); Extraordinário (2017); e agora, Querido Evan Hansen (2021).

Entre todas as produções que dirigiu, certamente a que apresentou maiores predicados foi a primeira, baseada no livro homônimo escrito pelo próprio Stephen Chbosky. Ainda assim, devemos exaltar seu trabalho seguinte estrelado pela dupla Julia Roberts e Jacob Tremblay, que foi capaz de manter as qualidades vistas em As Vantagens de Ser Invisível, trabalhando com um elenco mais infantil que adolescente.

Já Querido Evan Hansen, apesar das apresentações musicais muito convincentes emocionalmente, não consegue repetir a mesma atmosfera genuína de modo constante, diferenciando-se de seus dois projetos anteriores.

O problema está em duas partes: primeiro, em algumas transições que vão do momento falado para quando começa a cantoria; e segundo, uma elevação vocal exagerada ou fora de ordem em algumas cenas que pediam algo mais sutil, ou seja, menos Broadway onde o(a) ator/atriz precisa bradar alto e claro para que todos escutem o que está falando, até mesmo na última fileira do teatro.

Elenco (literalmente) afinado

Mesmo apresentando alguns percalços técnicos, Querido Evan Hansen consegue manter o público comovido em boa parte desta obra estilo ‘tearjerker’ (no traduzido, choradeira). Os méritos vão para o elenco liderado pelo talentoso Ben Platt, ator de apenas 28 anos de idade que canta desde os 9 anos. Sua performance vai muito além do gogó afinado, principalmente nas cenas onde testemunhamos o protagonista enrijecendo todo o corpo como se estivesse segurando mil pensamentos ao mesmo tempo.

Quem também dá um show solo memorável é Amandla Stenberg, que já havia fascinado considerável parte do público e crítica especializada por seu trabalho no longa-metragem O Ódio que Você Semeia (2018) de George Tillman Jr.

Infelizmente, só a encantadora Amy Adams foi subaproveitada aqui. Sua atuação em Querido Evan Hansen parece tão desnivelada quanto aquela em A Mulher na Janela (2021) de Joe Wright. Definitivamente, 2021 não foi o ano dela!

Mas, no final das contas, iremos observar o público geral provavelmente recebendo este mais recente filme de Stephen Chbosky de braços abertos, pois a temática conversa com todos nós que sentimos algo, mesmo sem saber exatamente o que estamos sentindo a cada momento.

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