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Crítica – King Richard: Criando Campeãs

Drama biográfico sobre a trajetória das irmãs Williams expressa muita emoção enquanto comenta os desafios raciais e sociais para que negros sejam notados

Geralmente quando planejam desenvolver longas-metragens sobre personagens icônicos do esporte, já é sabido que terão algumas situações específicas a serem discutidas durante a fase de pré-produção do projeto.

Uma delas é como iremos levar a história da figura biografada para o público. Será estilo ‘cradle to the grave’ (traduzindo, do berço ao túmulo)? Ou preferem selecionar um momento especial de superação na carreira profissional do atleta em destaque? Ou mesmo contar usando de ‘flashbacks’, onde uma outra personagem revela a sua perspectiva do que um dia foi viver ou trabalhar ao lado daquele esportista?

Existem variadas formas de contar uma história inspirada em eventos esportivos relevantes. Isso é o que torna algumas destas narrativas tão atraentes em alguns casos. Porém, existem grandes atletas e pioneiros que foram símbolos de mudança radical no cenário vigente.

Em King Richard: Criando Campeãs testemunharemos a segunda versão, que conta as conquistas e percalços das irmãs Venus e Serena Williams. A irmã mais velha Venus conquistou o mundo do tênis profissional primeiro, mas foi Serena que se tornou a maior tenista feminina de toda a história na modalidade!

Portanto, não é uma história fácil de se contar, pois boa parte das pessoas já tem conhecimento embasado sobre quem são as irmãs Williams e o que elas fizeram pelo esporte. Desta maneira, foi uma sacada muito interessante do roteiro escrito por Zach Baylin em contar os fatos pela perspectiva do pai das futuras campeãs: Richard Williams.

Armado com uma visão clara e um plano descarado de 78 páginas, Richard Williams (Will Smith) está determinado a escrever suas filhas, Venus (Saniyya Sidney) e Serena (Demi Singleton), para a história. Treinando nas quadras de tênis negligenciadas no bairro de Compton, Califórnia, vemos que as meninas são moldadas pelo compromisso inflexível de seu pai e pela perspectiva equilibrada e intuição aguçada de sua mãe (Aunjanue L. Ellis), desafiando as probabilidades aparentemente intransponíveis e as expectativas prevalecentes colocadas diante delas.

Sobre paternidade e raça

É óbvio que enquanto assistimos King Richard: Criando Campeãs, analisamos que esta é uma história sobre paternidade. Praticamente chover no molhado comentar sobre este tema de modo mais aprofundado.

Agora, o aspecto mais cativante do enredo desta obra dirigida por Reinaldo Marcus Green (Monstros e Homens; Joe Bell) vem pelo tipo de abordagem que examinamos entre pai e filhas. Na maior porção do tempo, ele atua mais como treinador do que como um genitor caloroso. Nesse momento percebemos uma tonalidade eastwoodiana no trabalho de Green, mais especificamente, o Clint Eastwood de Menina de Ouro (2004) e Gran Torino (2008).

Richard quer que suas garotas de ouro sejam as melhores das melhores, ele está decidido que não aceitará nada menos que isso! Ao mesmo tempo, faz o impensável para qualquer pai e mãe que almejam coroas de louros na vida de seus amados rebentos: seguram-nos de um caminho de sucessos.

Igualmente os personagens interpretados por Eastwood nas produções citadas acima, notamos que Richard Williams quer proteger (!) suas meninas de um mundo que não está preparado para elas, cobrará mais delas do que outras, e pior, tentará por vezes diminuir seus feitos dentro do mundo do tênis profissional.

Assim sendo, King Richard: Criando Campeãs também é, essencialmente, sobre raça e todas as dificuldades e obstáculos encontrados pela comunidade negra americana para conseguir o mínimo respeito e um lugar ao sol nos clubes elitistas que assistem Venus vencendo quaisquer competidoras apareçam em seu caminho.

O pai

Falar sobre King Richard: Criando Campeãs significa falar sobre Will Smith. O ator americano de 53 anos de idade entrega aqui um de seus trabalhos mais surpreendentes na carreira. Reparamos facilmente algumas mudanças no timbre da voz, curvatura das costas, além de outros detalhes técnicos que facilitam a imersão do ator em cena.

Tudo isso é válido e contribui, mas o que mais chama a atenção e que sempre foi uma qualidade singular dele foi seu olhar. Will Smith é extremamente capacitado em expressar verdade pelos olhos, sejam estes os sentimentos que forem. Ele dá conta do recado!

Contudo, continuar comentando sobre as escolhas físicas e aparentes de Smith para compor Richard Williams não irá adicionar tanto, quanto dissertar sobre quem foi o homem que moldou de modo rígido e terno: duas garotinhas prestes a se tornarem símbolos de superação e referência para tantas outras garotas negras vindas de comunidades mais desfavorecidas de nossa sociedade desumanamente desigual.

O pai das irmãs Williams personificou alguém complexo, que balançava entre o crente incentivador e o homem (no sentido masculino) egocêntrico. Verificamos no patriarca em questão alguém que reprime muitas inseguranças e medos por tudo o que viu enquanto crescia em uma América que desfavorecia homens como ele e que ainda resiste mudanças necessárias para que testemunhemos menos injustiças mundo afora.

Não só pela firmeza, mas também pela vulnerabilidade de Richard Williams que entendemos de alma e coração o sucesso de Venus e Serena, assim como também compreendemos porque nos entregamos em confiança à King Richard: Criando Campeãs com tamanho prazer.

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