WWII

Crítica – Munique: No Limite da Guerra

Drama histórico da Netflix não consegue escapar de alguns lugares-comuns, ainda assim, termina exaltando a força em se agarrar no sentimento de humanidade

Provavelmente já pensaram um dia a seguinte ideia – “E se pudéssemos voltar no tempo para o passado e matar Adolf Hitler quando ele era ainda só um bebê?”

Para estes que imaginaram tal cenário, geralmente assume-se o pensamento de que todas as coisas horríveis que aconteceram depois não ocorreriam. Portanto, a história e o mundo ficariam bem melhores sem a existência de Hitler entre nós.

Bom, definitivamente alguns de nós sentiríamos um prazer satisfatório baseado em puro orgulho tolo, uma vez que Adolf Hitler era só uma pessoa, assim, quando tiramos sua vida, apenas extinguimos sua existência, enquanto suas ideias e filosofia permanecem intactas nas mentes e corações de tantos outros que partilharam daquele momento histórico a respeito do renascimento da força e orgulho alemão pela Europa.

Podemos ver novamente tal emoção alemã de ressurgimento triunfante no (apenas) competente drama histórico Munique: No Limite da Guerra, disponível no catálogo da Netflix. Baseado no best-seller internacional de Robert Harris, retornamos para o outono de 1938, quando a Europa está à beira da guerra. Adolf Hitler (Ulrich Matthes) está se preparando para invadir a Tchecoslováquia e o governo de Neville Chamberlain (Jeremy Irons) busca desesperadamente uma solução pacífica. Com o aumento da pressão, Hugh Legat (George MacKay), funcionário público britânico, e Paul von Hartmann (Jannis Niewöhner), diplomata alemão, viajam para Munique para a Conferência de emergência. Quando as negociações entre os poderosos europeus começam, os dois velhos amigos se encontram no centro de uma teia de subterfúgios políticos e perigos muito reais. Com o mundo inteiro assistindo, a guerra pode ser evitada e, em caso afirmativo, a que custo?

O renascimento alemão

O cineasta austríaco Michael Haneke elaborou um interessante argumento em seu longa-metragem A Fita Branca (2009), que explorava a fictícia aldeia protestante de Eichwald, norte da Alemanha, de julho de 1913 a 9 de agosto de 1914, onde o pastor local, o médico e o barão governavam mulheres, crianças e camponeses da região; indicando claramente que existia algo ali que já encaminhava o povo germânico em uma trajetória de medo e sofrimento, que foram ingredientes essenciais na gênese da Alemanha pré-nazista.

A partir disso, percebemos duas cenas de maior impacto em Munique: No Limite da Guerra do diretor alemão Christian Schwochow. Sendo que a primeira acontece pouco antes de uma hora completa da projeção, quando vemos três amigos jovens em um bar discutindo a política de Adolf Hitler. O jovem alemão, interpretado de modo qualificado por Jannis Niewöhner, reitera a importância da figura histórica para o momento do país, assim como para àqueles mais inexperientes que cresceram em uma nação sem força ou qualquer representação notável.

O sentimento de opressão e terror vistos nas faces das crianças na obra de Michael Haneke não são tão diferentes dos rostos dos jovens alemães pouco antes do início da Segunda Guerra Mundial, que viveram sob uma condição miserável e sem esperança por muitos anos, pouco antes de Hitler aparecer no cenário.

Pelo trabalho de Christian Schwochow, adentramos de forma humana nas razões do porquê certas escolhas foram feitas na época. O cineasta alemão explora sem a intenção de julgar, mas consciente de que estamos onde estamos porque fizemos por isso; assumindo a responsabilidade, ao mesmo tempo que indicando a capacidade na tomada de consciência em todos nós.

Quando no pior, busque perseverar

É bem comum ficarmos um pouco desestimulados enquanto assistimos um filme que já sabemos qual será o final, algo que acontece na atual produção da Netflix, de maneira que sabemos muito bem que a conferência realizada em Munique não impediu à guerra de acontecer pouco tempo depois do acordo assinado entre as quatro potências europeias (Alemanha; França; Grã-Bretanha; Itália).

Mas o que poderia ser um problema em outras produções, faz com que Munique: No Limite da Guerra encontre um ponto de validade em sua narrativa, que visa destacar à humanidade que deve prevalecer nos piores momentos. Tal compaixão representa aquilo que mantém nossa dignidade distante do fascismo daqueles que só querem conquistar por cima dos corpos e dor alheia.

A tal segunda cena impactante da obra de Schwochow acontece mais perto do final, relembrando algo que pudemos encontrar nos longas-metragens Looper – Assassinos do Futuro (2012) de Rian Johnson, como também nas cenas pós-créditos do engraçado Deadpool 2 (2018) de David Leitch.

Munique: No Limite da Guerra da Netflix pode não ser tão inspirado como material, porém, dispõe de argumentos válidos para que coloquemos a mão na consciência pela percepção de que nem tudo no mundo é preto no branco e vice-versa.

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