Vida de Princesa

Em Spencer, Kristen Stewart é imersa em agonia como Lady Di

Drama psicológico do cineasta chileno Pablo Larraín constituiu retrato unidimensional da biografada, dificultando a performance de sua estrela principal

Provavelmente já escutaram aquela expressão – “é como se os astros tivessem se alinhado.”

Geralmente é usada para indicar uma conjunção de elementos que unidos podem entregar algo mais do que especial. Assim, vejamos a ficha técnica de Spencer, que chega às salas de cinema pelo país:

Na direção temos o chileno Pablo Larraín, responsável por obras de grande valor, como Tony Manero (2008), No (2012), Neruda (2016), além do excelente O Clube (2015); o roteiro foi escrito pelo inglês Steven Knight, que já presenteou o público com algumas pérolas, tipo Senhores do Crime (2007), Locke (2013) e Calmaria (2019); segurando a câmera encontramos a francesa Claire Mathon, que encantou a todos com o belíssimo trabalho em Retrato de uma Jovem em Chamas (2019); e para finalizar, uma protagonista talentosa em Kristen Stewart, que dispensa apresentações desde que estourou em 2008, à frente da franquia Crepúsculo.

Tudo para dar certo, correto?!

Não foi bem assim!

Infelizmente, metade dos astros em destaque não estiveram à altura da outra metade. Deixando Spencer em uma zona frígida demais para que nos importemos com a figura biografada.

O longa-metragem foca no casamento entre a Princesa Diana (Kristen Stewart) e Príncipe Charles (Jack Farthing) que esfriou há muito tempo. Embora os rumores de casos e um divórcio sejam abundantes, a paz foi ordenada para as festividades de Natal na propriedade da Rainha Elizabeth II (Stella Gonet) em Sandringham. Comer e beber, atirar e caçar. Diana já conhece o jogo. Mas este ano, as coisas são profundamente diferentes. Spencer é um exercício imaginário do que poderia ter acontecido durante aqueles poucos dias fatídicos dentro da residência real britânica.

Parceria discutível

A ponta fraca de Spencer revelou-se através dos profissionais Pablo Larraín e Steven Knight.

O inglês, que também é diretor de cinema, estruturou uma história que tentou condensar à rotina da Princesa Diana como membro da Família Real, por um período curto de apenas três dias. Portanto, somos introduzidos à trama já no fim da relação entre ela e Charles, pai de seus dois filhos.

Pelo texto de Knight, encontraremos situações que apenas conseguem exprimir a ideia de repetição, que supostamente seriam a gota d’água para Diana surtar de vez. No meio disso tudo, observaremos que ela vai começar a ter algumas ilusões com à figura de Ana Bolena, Rainha da Inglaterra e segunda esposa do Rei Henrique VIII.

É de se lamentar que o renomado roteirista não foi capaz de elaborar um enredo que oferecesse qualquer chance para que realmente pudéssemos conhecer a adorada princesa do povo, além da mulher que se sentia presa como representante da monarquia; nem para vilanizar (só um pouquinho) algum personagem ele se deu o esforço, uma vez que poderia contribuir bastante para uma trama com maior fluidez.

Isso atrapalhou diretamente o trabalho do chileno Pablo Larraín, que compôs uma obra estritamente inflexível. A insistência em exaltar à rigorosidade das tradições reais acabam cansando facilmente, principalmente por um excesso na trilha sonora de Jonny Greenwood, que manteve uma atmosfera de terror angustiante do começo ao fim!

Praticamente não existe qualquer contraste pela linha narrativa estipulada por Larraín, que aqui repetiu alguns dos macetes vistos em Jackie (2016), porém, teve a sorte de encontrar uma Natalie Portman que transitava entre altos e baixos de modo naturalista e potente.

Algo que ele não conseguiu repetir com Kristen Stewart, que tentou mais do que aquilo que lhe foi oferecido.

A angústia de Lady Di

Já virou rotina questionarmos alguns atores por determinadas performances que julgamos aquém do esperado. Entretanto, na grande maioria dos casos estamos apontando o dedo para a pessoa errada, já que é função do diretor tentar tirar e identificar cada uma das emoções necessárias para se constituir uma narrativa cheia, onde possamos perceber tanto as extremidades quanto todas as etapas interpostas.

Pena que não foram elaboradas oportunidades para que Kristen Stewart pudesse mostrar mais do que apenas uma vítima dos absurdos reais, que incluíam a pesagem dos membros da Família Real, logo na chegada à residência Sandringham.

A atriz americana que executou uma impressão tecnicamente marcante da Princesa Diana, sofreu para conseguir ir além das limitações pré-estabelecidas pela dupla Larraín/Knight. Na parte central de Spencer, talvez, consigam criar um elo emocional quando testemunhamos Diana brincando com seus meninos à luz de velas. Tirando tal momento, analisaremos exclusivamente uma rigidez narrativa que distancia sem praticar sutilezas.

O único momento (só um mesmo!) onde poderemos presenciar algo que não é apenas belo, mas relevante como forma narrativa acontece na cena quando a protagonista revisita sua casa de infância, trajada de um lindíssimo vestido esbranquiçado com uma jaqueta bem escura por cima. Ali percebemos que ela não passa de um fantasma mal assombrado para os monarcas como também para si mesma.

Só nesta hora que veremos certo equilíbrio narrativo entre os quatro profissionais principais de Spencer, com destaque para a composição imagética de Claire Mathon.

De resto: um desfile de vistosos figurinos de todo tipo que garantem pelo menos uma indicação ao Oscar.

Triste, não?

Desenvolver uma história que serve apenas como passarela de moda. Certamente, Diana merecia mais.

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