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Entediante, Doces Magnólias constrói narrativa sem drama

Leia a crítica da segunda temporada da série da Netflix

Pesquisa rápida: qual é o seu personagem favorito da série de televisão Os Simpsons?

Seria o bom e velho Homer, o patriarca da família Simpson que é o sinônimo da idiotice (assumida) do chamado americano comum? Ou Bart, o garoto travesso que adora tirar vantagens em todas as situações? Talvez o mesquinho milionário Montgomery Burns? Apu, o dono do mercadinho? Milhouse, melhor amigo de Bart que sempre leva a pior toda vez? A professora Edna Krabappel, sempre mal-humorada e indisposta? Moe, dono do bar que é a segunda casa de Homer? Nelson Muntz, o garoto mais velho que atazana seus colegas de escola? Ou mesmo Krusty, o apresentador palhaço que é ídolo de Bart Simpson?

Seja qual for sua escolha, raramente vemos alguém escolher o certinho Ned Flanders – provavelmente o melhor vizinho do mundo – como o seu predileto.

Longe de diminuir a importância de um personagem tão emblemático para a série de televisão que está no ar já faz mais de trinta anos, até mesmo porque temos algumas das melhores interações na série animada, quando analisamos Homer e Ned, frente a frente. O pai da família protagonista geralmente quer “matar” seu amável vizinho do tipo bom samaritano toda vez que ele abre a boca para falar (praticamente) qualquer coisa.

Toda vez que isso acontece, reparamos a inteligência dos criadores de Os Simpsons em colocar ambos em rota de colisão, pois só assim podemos notar certas críticas feitas ao comportamento imaturo e invejoso de Homer, como da mesma forma podemos constatar os exageros absurdos do cristão fervoroso Ned como pai de família.

Resumindo: um necessita do outro para que, nós, como espectadores possamos refletir alguns de nossos comportamentos diários diante daqueles que convivem ao nosso redor.

Aí está o gigante problema de Doces Magnólias, série de drama romântico que acaba de disponibilizar sua segunda temporada no catálogo Netflix, uma vez que na produção americana só testemunharemos um bando de Ned Flanders por toda parte.

Consequentemente, um material sem qualquer traço de contraponto, o que (naturalmente) só diminui a força narrativa da série da Netflix, que parece mais preocupada com soluções fáceis do que em transitar pelos diferentes níveis dramáticos das personagens, algo que facilitaria muito nossa relação com as histórias do trio Maddie (JoAnna Garcia Swisher), Helen (Heather Headley) e Dana Sue (Brooke Elliott), três amigas de infância que conciliam a vida amorosa, familiar e profissional na pequena e charmosa cidade de Serenity, no estado da Carolina do Sul, Estados Unidos.

As três amigas

Como infelizmente não encontraremos grandes ou até mesmo excitantes conflitos pela segunda temporada de Doces Magnólias, apenas resta para os assinantes da Netflix acompanhar sem qualquer tipo de envolvimento emocional cada um dos rolos românticos, além dos causos que circundam à pacata Serenity (no traduzido, Serenidade) e seus habitantes cristãos.

Entre as três, a protagonista principal interpretada por JoAnna Garcia Swisher é aquela que dispõe dos “conflitos” mais esquecíveis; na realidade, o único desafio que teve em toda a temporada foi com seu filho mais novo – papel do garoto Logan Allen – com quem está tendo algumas dificuldades de comunicação recentemente.

Já Helen apresenta alguns conflitos um pouquinho mais empolgantes de se acompanhar, que incluem à dificuldade que encontra para se tornar uma mãe, enquanto se apaixona por uma nova pessoa. Sua intérprete Heather Headley, decididamente entrega para o público fã da série de drama romântico aquela que deve ser considerada a melhor performance de todo o elenco, pois só através dela que poderemos encontrar algumas sutis nuances que elevam suas dores e dúvidas como algo mais relacionável.

Serenity – A Cidade dos Pecadores (facilmente) Perdoáveis

Muito provavelmente notaremos que o público que assiste e curte Doces Magnólias, deve ser o mesmo que se encanta com a competente série da Netflix Virgin River, também um drama romântico focado na protagonista Mel que respondeu a um anúncio para trabalhar como parteira e enfermeira na remota cidade de Virgin River, no norte do estado da Califórnia.

Apesar das semelhanças óbvias, tanto de gênero quanto do tipo de ambiente onde acontecem tais relatos dramáticos, observamos que as duas não poderiam ser mais diferentes, em vista que Virgin River realmente trabalha seu drama – que no grego, significa ação – que se desenrola a partir de um conflito, num tempo determinado; enquanto Doces Magnólias expõe tais perturbações emocionais, para logo em seguida vir com uma saída fácil, geralmente pelo amor dos amigos próximos, ou mesmo de algum novo (ou velho) interesse romântico que aparece no pedaço.

Portanto, nada é realmente trabalhado, logo vemos uma solução rápida vir com poucas palavras de sabedoria de algum outro personagem coadjuvante que está relacionado diretamente com a trinca Maddie, Helen e Dana Sue. Lamentavelmente, isso perdura por toda a temporada composta de dez episódios extremamente maçantes.

Conclusão

Diferentemente do longa-metragem Milagre Azul – comovente drama cristão produzido pela Netflix – Doces Magnólias não dispõe de qualquer urgência percorrendo pelo eixo da história. Tudo é muito morno, quase esfriando para que o público sinta alguma necessidade de se apegar com qualquer uma das vidas do trio principal, assim como de outros personagens de menor destaque.

A série que mistura drama com romance feita originalmente para a Netflix faz jus ao título, de maneira que é realmente doce. Contudo, nessa hora, lembremos daquilo que nossas avós diziam sobre comer muito doce, que possivelmente acabará dando uma baita dor de estômago na gente.

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