Críticas

40ª Mostra de SP | Crítica: Gaga – O Amor Pela Dança

A arte é um dos instrumentos mais poderosos do mundo, é capaz de contemplar diferentes fins, tendo a capacidade de modificar de muitas formas aquilo ou aquele que a toca. Gaga – Amor Pela Dança é um documentário que mostra como a arte, por meio da dança, consegue atingir tais feitos através de um dos maiores coreógrafos de todos os tempos.

No filme, o diretor Tomer Heymann retrata de forma expositiva a vida de Ohad Naharin, coreógrafo israelense da Companhia de Dança Batsheva. Mesclando imagens das apresentações coreografadas por Ohad, imagens dele dançando, entrevistas, imagens de acervo, e o uso da sua própria voz em off, o documentário busca fazer um panorama do que foi e ainda é a dança na vida de Ohad e como ela repercutiu ao longo dos anos pelo mundo.

Com passagens belíssimas de vídeos de alguns de seus espetáculos, o filme traz um aspecto poético que, composto à narração de Ohad, consegue transmitir toda a sensibilidade presente no universo do artista. Em uma das falas de Ohad no começo do filme, o coreógrafo diz que o pior ano de sua vida foi quando ele dançou por uma companhia em Nova York que não condizia com seu gosto e estilo. Após isso, ao longo dos anos, Ohad decide então desenvolver e coreografar suas próprias apresentações, se tornando posteriormente um dos mais influentes coreógrafos modernos.

A palavra Gaga nada mais é do que a denominação da linguagem que Ohad desenvolveu para se relacionar com a dança. Segundo Ohad, sua linguagem dispõe de sua coreografia, trabalhando no mesmo campo que a interpretação pessoal de cada pessoa, sendo assim, muito mais que somente a utilização da técnica, Gaga se desenvolve como um método que busca extrair o que há de interno no sujeito e externalizar isso através da dança.

O documentário mostra toda a trajetória de Ohad, desde suas apresentações em Nova York, onde lá começou sua relação com a dançarina Mari Kajiwara, até seu retorno a Israel, onde passou a dirigir uma companhia e se relacionar com sua atual esposa, a também dançarina Eri Nakamura. Em todos os momentos, são mostradas imagens de sua preparação com seus aprendizes.

Nas imagens dos ensaios de seus espetáculos, é incrível ver como Ohad consegue reger seus dançarinos, fazendo com que eles consigam ter um controle do próprio corpo de forma surpreendente. A junção desse autocontrole com a sua capacidade criativa gera então apresentações impressionantes, que certamente marcaram a dança contemporânea. Tanto marcaram que Ohad serviu até como um símbolo da luta contra o extremismo religioso em seu país, transformando sua dança também em arte política.

Gaga – O Amor Pela Dança mostra que, no evento comemorativo dos 50 anos de Israel, Ohad é convidado a se apresentar junto de sua companhia. Nas vésperas do espetáculo, o presidente israelense compele Ohad a substituir o figurino de seus dançarinos – que era uma cueca – por uma vestimenta que não ofenda sua religião. Ohad e sua equipe decidem então não se apresentarem no evento. Atitude que imediatamente serviu como impulsor de manifestações contra a censura religiosa em seu país.

Outro fator de extrema relevância que se pode notar é que ao longo do filme a linguagem corporal Gaga se mostra como uma dança que tem um alto potencial de cura; esse envolvimento do individuo com o seu corpo e essa carga que é depositada na dança, passa a relacionar sua prática com o prazer e não com a técnica e o esgotamento físico.

Sendo um documentário biográfico, o grande mérito do diretor Tomer Heymann mora justamente no fato de ele ser capaz de transmitir toda a relevância que Ohad adquiriu em seu meio e fora dele. Heymann consegue evidenciar as conquistas de Ohad combinado a um mergulho na experiência estética de sua linguagem corporal expressa por suas apresentações.

Sendo assim, Gaga – O Amor Pela Dança é um grande exemplo de um documentário biográfico que consegue mesclar de maneira harmonizada diferentes formas de abordagem.

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