Críticas

40ª Mostra de SP | Crítica: The Young Pope

Paolo Sorrentino tornou-se uma espécie de marca no cinema autoral. Após o bom e “oscarizado” A Grande Beleza, o cineasta italiano começa a mostrar um elevado grau de autoindulgência, algo já bastante presente em A Juventude. No entanto, essa característica que lhe concede uma marca do bom gosto, faz com que Sorrentino possa ao mesmo tempo fazer uma série para a HBO e rodar por grandes festivais internacionais, como Veneza e a Mostra de SP.

The Young Pope é uma espécie de cartilha do sucesso, tanto para o cinema autoral, quanto para as séries do momento, e isso não necessariamente significa algo. A trama gira em torno de Lenny Belardo, o jovem papa referenciado no título , que começa seu papado com o nome de Pio XXIII, fato que já coloca o líder da Igreja Católica numa linhagem bastante perigosa de ultra conservadorismo.

Lenny é o típico personagem que funciona nas séries de hoje em dia, o famoso homem mau. Nesses dois episódios exibidos durante a Mostra, o que se vê é um homem, que apesar de sua pouca idade, desafiará através de seu forte autoritarismo toda a politicagem e corrupção dentro da Igreja. Quem sabe ao decorrer da série, Lenny seja um homem que escreve certo por linhas bem tortas.

A exemplo de seu protagonista, The Young Pope tenta construir uma gama de personagens complexos, que escondam minimamente um segredo, a fim de evitar uma possível construção plana. Como o caso do cardial Voiello, que parece uma importante e ambiciosa peça do xadrez político do Vaticano, no entanto aos poucos vai mostrando um lado muito mais interessante, como seu fanatismo pelo time do Napoli de futebol, mas principalmente por cuidar de um parente com paralisia cerebral. E aí reside o grande incômodo em The Young Pope, para construir um personagem interessante a obra opta pelos caminhos mais fáceis, detalhes que por uma condição moral e apelativa conectam personagem e espectador sem questionamentos.

Isso não ocorre apenas com Voiello, mas com a maioria dos personagens principais, como não entender Lenny, que fora abandonado pela família ainda pequeno e vê seu primeiro momento de glória. Assim, na busca por uma complexidade vistas em outras séries, o roteiro de The Young Pope constrói personagens da maneira mais fácil de conquistar o espectador.

Dentro dessa estrutura temática/narrativa, o que se demonstra bastante interessante é como a série faz uma crítica a Igreja no momento em que ela tenta justamente mudar sua imagem. Sorrentino traz a tona todos os aspectos questionáveis daquela instituição, como se fosse uma forma de fazer lembrar tudo o que era escândalo antes do famoso Papa Francisco, a obra cria a hipótese de como seria o Vaticano se no lugar do atual e liberal Papa fosse escolhido alguém como Lenny.

Além disso, outro grande mérito de Sorrentino em The Young Pope são os breves momentos que capta detalhes da rotina daqueles cardiais. Com algumas tomadas em câmera lenta, o diretor mostra minúcias e ações que já revelam muito sobre os habitantes, clérigos e políticos do Vaticano, onde nem sempre a santidade está em primeiro lugar. Isso surge apenas como mais um comentário de Sorrentino acompanhado de tantos outros, a maioria sem sucesso.

Muitas vezes o cineasta italiano, na sua eterna tentativa de ser Fellini, busca a ultra elaboração estilística, realizando planos que pretendem mostrar apenas a arquitetura daqueles edifícios históricos, assim como só revelam que o fim daqueles movimentos mirabolantes servem apenas como autoindulgência. Sorrentino é um cineasta que está ficando cego por tentar encontrar a beleza, o rebuscamento é tão grande que surgem movimentos, enquadramentos e iluminações que aparecem de forma totalmente gratuita. Algo que até se enquadrava em A Grande Beleza e até mesmo em A Juventude, mas não em The Young Pope.

Assim, se grandes obras do período barroco estão presentes por todos os lados do Vaticano, Sorrentino parece construir uma série muito mais próxima do rococó. Em que o estilo tem seu fim nele mesmo, não alcançando o sentimento através de movimentos, cores e iluminação como em Caravaggio, mas apenas provando que com o trabalho cinematográfico é mais do que artesão. Algo que encanta os adeptos do bom gostismo, porém que não revela qualidade.

Na incompletude de se analisar apenas dois episódios de uma série, até aqui Yhe Young Pope parece um produto fruto de algo que almeje consagrar e popularizar a marca de Paolo Sorrentino, utilizando de todos os elementos que funcionam numa série de grande porte e extrapolando ainda mais seu característico estilo. Algo que pode se tornar um grande perigo ao longo dos próximos episódios e mostrar que The Young Pope não é uma aposta tão certa quanto parece.

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