Peter Pan, o personagem criado pelo dramaturgo escocês J. M. Barrie, não queria crescer. E o mais recente filme baseado neste icônico personagem da dramaturgia infanto-juvenil e mundial também não cresceu tanto quanto poderia e mereceria crescer. Infelizmente, uma ótima premissa foi desperdiçada por uma produção mal cuidada.
Peter (Levi Miller, em sua estreia nas telonas como protagonista) é abandonado em um orfanato por sua mãe, Mary (Amanda Seyfried, de Cartas Para Julieta). Anos depois, em plena 2º Guerra Mundial, ele aguenta as condições ruins e os maus tratos das freiras do local a espera do retorno de sua mãe. Mas algo acontece com os meninos deste orfanato. Uma noite, Peter acaba descobrindo o que é. Os garotos são levados para a Terra do Nunca em um navio pirata voador capitaneado por Bishop (Nonso Anozie, de Cinderela). Lá, eles têm que trabalhar nas minas do Barba Negra (Hugh Jackman, de Os Miseráveis). Trabalhando nas minas, ele conhece e é ajudado por outro minerador chamado Hook (Garrett Hedhund, de Na Estrada). O que é retirado das minas pelas crianças é fiscalizado por Sam Smiegel (Adeel Akhtar, de O Ditador). Após uma confusão nas minas, Peter acaba sendo levado ao Barba Negra que o pune e acaba revelando um lado deste que ele mesmo desconhecia.
Vou parar por aqui para não revelar mais sobre a história escrita por Jason Fuchs. Este norte-americano, de Nova York. é ator e esta, ultimamente, se aventurando nas letras. Ele concebeu uma ótima explicação para a origem de Peter Pan. Ótima artística e comercialmente falando, porque é uma história que fluiria perfeitamente se não tivesse sido estragada pela direção de Joe Wright.
O diretor inglês, de filmes como Orgulho e Preconceito e Anna Karenina, que também são baseados em livros, tem experiência neste tipo de produção, portanto. Mas, parece que ele sucumbiu a grande pressão que esta em particular gerou no público e na indústria cinematográfica. E acabou deixando passar imperfeições imperdoáveis para uma produção dessa magnitude.
Em algumas cenas, apesar da maioria ser muito bem filmada, os efeitos visuais foram mal realizados. Há cenas em que os rostos dos atores estão completamente chapados, ou seja, não existem sombras, quando claramente deveria ter. O que é de se estranhar, quando existem cenas em que os efeitos especiais estão magníficos. O coordenador de efeitos visuais foi Joe Carl Abou-Sakher, sendo este o seu primeiro trabalho. Percebe-se, claramente, a sua falta de experiência na tela.
Mas não foi só neste aspecto que Peter Pan teve problemas. A montagem realizada por William Hoy e Paul Tothill também tem. Muitas e muitas transições de cenas são completamente duras, secas, inclusive sendo feitas no meio de falas e da trilha sonora. Mas o que surpreende é que eles trabalharam, respectivamente, em filmes como 300 e Orgulho e Preconceito. Portanto, eles têm experiência de sobra para fazer uma boa edição de filme. Mas, juntos, não fizeram.
Como dito anteriormente, muitos efeitos especiais estão incrivelmente bons. O que é de se estranhar, mas não se deveria se todo o filme estivesse impecavelmente bem feito. O que consegue amenizar a má impressão, também, é a trilha sonora composta por John Powell, o mesmo de muitas animações, como as franquias Era do Gelo e Rio. Os problemas dos aspectos técnicos chamam tanta atenção de quem assiste ao longa que é até difícil avaliar as interpretações dos atores.
Levi Miller faz uma criança realmente. Ele não está um adulto em miniatura em cena. Hugh Jackman, porém – até refletindo os problemas de direção de John Wright – não parece ter se encaixado direito no papel de Barba Negra. Garrett Hedhund já está melhor em seu papel. Pode ser porque este exigia mais ação e ele conseguia atender o que era pedido. Outros atores, como a atriz Rooney Mara (Millennium: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres), que faz o personagem Princesa Tigrinha, estão maravilhosos e entenderam bem os papéis. Rooney, apesar não se parecer em nada com o personagem original, o faz com dignidade e altruísmo como é pedido por ele.
Por ser uma história interessante e ter bons efeitos especiais, pode ser que as crianças gostem bastante do filme e nem percebam os problemas apontados nesta crítica. Mas, ao se criar uma origem para Peter Pan, o que não se poderia errar era justamente na magia. Uma pena.