Críticas

Crítica | A Origem do Dragão

Há algo extremamente especial na figura de Bruce Lee, algo que o transforma em muito mais do que um simples ator de filmes de ação. Há ali uma aura, há ali um símbolo de tudo que ele já fez, uma figura essencial do cinema de ação, um espetáculo calcado nas habilidades daquele interprete que resultaria em gerações e gerações de filmes como os protagonizados por ele. Um nome fundamental que transformou o cinema de ação ocidental e trouxe renome para a produção realizada em Hong-Kong.

Dessa forma, há uma espécie de sombra em torno dessa figura, como se nunca fosse capaz de ultrapassá-la, algo que vez ou outra faz com que alguns longas tentem retomar esse grande mestre. É o caso de A Origem do Dragão que foca nesse personagem quando ele ainda não tinha atingido a fama que tem hoje, embora ali já estivesse atuando em alguns filmes. O longa é vendido como o confronto entre Lee e um mestre Kung-fu exilado na América após cometer um grave erro em seu mosteiro, Wong Jack Man. Nesse sentido o filme parece realmente um panfleto que anuncia constantemente um confronto, quando na verdade está interessado em outras coisas.

Talvez essa seja a principal dificuldade encontrada pelo filme, saber realmente aquilo que deseja contar, quais caminhos seguir e como utilizar essa figura tão canônica. O que aparenta é apenas uma utilização desse fato verídico para realizar um outro filme, que não necessariamente está tão interessado no confronto entre Lee e Wong Jack Man. Confronto este que marcaria a oposição entre o clássico, a tradição oriental, contra as reformulações propostas por Lee e sua incorporação na engrenagem pop do ocidente, algo apenas tangenciado pelo longa, mas que funciona como isca para este filme existir.

Nesse encontro entre os mestres das artes marciais parece haver um interesse muito maior em fazer um jogo moral, acentuar como Bruce Lee nesse início da carreira parecia seguir por caminhos egocêntricos, enquanto o outro ainda guarda valores essenciais, algo que aprendeu às duras penas após muitos erros que não gostaria que Lee também passasse. Enquanto isso há a história dos alunos do astro do cinema, um com problema com os pagamentos para a máfia chinesa e outro apaixonado por uma garota que também deve cumprir obrigações com o grupo de criminosos, ficando presa num restaurante até que pague sua dívida.

A Origem do Dragão então vive nessas várias linhas narrativas que até tentam se conectar, mas parecem nunca definir o que de fato é importante para aquele longa. Busca-se uma certa estratégia para falar sobre Bruce Lee mas também construir momentos em que grandes lutas possam acontecer, assim como era visto nos longas protagonizados por este lendário ator. Algo que faz com que o espectador se perca até mesmo no tom do filme, não compreendendo se ali existe alguma pretensão de registrar quem era Bruce Lee de fato, ou se o longa é apenas outro exemplar de um longa de ação.

Nesse meio termo há uma clara evidência da incapacidade de A Origem do Dragão em fazer um retrato de seu homenageado. Essa questão entre a ação e a biografia surge mais como fruto de uma impossibilidade do que de uma escolha. O longa de George Nofil prefere então se utilizar do personagem feito por Bruce Lee, algo como uma caricatura daquele ator, confundindo a persona com o interprete em si. Nisso A Origem do Dragão parece muito mais um longa que gostaria de contar com Bruce Lee do que uma obra sobre este ator.

Assim, o que se vê é um filme que tenta imitar uma obra de Bruce Lee e nisso perde-se totalmente qualquer possibilidade de criar algo interessante. Algo totalmente previsível, uma vez que o ator Philip Ng claramente não tem as mesmas habilidades do interprete, nem representa algo novo como o ator representava naquela época. Há também a impossibilidade do diretor fazer com que as cenas de ações transformem-se em balés como era visto no estilo cru de luta existente em filmes como Operação Dragão, aqui há um apelo para a montagem acelerada, para os cenários exagerados forçando uma representação de época dos bairros chineses existentes nos EUA e a péssima utilização de tiradas cômicas que mais uma vez destoam de um tom que nunca se define.

Por fim, A Origem do Dragão é um filme canastrão que se utiliza dessa sua figura para tentar atrair público, assim como um panfleto de uma falsa luta livre que quer parecer verdadeira. O longa faz com que seja mais uma vez sentida a falta de Bruce Lee e seus famosos longas de ação, algo que não pode ser imitado nem copiado.

Escolha o Streaming e tenha acesso aos lançamentos, notícias e a nossas indicações do que assistir em cada um deles.