Críticas

Crítica | A Senhora da Van

A Senhora da Van é um filme tipicamente britânico. Leve, divertido, com aquele humor bem característico e uma grande personalidade do cinema britânico, Maggie Smith que, no auge de seus 81 anos, sustenta esse delicado filme.

Essa comédia produzida pela BBC narra a inusitada história de uma senhora que vive por anos em sua van após se envolver em um acidente de trânsito. O filme já começa com uma piada bem agradável ao relatar que a obra é em sua maior parte baseada em eventos reais. E é desses inesperados jogos com a própria narrativa que o filme cresce mais que o esperado.

A história é narrada do ponto de vista de Alan Bennett, um escritor que, mesmo sem não gostar muito, compadece-se com a senhora da van. Bennett se divide em dois, o escritor e o homem que vive, e é da observação dos dois diante daquela situação que saem os diálogos e observações mais interessantes do filme, de modo sarcástico ouvimos a narração do Bennett escritor comentando a estranha relação entre ele e incomum senhora da van.

E essa relação incomum é o fio condutor de todo o longa. A senhora toda rabugenta e que em seus atos demonstra certa insanidade revela-se atrás dessa máscara uma idosa muito mais perspicaz do que toda a vizinhança que ela costuma frequentar, e do outro lado o sujeito sarcástico, estranho, mas que é incapaz de ser tão indiferente diante da situação daquela mulher. É nesse embate de personalidades tão diferentes que ambas as personagens vão crescendo ao longo da projeção.

Bem verdade que A Senhora da Van é um filme esquemático, mas não deixa de ter seu charme, principalmente pelo carisma e competência de seus atores principais. Maggie Smith e Alex Jennings (Bennett) realizam atuações bem humoradas e muito bem entrosadas, Jennings através de pequenos gestos consegue demonstrar seu afeto diante daquela senhora, sem exageros, em contra ponto com a presença de Smith que se entrega aos trejeitos, quebrando totalmente a expectativa. Os dois realizam uma ótima e divertida dupla que só agrega ao filme. Assim, o carisma de Maggie Smith vai cativando o público ao longo de A Senhora da Van. O longa é divertido e sensível, a sequência de Bennett empurrando sua senhora de cadeira de rodas por uma ladeira, como se aquilo fosse uma brincadeira de duas crianças, é bela e arranca sorrisos da audiência.

Despretensioso, A Senhora da Van surpreende também com algumas tiradas mais inteligentes, que abordam metalinguagem, já que Bennet seguindo seu instinto logo transforma sua relação com a idosa numa de suas obras. O filme ora faz o espectador entender que está vendo aqueles acontecimentos pela primeira vez, ora dá a entender que o que está se passando na tela são os fatos narrados pelos olhos de outrem. E esse jogo faz o filme ainda mais agradável.

E talvez agradável seja a palavra exata para definir A Senhora da Van. Um filme divertido e sensível que vai muito bem como acompanhamento para um chá das cinco.

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