Críticas

Crítica | Amor em Sampa

São milhares de pessoas se cruzando a cada segundo. Culturas, línguas, gostos e origens tão diversos que fazem da cidade de São Paulo – a maior metrópole do país – uma colcha de retalhos multicolorida. Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a terra da garoa está prestes a bater a marca de 12 milhões de habitantes. A ficção de Amor em Sampa pesca da multidão histórias possíveis.

O longa-metragem roteirizado por Bruna Lombardi (Onde Está a Felicidade?, de 2011) é uma comédia musical. Então, não é surpresa que as canções ditem as regras desde a sequência de abertura. O espectador é apresentado ao grande inimigo diário do paulistano: o trânsito caótico. A edição rápida em cima da música e os takes acelerados transmitem com eficácia o ritmo frenético da capital.

Em meio ao calor e buzinas, há quem xingue e quem nem ligue mais. Cosmo (interpretado por Carlos Alberto Riccelli) faz parte desse segundo grupo. Ex-funcionário de escritório, largou tudo para virar taxista e se apaixonou por dirigir pela cidade. A narração em off e o próprio personagem nos conduzem nos primeiros minutos. Aliás, no caso de Carlos, “dirigir” ganha um outro sentido também: ele assina a direção do filme junto de Kim Riccelli.

Sem grandes reviravoltas, o roteiro não surpreende, mas acerta ao conseguir conectar os núcleos de forma natural por meio de Cosmo. Um renomado publicitário, Mauro (Rodrigo Lombardi) quer transformar seu próximo projeto na realização de um sonho: uma campanha de transformação social. Mas só prestigio no ramo não faz o projeto andar, Mauro precisa de dinheiro e para isso terá que convencer Aniz (Bruna Lombardi), empresária e maior cliente da agência. Enquanto Mauro tenta sensibilizá-la, Aniz luta manter o controle sobre os negócios e tem suas decisões confrontadas por Lucas (Eduardo Moscovis), um homem ambicioso que domina o jogo coorporativo e aposta na sedução para conseguir o que quer.

O elenco de Amor em Sampa conta com outros nomes de peso: Bianca Müller, Letícia Colin, Marcello Airoldi, Mariana Lima e Tiago Abravanel. Eles dão vida às diversas histórias que acontecem ao mesmo tempo, desde a aventura de duas jovens que querem ser atrizes até um casal homossexual prestes a se casar. As atuações são competentes mesmo quando apoiadas em estereótipos.

A fotografia de Marcello Trota explora ora o cinza do asfalto, ora as cores que estampam lugares conhecidos da cidade, entre eles Avenida Paulista, Parque do Ibirapuera e Sala São Paulo. O filme abusa de imagens aéreas e demonstra a dimensão de Sampa. Somada à direção de arte de Frederico Pinto, Trota extrai ótimas cenas. Sem medo de mergulhar naquilo que melhor traduz uma cidade: sua gente.

Amor em Sampa não é um filme complexo e não se arrisca muito. A obra dá espaço às histórias que passam despercebidas em meio a correria. Uma das cenas da cantora paraense Michele Mara, a cozinheira Conceição, transpira essa intenção. Ela solta a voz e mostra todo o talento que, como de muitos paulistanos, passa despercebido debaixo de um uniforme.

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