Se por acaso formos atrás das definições e diferenças entre hard rock e heavy metal, encontraremos as seguintes descrições:
Hard rock é um subgênero vagamente definido da música rock, tipificado por um uso pesado de vocais agressivos, guitarras elétricas distorcidas, baixo e bateria, às vezes acompanhados de teclados. Suas origens surgiram dos meados da década de 1960, através dos movimentos do rock de garagem, psicodélico e blues. Algumas das primeiras músicas de hard rock foram produzidas por Kinks, The Who, Rolling Stones, Yardbirds, Cream e Jimi Hendrix Experience. No final da mesma década, bandas como Jeff Beck Group, Beatles, Led Zeppelin, Steppenwolf e Deep Purple também produziam hard rock.
Enquanto heavy metal é um gênero de música rock que se desenvolveu no final dos anos 1960 e início dos anos 1970, principalmente no Reino Unido e nos Estados Unidos. Enraizado no blues rock e rock psicodélico, as bandas de heavy metal desenvolveram um som denso e massivo, caracterizado por distorção, solos de guitarra estendidos, batidas enfáticas e volume alto. Geralmente, suas letras e performances eram associadas à agressividade. Entre as bandas pioneiras do subgênero, temos: Black Sabbath, Alice Cooper, Kiss, Judas Priest, Motorhead, Iron Maiden e Saxon, para citar apenas alguns nomes.
Não estranhem se após ler estas descrições e acima de tudo, escutarem o material destas bandas precursoras de ambas categorias, e ainda assim, sentirem alguma dificuldade para perceber e encontrar as diferenças entre elas. Especialmente aqueles que estão sendo apresentados ao estilo de música pela primeira vez.
Ainda assim, é natural que se reforce a ideia de que existem, sim, algumas particularidades distinguidas por certos fatores técnicos, o que não afeta ou influencia em nada o prazer do ouvinte em poder transitar entre estas diferenças, aproveitando o que de melhor cada uma destas pode oferecer subjetivamente.
Mas, se pudermos simplificar nos mais práticos termos, podemos dizer que hard rock dispõe de mais espaços e respiração, revelando uma possibilidade maior de imersão no som; ao passo que heavy metal entrega algo mais ruidoso, executando suas composições com uma dinâmica (bem) mais frenética.
Ambas são analogias que definem com maior facilidade a carreira do roteirista e diretor Aaron Sorkin, que começou mais heavy metal, e hoje, tenta se desenvolver mais fluentemente através de narrativas hard rock.
Apresentando os Ricardos da Amazon Prime Video, terceira direção de Sorkin, narra a história de amor e tensão entre Lucille Ball (Nicole Kidman) e Desi Arnaz (Javier Bardem) enquanto enfrentam uma crise que poderá pôr fim às suas carreiras e também ao seu casamento durante uma semana difícil na produção de seu seriado inovador “I Love Lucy”.
Precisamos falar sobre Aaron Sorkin
Existe um clamor quase religioso, assim como também uma ojeriza muito grande quando anunciamos o nome de Aaron Sorkin, um dos roteiristas mais respeitados e renomados deste século, que entregou algumas preciosidades do nível de Jogos do Poder (2007), Steve Jobs (2015), além do excepcional A Rede Social (2010), seu trabalho mais superlativo na carreira.
Também foi o criador de algumas séries televisivas distintas, como West Wing: Nos Bastidores do Poder (1999 – 2006) e The Newsroom (2012 – 2014), por exemplo.
Sorkin é conhecido por escrever falas memoráveis e diálogos rápidos, como “Você não consegue lidar com a verdade!” de Questão de Honra (1992) de Rob Reiner, ou “Você tem parte da minha atenção, você tem a mínima quantia!” de A Rede Social de David Fincher.
Seu estilo também atrai alguns críticos que apesar de julgarem seus trabalhos qualificados, criticam ele por entregar frequentemente roteiros exagerados.
Atualmente, Aaron Sorkin tem se aventurado bem além da página em branco, já que por incentivo do amigo e colega de profissão David Fincher, começou a explorar a ideia de também dirigir filmes, tarefa muito (!) mais complexa do que escrever diferentes e boas histórias.
Apresentando os Ricardos, assim como seu trabalho anterior Os 7 de Chicago (2020), disponível na plataforma Netflix, mostra um lado mais comedido de Sorkin, que continua expondo algumas cenas mais enérgicas com palavras metralhadas por toda a cena, ainda assim, podemos analisar alguém tentando se moderar com o intuito de também trabalhar sua narrativa sob novas dinâmicas.
Esta nova produção original da Amazon Prime Video é completamente diferente de A Grande Jogada (2017), sua competente estreia na função de diretor, onde parecia um trem descarrilado tamanha a quantidade de palavras, imagens, informações e viradas que testemunhávamos através dos olhos e ouvidos.
Na produção atual estrelada pelo par Nicole Kidman e Javier Bardem percebemos que cada vez mais ele vem arriscando ser um pouco menos literal, trabalhando mais com os subtextos do enredo. Funcionou melhor aqui do que em Os 7 de Chicago, por uma única e exclusiva razão: a grande estrela de cinema no centro dessa história.
Precisamos falar sobre Nicole Kidman
A atriz de 54 anos de idade de pais australianos, nascida em Honolulu, no Havaí, está adentrando o seleto grupo de profissionais das artes cênicas que apresentaram performances espantosas através das palavras e guia de Aaron Sorkin, que incluem: Jessica Chastain, Idris Elba, Kevin Costner, Sacha Baron Cohen, Yahya Abdul-Mateen II, Mark Rylance, Joseph Gordon-Levitt e Frank Langella.
Não tenham dúvidas que nos momentos onde a direção de Sorkin escorrega na transmissão de algo mais vibrante, temos uma singular Nicole Kidman para salvar o dia!
Sua sincronia com Javier Bardem flui facilmente em Apresentando os Ricardos, mas são nos momentos mais intimistas e vulneráveis que conseguimos notar o que de melhor ela tem a oferecer à história de um casal que vive na lâmina da faca em todos os aspectos, até mesmo porque a vida pessoal e profissional de ambos são a mesma, como diz o próprio título original Being the Ricardos (no traduzido, ‘Sendo os Ricardos’).
O criador Aaron Sorkin faz desta produção original da Amazon Prime Video, uma plataforma para comentarmos sobre casamento, show business, confiança, lealdade, política, perseguição, mas acima de tudo, mostrar seu valor quando as expectativas e probabilidades jogam contra.
Obviamente, nem tudo foi tão bem diagramado por Sorkin em Apresentando os Ricardos, tirando Nicole Kidman, que consegue brilhar à sua maneira, sem imitar cada um dos traços da icônica Lucille Ball.